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Carta aberta a Guilherme Bellintani

Redação iBahia • 03/09/2020 às 11:13 • Atualizada em 26/08/2022 às 23:40 - há XX semanas

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Meu querido presidente,

Como todos os que querem verdadeiramente ajudar, serei franco e direto: não adianta apenas demitir Roger e substitui-lo por outro. Você faz parte do problema, e sendo assim você também precisa mudar.

Você já parou pra pensar por que o Bahia apresenta resultados tão distintos na área administrativa e no seu futebol ? Vários motivos podem explicar isso, mas certamente um dos mais importantes é a diferença que existe entre o CLUBE e o TIME. O sucesso de cada um deles é explicado por fatores diferentes, e normalmente o que funciona bem para um vai mal no outro.

O que você tem feito para o CLUBE é admirável. Sob sua gestão, o Bahia se posicionou como uma entidade respeitável, maximizou suas receitas, qualificou seu patrimônio, ampliou sua participação na sociedade, serviu de porta voz para causas dignas e humanitárias, construiu um plano estratégico baseado em um orçamento realista, abraçou causas coletivas (dentro e fora do esporte) e cercou-se de bons profissionais nas mais diversas áreas. E tudo isso dentro de um ambiente de gestão marcado pela democracia, transparência, governança e responsabilidade.

Distribuiu sorrisos e recebeu abraços. Tornou-se um clube simpático e acolhedor, como devem ser todos aqueles que pensam no coletivo e desejam transformar as sociedades das quais fazem parte.

Mas o esporte de alto rendimento não é construído com sorrisos. Para ser competitivo, times e atletas precisam de outros sentimentos. Acima de tudo, eles precisam sentir medo, dito aqui no melhor dos sentidos. Medo do fracasso, medo da irrelevância, medo da derrota. Atletas e times vencedores são ambiciosos, individualistas, obcecados pela vitória. A derrota dói ... Dormem e acordam pensando em vencer, empurram seus limites pois nunca estão satisfeitos com seu desempenho, cobram de si próprios e dos outros que sejam cada vez melhores. Tratam seu oponente com respeito, e o respeitam dando o máximo de si para vencê-los em todas as ocasiões. Se o CLUBE precisa de braços abertos, o TIME precisa de caras fechadas...

Assim, o CLUBE e o TIME terão sucesso se forem geridos de forma diferente. Mais do que possível, isso é necessário. E essa é a grande falha da sua gestão. O modelo implantado no Bahia fez muito bem ao CLUBE, e muito mal ao TIME. Ninguém consegue sozinho conduzir bem esses dois mundos tão distintos. Cuida da gestão quem entende de gestão; cuida do Futebol (com F maiúsculo mesmo) quem entende de Futebol. Simples assim. E o Bahia hoje não tem uma liderança que verdadeiramente entende de Futebol. É isso que precisa mudar, e não apenas definir quem será o novo técnico.

Seu amor pelo clube é claro e evidente. Ninguém duvida da nobreza das suas intenções. Mas você não é nosso torcedor mais ilustre. Você é nosso PRESIDENTE, e como tal precisa pensar e agir. Participar de rachão e levar carrinho de zagueiro ?? Não falar o nome do nosso principal rival local ?? Ser flagrado com as mãos na cabeça quando o time perde uma partida ? Não, Guilherme. Isso é coisa de torcedor. Essa fase já passou. Vou dizer de novo: você é nosso PRESIDENTE. Entenda a liturgia do seu cargo, e a exerça sem nenhum pudor. Tem certas coisas que você simplesmente não pode mais fazer. Mas tem outras que você precisa começar a fazer urgentemente ...

Já houve tempos em que nossos dirigentes exerciam essa liderança no pior estilo de Dom Corleone. Não é seu caso, em absoluto, e nem deveria mesmo ser. Não há mais espaço para isso. Mas se não há mais espaço no futebol para os velhos Dom Corleone, também não há para um novo Dom Quixote. Não faz sentido vestir essa armadura e ir à guerra contra os moinhos de vento do futebol brasileiro. O sistema é bruto, e os moinhos de vento são altos e fortes demais para serem derrubados apenas por boas intenções. Entre esses dois extremos, certamente há personagens mais adequados. Lembre-se: seu grande legado não é mudar o futebol brasileiro. Seu grande legado é aumentar a relevância econômica e esportiva do seu clube – o Esporte Clube Bahia. E pelo menos por enquanto, seu legado esportivo é irrelevante e desproporcional

à evolução financeira e administrativa já alcançada.

Por favor, mude. Ainda dá tempo de corrigir seus erros. Use uma das suas principais virtudes – a CORAGEM – e mude a gestão esportiva do Bahia. Para alguém que valoriza tanto a análise de dados e a racionalidade na tomada de decisões, no Futebol você não tem conseguido ver a realidade dos fatos. Ao contrário, você tem cometido os mesmos erros porque tem resistido a ver o óbvio. Não confunda convicção com teimosia. Entregue o Futebol a quem realmente entende de Futebol. A vitória da sua gestão (faço questão de usar essa palavra. Vindo de um dirigente, falar triunfo é uma coisa ridícula, infantil, antiquada) é a vitória de um novo modelo de pensar e agir no futebol. Sua derrota abre os caminhos para a volta do discurso fácil, vazio, populista e irresponsável de todos os Dom Corleone que destruíram o nosso clube e nunca mais deveriam voltar. E assim seria uma derrota devastadora.

Saudações tricolores!

Tom Assmar

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