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Com o que sonha o futebol nordestino?

Redação iBahia • 22/09/2020 às 9:35 • Atualizada em 26/08/2022 às 19:42 - há XX semanas

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A repercussão negativa de uma pergunta feita recentemente ao técnico Mano Menezes sobre sua redução salarial para vir treinar o Bahia reacendeu a polêmica sobre as diferenças de tratamento da imprensa entre o futebol do Nordeste e das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Várias e diversas foram as reações, mas em comum havia um sentimento de defesa da nossa região com fortes pedidos de maior respeito ao Nordeste.


Mas de que forma exatamente nos sentimos desrespeitados? Somos de fato uma região menosprezada e tratada de forma injusta, vítimas do preconceito e ignorância do resto do país, ou a atenção que recebemos é proporcional à relevância esportiva e econômica do nosso futebol ? Te convido a pensar sobre esse assunto com a mente aberta e o coração tranquilo. Abaixe as armas ... e vamos combinar que iremos nos ater estritamente ao futebol, ok ? Se apenas isso já dá uma discussão sem fim, imagine incluir aqui outros aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais.


Os 20 clubes que disputam a séria A em 2020 são distribuídos pelos seguintes Estados: 5 em São Paulo, 4 no Rio de Janeiro, 1 em Minas Gerais, 2 no Paraná, 2 no Rio Grande do Sul, 2 em Goiás, 2 no Ceará, 1 em Pernambuco e 1 na Bahia. Portanto, são 10 clubes representando a região Sudeste e 4 a região Nordeste. Segue o fio ...


Se levarmos em consideração apenas os Estados que possuem clubes na Série A, teríamos a seguinte tabela de distribuição:


Distribuição da população

ESTADO POPULAÇÃO % em relação ao Total
SP 46 MM 21,9%
MG 21 MM 10,1%
RJ 17 MM 8,2%
TOTAL SUDESTE 84 MM 40,1%
BA 15 MM 7,1 %
PE 9,6 MM 4,5 %
CE 9,2 MM 4,3 %
TOTAL NORDESTE 34 MM 15,9%

Fonte: acesse aqui.


Como Futebol é cada vez mais um negócio e cada vez menos apenas um esporte, é fundamental também relacionar a quantidade de clubes não apenas com a população dos Estados, mas sobretudo com a sua economia, medida a partir do seu PIB. Isso nos daria uma 2ª tabela:

Distribuição da riqueza (PIB – Produto Interno Bruto)

ESTADO PIB em relação ao Total % POPULAÇÃO %
SP 29,0% 21,9%
RJ 9,2% 8,2%
MG 7,9% 10,1%
TOTAL SUDESTE 46,1% 40,1%
BA 3,7% 7,1%
PE 2,5% 4,5
CE 2,0% 4,3
TOTAL DO NORDESTE8,2%15,9%

Fonte: acesse aqui.

Em resumo, juntando essas duas simples informações, poderíamos criar o seguinte mapa comparativo do atual cenário da Séria A do futebol brasileiro:

INDICADOR SUDESTE NORDESTE
TOTAL DE TIMES 10 4
% DE TIMES 50% 20%
% DA POPULAÇÃO 40,1% 15,9%
% DO PIB 46,1% 8,2%

Não cometerei o erro de chegar a conclusões profundas a partir de dados tão simples e superficiais. Mas vamos combinar que dá pra dizer algumas coisas a partir desses dados.


Em primeiro lugar, não é verdade dizer que o futebol do Nordeste está subrepresentado. O que acontece é exatamente o oposto. Enquanto seus 4 times representam 20% do total de times da nossa principal competição, seus Estados representam apenas 16% da população e 8% da riqueza nacional. Ou seja, a presença do Nordeste no futebol é mais do que o dobro da sua presença na economia como um todo. Vejam que no caso do Sudeste essa relação é praticamente direta (50% dos times para 46% do PIB).


Não por acaso, pelo 3º ano consecutivo a região tem conseguido manter 4 clubes na Série A (2018, 2019 e 2020). Em 2018, seus 4 clubes fizeram juntos 171 pontos, com 2 times rebaixados. Em 2019 foram 173 pontos com apenas 1 clube rebaixado. Veremos o que nos aguarda em 2020, mas pelos resultados alcançados até esse momento em que escrevo (estamos na 10ª rodada) podemos ter esperança de manter uma representação relevante, uma vez que por enquanto apenas o Bahia frequenta momentaneamente o Z-4 (oremos !!!).


Outro ponto relevante é que dos nossos 4 clubes, pelo menos 3 trazem hoje treinadores que frequentam com desenvoltura a elite do nosso futebol. Pode-se gostar ou não deles, mas Rogério Ceni, Mano Menezes e Jair Ventura trazem nos seus históricos passagens consistentes e relevantes por times de grande expressão nacional. Mas vejam só que curioso ... Dos 4 clubes do Nordeste, nenhum tem hoje treinadores nascidos ou formados por aqui. Guto é de SP, Ceni é do PR, Jair do RJ e Mano do RS. Interessante, não ?


Em que pese a delicadíssima situação financeira atual do Sport do Recife, é possível afirmar que o elemento fundamental que ajuda a explicar a boa fase dos nossos clubes é a imensa transformação que ocorreu nos seus modelos de gestão. Claro que as situações não são as mesmas e variam de clube a clube, mas iremos encontrar exemplos de presidentes e lideranças rejuvenescidas, disciplina e responsabilidade financeira, orçamentos transparentes e enxutos, forte conexão com suas torcidas (dos maiores públicos em 2019, Fortaleza foi o 4º, Bahia o 6º e Ceará o 9º) e investimentos adequados à requalificação da sua estrutura física e dos seus elencos. Destaque muito especial para o trabalho que vem sendo feito pelos times do Ceará e Fortaleza, que provam em campo e fora dele que a rivalidade sadia faz bem aos dois lados.

Esses resultados vêm sendo percebidos pelo resto do Brasil ? Em parte sim, e em grande parte não. É verdade que a “imprensa nacional” não dá o mesmo espaço e o mesmo destaque aos nossos times, já que os principais grupos de comunicação (especialmente jornais e TV´s) estão localizados no RJ e em SP e naturalmente direcionam sua cobertura para os interesses da audiência e dos anunciantes daquela região. Aliás, sequer é possível falar em imprensa nacional quando se fala de futebol, um tema cujas pautas são predominantemente de interesse local. E também não podemos nos esquecer do imenso contingente de moradores das regiões Norte/Nordeste que torcem para clubes do Sul e Sudeste, e que demandam informações esportivas da mesma forma que aqueles que torcem para os clubes locais da sua região.

Ainda assim, o futebol do Nordeste não passa despercebido à análise mais apurada de jornalistas esportivos mais atentos. E eles não são tão poucos assim. E no caso específico do Bahia, isso é uma das coisas que definitivamente o clube não pode reclamar. Não foram poucas as entrevistas, programas e reportagens de destaque na imprensa nacional que trouxeram ainda mais visibilidade e reconhecimento ao clube durante a gestão de Guilherme Bellintani.

Por fim, se você chegou até aqui, o que eu quero mesmo te dizer nesse texto todo é que eu rejeito discutir esse assunto a partir da ótica do VITIMISMO. Essa roupa não nos cabe. O Nordeste é o que é nas suas virtudes e defeitos por conta de um processo histórico de formação, mas muito também por conta das suas próprias escolhas (que nem sempre foram as melhores). Não iremos nos desenvolver apenas quando o resto do Brasil prestar mais atenção em quem somos para finalmente termos nosso devido reconhecimento. Esqueça isso. Assim como os nossos clubes, iremos nos desenvolver quando mudarmos nossas atitudes, posturas, valores e prioridades. Esse discurso de vítima alimenta o surgimento e a manutenção de lideranças populistas que se erguem aos gritos de “Respeitem o Nordeste, Nosso Povo e Nossas Tradições”, mas que no fundo querem apenas se manter no poder pela exploração das nossas carências e angústias, e acabam por representar uma das causas que perpetuam o nosso próprio atraso.

E no que diz respeito à informação esportiva, nunca ela foi tão diversa e acessível a todos os tipos de público quanto hoje em dia. Há programas para todos os gostos: tem fofoca, análise tática, entrevista, “boleiragem”, polêmica vazia, mesa redonda, história, estatística, análise financeira ... e tudo isso disponível em rádio, TV, jornal, revista, internet, podcast, aplicativo oficial do clube, streaming ... Enfim. Hoje só é mal informado quem não busca a informação correta. E se você não gosta da forma como o seu clube é tratado por determinado veículo, busque outro que se adeque melhor àquilo que você deseja. Eles estão por aí espalhados por todo o canto, muitos deles aqui pertinho de nós. Valorize aqueles que fazem seu trabalho corretamente. Afinal, o que sobrevive é apenas aquilo que a gente alimenta.

Tom Assmar

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