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SALVADOR

Chefs famosos dividem espaço e provam iguarias da feira livre

A cena de um chef gourmet provando uma feijoada na São Joaquim do povão parece impensável, mas aconteceu ontem, dia em que a Feira da Cidade invadiu a maior feira livre de Salvador

• 29/12/2014 às 12:16 • Atualizada em 31/08/2022 às 3:32 - há XX semanas

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O chef Zezinho Souza tinha fome. Enquanto preparava sua “vaca atolada gourmet”, pensava no que degustaria no almoço. Dispensou o próprio prato e um outro do chef ao lado, uma porcheta de nome cuidadosamente elaborado, como tem que ser todo prato gourmet: lateral do porco desossada, marinada em ervas finas por 24 horas recheada com bacon e alecrim fresco. “Não, obrigado”, disse o chef do Ercolano.
O chef Zezinho Souza dispensou os pratos gourmet para se acabar na feijoada completa em Água de Meninos
Eis que o chef aceitou o convite do CORREIO. Deu preferência ao quitute de dona Sílvia, que há 21 anos serve na Feira de São Joaquim, box 04, uma iguaria bem conhecida. Poderíamos chamá-la de “feijão mulatinho moderado com carne de sertão, sal presa e suaves pedaços de mocotó”. Mas é feijoada mesmo. O toque especial: vísceras de gado ou, se preferir, pedaços de fato. Zezinho caiu matando. Claro, primeiro banhou o feijuba com malagueta machucada em pequenos cortes de cebola e tomate no azeite: o nosso molho lambão. “Eu sou louco por pimenta”, disse, depois de uma garfada que carregou de uma só vez um generoso pedaço de mocotó e farinha de mandioca. “Essas carnes defumadas são muito saborosas”, elogiou. A cena de um chef gourmet, devidamente paramentado, provando uma feijoada na São Joaquim do povão parece impensável, mas aconteceu ontem, dia em que a Feira da Cidade invadiu a maior feira livre de Salvador. Estavam bem próximos a paella gourmet e a moqueca da Sônia, o hambúrguer gourmet e o acarajé da Tati, o arroz nordestino gourmet e o sarapatel da Dadá.
A feijoada completa da cozinheira Sílvia Conceição foi disputadíssima
Apesar de separados, faziam pela primeira vez parte do mesmo universo. Afinal de contas, a origem de todo prato, seja ele ‘popular’ ou ‘erudito’ é a feira. “A ideia, inclusive, era comprar aqui em São Joaquim todos os ingredientes utilizados. Encontrei excelentes produtos, bem frescos e com ótimos preços. Achei farinha boa de R$ 3,50, imagine”, revelou Zezinho, que aprovou a experiência de dividir espaço com os nativos. “Viemos agregar. Você aprende e ensina sempre. Ninguém sabe tudo. A gastronomia é um universo incrível”, disse ele. Tímida, a dona da feijoada também também gostou do contato com o mundo da alta gastronomia. “Cada um aprendeu de um forma. Eu com minha mãe. E eles estudaram pra isso, né?”, afirmou Silvia Letícia Conceição. Chef Zezinho gostou tanto que ainda saiu oferecendo a quentinha de isopor com feijão para degustação de outros colegas. Três deles, os chefs Mateus Valverde, Rodrigo Ebert e Lucius Galdenzi, são os únicos baianos formados pela Le Cordon Bleu, tradicional escola de Paris. São os primeiros a desmistificar a distância imaginária que existe entre as gastronomias ‘erudita’ e ‘popular’. “A melhor comida é a da vovó. O bom chef consegue unir a técnica ao modo tradicional de fazer. Tudo está na nossa raiz e nos ingredientes. Aliás, os ingredientes brasileiros são os melhores do mundo”, acredita o chef Rodrigo Ebert. Assim, a Feira da Cidade produz iguarias como o geladão gourmet, feito com o melhor das frutas tropicais. “Delicioso. Parece a polpa da manga”, disse a estudante Lara Dias, 21 anos. Criadora e organizadora da Feira da Cidade, Carla Maciel apostou justamente na troca gastronômica. “A Feira de São Joaquim reúne o nosso desejo de unir o gourmet com o cenário da feira tradicional. Aqui, a gente se integra com a feira. Tem dez feirantes tradicionais participando. Cozinheiras como Dadá da Feira, Simone e Sônia, que têm mais de 30 anos de cozinha. Era esse troca que a gente queria”. GostoEntre os ‘gourmets’ e os ‘populares’, a galera ficou dividida. A fotógrafa Jamile Barbosa, 28 anos, provou a coxinha gourmet de camarão com queijo. “O legal é você descobrir que já conhecia o gourmet. São pratos conhecidos, só que mais elaborados e com nomes diferentes”, disse Jamile. O vigilante Eduardo Brandão, 54 anos, não conseguiu abandonar a quentinha de feijão cheia de carne concretada com farinha. Dispensou as degustações dos chefs. “Pra quem tem o hábito de comer feijão todo domingo de manhã, aqueles pratinhos ali não enchem minha barriga. Com essa feijoada aqui eu fico bem até umas horas”, garantiu. E quem duvida?
Correio24horas

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