Não há período melhor para lançar um livro sobre futebol do que nestes dias que antecedem a Copa do Mundo. Sendo assim, o escritor e professor Mayrant Gallo, 51 anos, fez um gol de placa. O baiano autografa dia 31 seu 13º livro, O Gol Esquecido – Contos de Futebol (A Girafa/R$ 25/96 páginas), às 11h, na Livraria LDM do Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, na Praça Castro Alves. Mas a data oportuna foi um drible de sorte.
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Ao perceber que tinha alguns textos com essa temática - inclusive publicou alguns deles no caderno Correio Repórter, do CORREIO, durante o período em que foi colaborador do jornal - Mayrant decidiu criar um arquivo para coletar os contos. "Durou cinco ou seis anos. Quando vi que já tinha 14 histórias eu resolvi escrever algumas mais e cheguei aos 21 que compõem o livro. Foi uma criação light", conta. Depois de juntar os contos, Mayrant lembrou dos livros Maracanã Adeus, de Edilberto Coutinho, e Na Marca do Pênalti, de Cláudio Lovato Filho, raros representantes da literatura brasileira voltada para o esporte mais popular do país. "A literatura brasileira não se debruça no futebol. Talvez por ser muito popular. Eu acho isso uma falha, muitas vezes a gente encontra em um tema aparentemente trivial, um mote para escrever sobre os grandes temas da literatura como o amor, a vida. Hoje, a gente conta nos dedos os livros sobre o esporte, embora os grandes contistas brasileiros já têm escrito sobre o futebol em algum momento", analisa.
LutoCom uma motivação a mais, o escritor arregaçou as mangas e iniciou o projeto, em meados de 2006. O livro chegou à editora em 2010, com previsão para ser lançado em 2012. Mas em 2011, a mãe de Mayrant faleceu, e ele preferiu adiar a publicação. A dedicatória permanece a mesma feita para a mãe quando ela ainda estava viva. E a obra acabou se tornando um símbolo de que dona Zezé estava certa: a vocação do filho não era ser jogador. "Eu dedico este livro a ela. Ela não queria que eu me tornasse jogador. Eu treinava, fiz até teste no Bangu, aos 16 anos. Passei, mas não fui na segunda fase. Eu preferi estudar", conta. Quando se voltou para o livro outra vez, a Copa já estava na cara do gol. Mayrant, então, resolveu aproveitar a ocasião.
Leia também: Perfil faz sucesso no Instagram após criar imagens minimalistas de ícones da cultura pop "Vamos à forra!", diz Digão, animado com o show do Raimundos em Salvador Jean Wyllys lança livro 'Tempo Bom, Tempo Ruim' nesta sexta em Salvador Da época de atleta, Mayrant resgatou os nomes dos amigos para batizar alguns dos personagens das tramas. O conto O Goleiro que Dormiu Cedo também foi inspirado na história de um colega das peladas. O primeiro gol que o escritor viu ser feito por um goleiro ganhou outro destino e cenário na publicação. "Tem muitos contos que aparecem nomes de amigos que jogavam futebol e não viraram profissional. A partir de um fato eu crio uma história", explica. Mas se engana quem pensa que os enredos se resumem às quatro linhas. As histórias passeiam por diversos temas. Desde o jogador esquecido, morto e ignorado pela má fama nos campos, a uma jovem e seus problemas familiares às voltas com um namorado briguento que é jogador do time da escola, até um jogo onde todos os atletas em campo estão perdidos em seus pensamentos durante a partida. "O futebol é o pano de fundo, o cenário, as histórias são variadas. Uma das coisas que fazem de um livro uma obra de arte é que uma história não se assemelhe a outra. O desafio do escritor é não cansar o leitor e uma forma de fazer isso é mudar os formatos. A variação é o grande mérito do livro", afirma. Com mais de 30 anos de escrita, Mayrant Gallo já se dedica aos próximos trabalhos. No momento, ele se divide entre dois romances. "Ao ter uma boa ideia, anoto num caderno e, futuramente, estando inspirado ou com vontade, começo a escrever", explica o escritor, já se preparando para a próxima partida.
Matéria original: Correio24h Mundo do futebol inspira livro com 21 histórias de escritor baiano