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MODA E BELEZA

Com a não-depilação, mulheres questionam machismo

Deixar os pelos crescerem é arma contra padrões estéticos estabelecidos; elas explicam

Redação iBahia • 01/06/2016 às 16:58 • Atualizada em 27/08/2022 às 2:13 - há XX semanas

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Escolha própria Não é sobre beleza, nem sobre tendência, nem para dizer como mulheres devem se comportar. “A opção por não depilar é exclusivamente pessoal, tem um significado político, vai além do indivíduo. É mais que isso, também é questionar”, afirma Bianca Chetto, 23 anos, estudante de Direito e membro do coletivo feminista Madás, que diz se depilar apenas quando julga necessário. À primeira vista, mulheres assumindo os pelos de suas pernas, axilas, sobrancelhas ou púbis podem causar estranheza. “Recebo olhares estranhos o tempo inteiro, mas aprendi a me divertir com isso”, explica a estudante de Arquitetura Brunna Menezes, 25, que desistiu da lâmina e cera há mais de quatro anos. “O argumento é que trata-se de uma questão estética, de higiene e limpeza. Isso tem a ver com a ideia da mulher pura”, pontua Maria Santana, 27, feminista e mestranda em Antropologia. Ela acredita que a prática é mais uma construção social.

Para Catarina Sampaio, depilar por obrigação é uma arma da sociedade machista
(Foto: Angeluci Figueiredo)

Processo “Está sendo uma descoberta, via amigas e militantes que não se depilavam, conhecia todo esse padrão de feminilidade, mas nunca tinha parado para pensar isso em mim, nem se era possível romper com essa prática”, afirma Maria, que tem como objeto de estudo em seu mestrado o corpo e também optou por manter seus pelos. “É tão naturalizado que eu nem achava que fazia diferença. Daí resolvi testar com axila”, conta. A constatação da não necessidade de se depilar é muito semelhante entre as mulheres que contaram suas histórias ao BAZAR. “Comecei a perceber que era um tipo de resistência a essas coisas que a gente aprende a repetir e que são uma forma de submissão escondida atrás da ideia cruel de escolha”, explica a estudante de Comunicação Catarina Sampaio, 22. “Durante muito tempo achei que isso era irrelevante, mas já acho que essa questão precisa ser discutida”, completa. Para Maria, não depilar é uma maneira de resistir a uma obrigação imposta às mulheres. “Nosso pelo é natural, é bonito e uma forma de resistência simbólica”, explica. Já Bianca acha que o dilema também é sobre a necessidade de ser bela, imposta às mulheres. “A questão é de como a gente é escravizada para a beleza, sendo cobrada sobre como tem que se apresentar”, opina. Segundo ela, a discussão envolve o que é ser bonito, vai além da desobrigação de estar bonita. “É preciso dizer para as meninas que há escolha, que pelos são normais e não questionar se é bonito ou feio porque isso não importa”, afirma.Bem feminina, sim Brunna conta que a opção por deixar os pelos em seu corpo é uma forma de se aceitar e também de dizer para o mundo quem ela é de verdade. “Percebi que gostava de meu corpo desse jeito e que não precisava passar por essa tortura. Também é uma atitude pedagógica, de tentar modificar como as pessoas pensam”, declara. Para Catarina, depilar por obrigação é uma arma da sociedade machista. “É mais uma forma de aprisionar mulheres dentro de determinados lugares e mantê-las fora de certas esferas”, opina. “Essa cobrança pela depilação tem a ver com machismo, misoginia e com padrões de higiene, porque a gente passou por um processo de higienização que separa a mulher de seu corpo. É como se a gente desafiasse esse poder patriarcal”, diz Maria. A mestranda conta que quando começou a deixar os pelos das axilas crescerem foi surpreendida. “Percebi que, em 27 anos, nunca tive a oportunidade de ver meu pelo crescer e isso é uma violência”, comenta. Tá limpo? Higiene é um dos argumentos utilizado por quem acha que as mulheres devem se depilar com frequência. “As pessoas atrelam depilação com limpeza. Mesmo as propagandas de depilação mostram mulheres já depiladas, não tem pelos nelas”, lembra Bianca. Todas concordam que não tem a ver com limpeza, mas com um padrão de comportamento que é ensinado. “Por que nosso corpo precisa ser alvo de tanto controle?”, questiona. Maria conta que a única mudança que percebeu quando parou de depilar as axilas foi na quantidade de suor e nos cheiros de seu corpo. Comecei a suar mais, mas acho que foi o corpo se adaptando. Depois diminuiu e agora consigo entender meu cheiro”, conta. Para a ginecologista Tatiana Magalhães, quem quiser manter os pelos precisa se preocupar com a higiene. “Aparar, por exemplo, é importante”, explica. Os cuidados são os mesmos que qualquer pessoa deve ter. Ela chama a atenção para a retirada total dos pelos do púbis. “A depilação excessiva pode provocar lesões na pele. Tirar tudo não é indicado porque o pelo é uma proteção natural, mas em excesso também pode ser fonte de infecção”, pontua. Para Tatiana, não há um tamanho ideal para deixar os pelos. A escolha é pessoal. Quanto à limpeza da região genital, ela conta que a lavagem excessiva pode modificar a microflora local e tirar a proteção natural.

(Ilustração: Morgana Miranda)

O pelo é pop Deixar os pelos ao natural e se orgulhar disso não é de hoje, apesar de ter ganhado destaque nos noticiários depois que celebridades publicaram fotos em redes sociais. Ícone de beleza, Sophia Loren mostrou, na década de 1960, as axilas peludas diversas vezes para as câmeras. Bianca lembra da importância e força dessa representatividade. “Sempre pode ser positivo ver pessoas influentes e que você tem como ídolo mostrando outros caminhos”, diz a estudante. No entanto, ela acredita que é preciso ter muita atenção. “A gente tem que estar sempre alerta, porque este é um discurso fácil de ser apropriado”, finaliza. Fique sabendo... O responsável pelo crescimento dos pelos é a testosterona, hormônio que as mulheres produzem 30 vezes menos que homens. Os pelos começam a crescer na puberdade, numa fase conhecida como pubarca, antes da primeira menstruação. “Entre 8 e 16 anos é considerado normal”, diz Tatiana. A quantidade de pelos nas pernas, púbis, axilas sobrancelhas e buço depende de quanta testosterona é produzida. Mais hormônio indica mais pelos. Nossa Vênus (ilustração) tem bastante! “Tem que lavar pois o pelo pode acumular sujeira”. No púbis, o cuidado também evita contaminação por Pthirus púbis, também chamado de chato. Mais pelos pode causar sudorese maior no local, que pode levar ao mau cheiro.
Correio24horas

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