A primeira coleção da Ca.Ce.Te Company, marca mineira comandada pela dupla Raphael Ribeiro, 32, e Tiago Carvalho, 31, lançada em abril de 2015, chegou pequenininha, com duas cuecas, uma t-shirt, duas regatas e uma camisa. Tudo preto e branco “para não ter erro”.
Hoje, o colorido continua sem fazer parte das coleções (eles pontuam, no máximo, com prateados e tecidos brilhantes), mas já produzem peças de alfaiataria, estampas próprias em seda feita com serigrafia manual e jeans. Eles também participam do Projeto Estuda da SPFW e vestem famosos, como a cantora drag Pabllo Vittar (que usou as peças no clipe do hit da vez, “K.O.”), a funkeira Ludmilla (no clipe do também hit “Cheguei”), o ator Chay Suede e o apresentador Caio Braz.
— O nosso público é muito variado. Mas é claro que, com o posicionamento e a linguagem da marca, acabamos atraindo uma turma mais descolada. A gente não tem pretensão de reinventar a roda, mas queremos deixá-la mais divertida — comenta Raphael.
O nome escolhido para a marca não passa batido. Quem escuta, ri. E quem vê alguma das peças, lê a palavrinha cacete por todos os lados. Eles fazem questão de destacar em barras de calcinhas, cuecas, tops (seria uma versão debochada da Calvin Klein?) e também em moletons e sandálias.
— Somos logomaníacos assumidos. Colocar o elástico em lugares inusitados é uma forma de fazer uma releitura irônica da moda das cuecas à mostra e provocar quem vê. A escrita que usamos chega a confundir e instigar. Já teve gente que pensou que o Ca.Ce.Te.co fosse uma sigla, um acrônimo. As reações são sempre uma surpresa — conta Tiago.
Mas qual o motivo da marca se chamar Ca.Ce.Te?— A gente queria um nome 100% brasileiro, que estivesse ligado aos nossos valores: forte, irônico e que também fosse fácil de lembrar. O nosso propósito é sempre resinificar elementos do nosso cotidiano e a palavra cacete tem vária possibilidades. Poder ser interpretada como um superlativo, como algo grandioso; pode ser um palavrão e em algumas regiões do Brasil significa apenas um pão pequeno! — explicam eles, sempre descontraídos. A produção também é toda brasileira.
— Fazemos questão de produzir tudo por aqui mesmo. Trabalhamos com duas profissionais maravilhosas, a modelista Ana Faleiro, que está com a gente desde o início, e a pilotista Lau Dias, que faz um acabamento perfeito. Os fornecedores de tecidos são todos nacionais. Os acessórios e sandálias são desenvolvidos em parceria com a marca O/Jambu e o artesão de calçados Paolo, os dois de Belo Horizonte.
ODE À CONTRACULTURA
Sem ritmo convencional de coleção, eles lançam o que chamam de Arquivos, na velocidade que for conveniente. No momento, eles trabalham no quinto. — A gente vai arquivando as pesquisas e as referências em um esquema mais slow. Quando toda essa colagem toma forma, é hora de lançar — diz Tiago, destacando que a venda acontece on-line, pelo site www.cacete.com, com entrega para todo o Brasil.
A inspiração vem, quase sempre, da rua. — O que mais nos atrai são as vivências. Acreditamos muito mais naquilo que já teve experiência e tem um comportamento de contracultura, do que tipos de comportamentos quadrados e pré-estabelecidos como corretos. O grafite, por exemplo, é uma arte muito complexa e popular entre os jovens, uma vertente radical que usa os muros e as fachadas das cidades para expor sua maneira de ver a vida — explica Raphael.
Até para as co-criações de estampa eles focam o olhar no que acontece do lado de fora: um grande parceiro é o artista plástico e quadrinista também mineiro Warley Desali — ele, aliás, foi um dos finalistas do Prêmio Pipa deste ano —, que desenhou diversas estampas. Para a próxima coleção, irão ampliar o rol feminino, já que a dupla só incluiu peças para as mulheres na Arquivo #4 e há uma procura grande, tanto por roupas quanto por underwear.
— No começo, a vontade era atender o público masculino e durante o processo de criação da marca decidimos focar nas cuecas, acreditando que é um setor pouco explorado — lembram eles, que hoje fazem até acessórios, como sapatos, sandálias, bonés, bolsas, pochetes... — Mas o nosso foco maior ainda é vender cuecas.
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Redação iBahia
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