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Fafá de Belém critica invisibilidade das mulheres com 60+

Cantora falou ainda sobre sua atuação no The Voice+

Redação iBahia • 20/02/2022 às 11:30 • Atualizada em 29/08/2022 às 4:34 - há XX semanas

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Foto: Reprodução/TV Globo - João Gotta

A icônica gargalhada de Fafá de Belém continua intacta. Em duas horas e 20 minutos de conversa por chamada de vídeo, a cantora a projetou para o universo inúmeras vezes, mesmo se recuperando de uma pequena cirurgia na coluna. Porém, desta vez, ela intercalou o riso contagiante com lágrimas emocionadas. A cantora está à flor da pele desde que recebeu o convite para ser técnica da segunda temporada do “The voice+”, que vai ao ar nas tardes de domingo na Globo. “Isso aconteceu em novembro. Eu estava no Alentejo, em Portugal, e me acabei de tanto chorar na ocasião”, lembra. “Em 1975, Boni pai escolheu a voz de uma menina que ninguém conhecia para cantar ‘Filho da Bahia’, na trilha de ‘Gabriela’. Agora, aos 65 anos, recebo esse presente do Boninho para participar do ‘The voice+’. São ciclos, renascimentos”.

Na entrevista, além do reality musical, Fafá critica a invisibilidade de quem tem mais de 60 anos, fala sobre política no governo Bolsonaro, analisa sua relação com as drogas no passado, recorda-se de como reagiu a uma tentativa de assédio na juventude, cita a inspiração em Sophia Loren e volta à infância, quando a paixão pela música foi despertada. “Certa vez, estávamos eu, meus irmãos e primos, numa roda de violão, em Salinópolis, no Pará. A canção eleita era ‘Eu e a brisa’. Até que meu primo Armando disse: ‘Fafá, agora só você’. Joguei o cabelo na cara e soltei a voz. Ele respondeu: ‘Daqui por diante, você vai cantar com a gente’. Aos 9 anos, virei a cantora da serenata da família”, recorda a artista, que considera a música “sua amiga mais antiga”: “Sou uma mulher brasileira que adora cantar.”

Como é participar do “The voice+”?
Emocionante. As mulheres que entram para cantar sempre têm recordações das minhas canções. Ao mesmo tempo, há situações em que sou levada para outro tempo. Sou de uma época em que uma canção chamada “Pauapixuna” ficou em primeiro lugar nas paradas. O repertório é de pessoas que conviveram com fases de ouro do Brasil, vai de Dolores Duran a Waldick Soriano, de Tom Jobim a Roberto Carlos, de Chico Buarque a Evaldo Gouveia e Jair Amorim. Eu me lembro dos meus sonhos, identifico períodos da minha vida. Em uma audição, uma mulher de 85 anos cantou todas as notas de “Pedacinho do céu”, música dificílima.

Qual é a importância de o programa ser destinado a quem tem mais de 60 anos?
Quando a primeira temporada do “The voice+” foi anunciada, desejei muito estar lá porque falaria com gente da minha idade. Há um hábito de as pessoas ficarem invisíveis depois dos 60 anos, a sociedade nos empurra de cara para a quina. Porém, nós temos tesão, poder de decisão e experiência. Temos uma vida inteira para ser vivida e ainda melhor por causa da experiência. O programa também dá chance para pessoas que tiveram a carreira abortada, mulheres que foram impedidas de cantar por causa do machismo estrutural.

Você acredita que essa “invisibilidade” da qual fala é mais cruel com as mulheres?
Claro, muito mais. Por exemplo, há um tempo comecei a ver o movimento das grisalhas. Chegou a pandemia da Covid-19, e fui deixando o meu cabelo ficar branco. O doido é que, ao longo desse processo, quem mais me agrediu foram as mulheres. Nas lives, elas falavam: “Você está ridícula”, “Está parecendo uma vovozinha”. Até que, um dia, eu não me aguentei e respondi: “Eu sou uma vovozinha, tenho duas netas espetaculares. Mas também tenho uma experiência muito melhor do que aos 20 e ninguém tem reclamado”. A gente foi incutindo a ditadura da beleza, do cabelo pintado, do botox, das cirurgias plásticas. Não uso botox, faço ginástica facial com a Roseli Siqueira, uma bruxinha do bem. Uma vez, coloquei (botox) e fiquei com uma cara de palhaço e um olhar interrogativo (gargalhada). Quando cheguei ao Rio de Janeiro, eu já não era magra, usava decotes e gargalhava muito alto. Eu nunca tive travas.

Sempre foi bem resolvida com seu corpo?
Eu me entendi com meu corpo aos 12 anos, quando assisti a um filme com Sophia Loren. Ao vê-la, pensei: “Yes, I can”. Pedi para minha mãe um vestido igual ao dela. Quando vim para o Sudeste, estava na contramão de tudo. O padrão era nórdico, e eu sou do Norte, colorida, tenho cintura, peito e bunda. Sempre gostei dos meus peitos, de usar espartilhos. Peças decotadas me favorecem. No começo, eram desenhadas pela minha mãe, que costurava muito bem. Recentemente, ao tomar a terceira dose da vacina da Covid, em Portugal, fui abordada por mulheres que me relataram histórias de como as mães tiveram coragem de se separar me vendo na TV. Uma delas costumava falar: “Mãe, olha a Fafá. Ela não é magra, é feliz e não precisa de marido”.

Como está a sua vida amorosa?
Nunca sonhei me casar e jamais me casei no papel. Com o pai da minha filha, Mariana, o Raul (Mascarenhas, músico), tenho uma relação de profundo carinho. Sou namoradeira e bem convencional quando estou apaixonada. Agora, não estando apaixonada, vivi os anos 70... Respondi a pergunta (gargalhada)? Outra coisa: qualquer limitação à minha liberdade, estou fora. Entre uma paixão fabulosa que pergunta onde e com quem eu vou e um grupo de amigos, prefiro chorar com o grupo de amigos a perda da paixão fabulosa (risos). Morar em duas cidades é ótimo e morar em dois países é maravilhoso. Sou muito ocupada, amo trabalhar.

Já se relacionou com mulheres?
Não. Gosto do cheiro de homem, do toque da pele, da pegada. Tenho grandes amigas casadas com mulheres, mas gosto de homem. E vou dizer uma coisa: gosto muito. Nunca planejei os amores da minha vida, jamais saí para “dar mole”. Mas quando entra “aquele” cara, o mundo para e congela. Digo que os melhores companheiros do término de uma paixão são os cantores Luis Miguel, “la puerta se cerró detrás de ti”, José Augusto e nosso querido “Joãozinho caminhador” (uma brincadeira com o nome da bebida Johnnie Walker), porque paixão a gente só cura com uísque.

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Você mencionou ter vivido os anos 1970. E a relação com as drogas naquela época, como era?
O fim da década de 1960 e o começo dos anos 1970 foi um período lisérgico. Drogas eram usadas para abrir as portas da percepção. A coisa mais delicada é saber o tempo de dizer tchau. Você jamais pode não conseguir viver sem uma droga. Nos anos 80, em relação à cocaína, um dia me olhei no espelho e não era eu. Joguei fora o que tinha e destruí minha agenda. Passei dez dias trancada, com o fio do telefone fora da tomada. Nunca tomei MD. A gente vai desenvolvendo os baratos da vida de outras formas.

Você foi musa das Diretas já. O que sente ao ver pessoas pedindo a volta da ditadura militar ou afirmando que ela não existiu?
Me dá uma pena muito grande do Brasil. Eu morava em São Paulo em 1964 e vi da janela os tanques entrarem nas ruas. Muita gente que vinha tocar violão na minha casa foi fazer treinamento no Araguaia e desapareceu. Soube de pessoas que foram “suicidadas”, torturadas e famílias eliminadas. A nossa democracia é jovem e facilmente manipulável. Nas redes sociais, há uma militância que poderia ser melhor aproveitada. Se as pessoas estudassem mais o nosso passado, essa força funcionaria como uma base mais forte na defesa das instituições e do estado democrático de direito.

O que aconteceu depois das Diretas?
Fiz toda a campanha das Diretas e participei de 32 comícios ao lado de Tancredo (Neves, ex-presidente). Depois da morte de Tancredo, sofri uma campanha pesada. Passei dois anos sem trabalhar por ser chamada de pé-frio por alguns jornalistas. Na época, quem saiu em minha defesa foi Antonio Carlos Jobim. Fui muito machucada.

Como avalia os três anos de governo do presidente Jair Bolsonaro?
Não houve governo. Existiu uma tentativa de se acabar com as instituições. Eles soltaram os cachorros da homofobia, do machismo, do racismo e do preconceito.

Pretende subir em algum palanque neste ano?
Não. Já tenho os meus candidatos, mas prefiro não falar sobre isso.

Você tem duas netas. Acha que elas vão viver numa sociedade mais justa para as mulheres?
Elas terão mais ferramentas para enfrentar o machismo. Aos 18 anos, quando estreei, fui a uma festa da TV na Quinta da Boa Vista. Um homem mais velho, do meio artístico, me ofereceu uma carona. Ele pegou a direção da Barra e colocou a mão na minha perna. Falei: “Pare a porra desse carro senão vou me jogar”. O tal senhor me levou de volta. Minhas netas vão encontrar um cenário mais avançado, em que vão poder enfiar a mão na cara de um filho da puta desses (risos).

Qual é o lugar da fé na sua vida?
No meio dela e no alto de tudo. Se não acreditasse, não chegaria até aqui. Cresci administrando o não: não era a mais bonita, não queria ser Miss Pará, não queria casar. O amor do meu pai, a força da minha mãe, isso tudo dedico à fé e à Nossa Senhora de Nazaré, dona do estado do Pará, que permite que todos caibam embaixo do seu manto.

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