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Riachão, o malandro pop da Bahia, comemora 90 anos

O sambista comemora a data na Cantina da Lua, nesta segunda (14). Confira a trajetória de um dos músicos mais importantes para a cultura baiana

• 14/11/2011 às 11:00 • Atualizada em 03/09/2022 às 2:52 - há XX semanas

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Filho de José Euzébio Rodrigues e Maria Estefânia Rodrigues, Clementino Rodrigues, o Riachão, e seus 15 irmãos nunca conheceram a fartura. Era mais uma família pobre e negra, do início do século 20, vinda do interior do estado, mais exatamente de Santo Amaro da Purificação – município do Recôncavo baiano, a 83km de Salvador, onde também nasceram Caetano e Bethania. Os Rodrigues enfrentaram muitas dificuldades, mas nunca passaram fome. “A gente não era rico, mas também nunca ficamos sem comer, um ajudava o outro, diferente de hoje em dia...”, compara o pequeno notável. Artista precoce, aos nove anos, Riachão soltava a voz e encantava o público com os clássicos do samba carioca, aprendidos no rádio. Nesse tempo, somente o Rio de Janeiro propagava o samba, e por isso, há quem diga que o ritmo nasceu nos morros cariocas. Polêmica. Para Riachão, o samba nasceu mesmo foi na Bahia e ponto final. E sabe por quê? “Porque o Brasil nasceu na Bahia. E quem trouxe este samba foi (sic) os negros, cantando o samba na senzala, fazendo o samba de roda.”, teoriza o mestre. Se a mística sobre o surgimento do samba mexe tanto com Riachão, a vitalidade que ele esbanja parece vir do orgulho que sente de ser baiano, malandro e sambista.
“O samba pra mim é Deus. Deus é a música e a música é o samba”, proclama
E para ilustrar sua devoção pelo samba, arranca da memória um de tantos outros casos marcantes de sua vida: o dia em que compôs seu primeiro samba.Nesta segunda (14), às 19h, Riachão comemora seus 90 anos com encontro de sambistas na Cantina da Lua “Menina, isso já faz muito tempo. Eu estava saindo da alfaiataria, isso em 1935 ou 36, e vi um pedaço de papel de revista no chão. Peguei e Jesus me fez ler o que tinha escrito -Se o Rio não escrever, a Bahia não canta - aquilo não saiu de minha cabeça...”, conta. Após um dia de trabalho, preparando-se para dormir, Jesus, o seu parceiro de trabalho, entra em ação e manda o primeiro samba (sim, Jesus, o próprio, segundo Riachão, é seu parceiro de samba. E quem vai contestar?) Aos 20 anos, Riachão vai à Rádio Sociedade da Bahia, em busca de uma chance para brilhar. Naquele tempo, lugar de artista bem sucedido era na rádio. Assume a verve de sambista e o sucesso aparece. Ele e o parceiro fiel não pararam mais de produzir. Jesus nunca mais pediu férias. Uma onça que fugiu do zoológico, a queima de Judas na Praça da Sé, o incêndio que atingiu o Mercado Modelo, tudo era motivo para um samba. E por isso, ganhou um sobrenome: Cronista Musical da Cidade, dado pelo radialista Ubaldo Câncio de Carvalho, considerado, na época, o melhor comentarista esportivo do Norte e Nordeste do país. Os exemplos mais recentes de trabalho são os shows que fez pelo Brasil e alguns países como França, Alemanha e Cuba, em meados do ano 2000. Riachão também participou do DVD da cantora Beth Carvalho, gravado em 2006, o Beth Carvalho: Canta o Samba da Bahia. E mais, se tornou pop depois da regravação feita por Cássia Eller, do seu samba Vá Morar com o Diabo e foi tema do documentário Samba Riachão, de Jorge Alfredo. Além das entrevistas da mídia cultural, que sempre o procura.
As saudades e as dores de um sambista - Riachão sorri muito. Canta, quando não está conversando. Faz rima, samba com as pernas levemente tortas. Mas entre uma piada e outra, ele também chora. Um choro de saudade, outro de tristeza. Riachão tem as suas dores. Como todo malandro que se preze, ele idolatra as mulheres. Todas e por diversos motivos. Mas reserva um lugarzinho especial para as que mais lhe marcaram: a mãe, dona Estefânia, imortalizada numa foto emoldurada que fica no quarto; e a mulher, Dalva, morta em um acidente de carro, em 2008 no Rio de Janeiro. Dalvinha como a chamava, sua segunda esposa, foi seu grande amor. No mesmo acidente que o deixou viúvo, Riachão perdeu também um casal de filhos, um genro e uma nora. Uma tragédia que apagou seu sorriso por algum tempo. Hoje é como uma névoa que chega e se desfaz. Para Dalvinha, compôs muitos sambas. A musa inspiradora virou sua estrela Dalva. A casa no Garcia, onde ele nasceu, cresceu e viveu momentos felizes e tristes, ficou maior. Hoje ele mora lá com uma filha. Mas, apesar da tragédia e da saudade dos que se foram, Riachão é feliz. E a alegria, apesar de ser sua marca, não é marketing. Hoje, 14 de novembro, ele completa 90 anos, com um encontro dos seus amigos de longa data como Claudete Macêdo e Firmino de Itapuã, entre outros da majestade do samba da Bahia, e cantores mais novos com Armandinho e Jota Velloso, no templo da boemia baiana, a Cantina da Lua, no Pelourinho. A festa poderia durar o ano todo. O ano de Riachão. Justo e merecido. Histórias não faltariam para contar. [youtube uEBOiQ9ss0w][youtube uUXuOnOPWQU]

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