Os preços dos ovos de Páscoa assustam muitos consumidores e sempre há a seguinte questão: por que os produtos são tão mais caros do que a barra de chocolate e bombons? A explicação da indústria é que a produção dos ovos é mais complexa do que dos demais artigos.
Uma barra do chocolate Diamante Negro, por exemplo, é vendida por cerca de R$ 4,99, com 150g. Já o ovo de Páscoa do mesmo sabor, de 215g, custa R$ 32,90. No primeiro caso, cada 100g custa R$ 3,32 e, no ovo, R$ 15,30, ou seja, 4,6 vezes mais caro. Já o Ovo Bis (318g) sai por R$ 26,99, ou seja, R$ 8,48 por cada 100g. Já a caixa com 16 unidades (126g) é encontrada por R$ 4,99, então cada 100g custam R$ 3,90. Isto é, no ovo, o custo é duas vezes maior pelo mesmo chocolate.
Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Cacau, Chocolate, Amendoim, Balas e Derivados (ABICAB), Ubiracy Fonseca, a produção dos ovos exige uma alta complexidade, o que tem como consequência custos maiores. Além disso, o processo de embalagem é feito manualmente e as próprias embalagens são maiores e mais sofisticadas do que as de chocolates de linha regular. Os fabricantes também têm mais gastos com a contratação de funcionários temporários para a data.
— Estes produtos são muito frágeis, sendo necessário adotar processos especiais de produção, logística e armazenamento com cuidados adicionais. Como exemplo adicional, citamos que o custo de transporte dos ovos, é pelo menos o triplo dos chocolates de linha regular. Por ser oco e ocupar um espaço bem maior em relação ao seu peso, a quantidade que pode ser transportada em um caminhão, é em média um terço dos chocolates de linha.
De acordo com o presidente da Abicab, além dos custos maiores na produção, vale destacar também que o varejo tem suas próprias políticas de preço. Uma pesquisa recente encomendada pela associação mostrou que 63% dos brasileiros têm o hábito de presentear com chocolate na data comemorativa. Com um consumo per capita de 2,5 kg/ano, o Brasil é o quinto maior consumidor de chocolate do mundo, e o setor teve um faturamento de R$ 12,4 bilhões em 2015.
Na Páscoa de 2016, foram produzidas cerca de 14,3 mil toneladas de ovos e produtos de chocolate, ou seja, cerca de 58 milhões de ovos de Páscoa. Neste ano, ainda não há dados sobre a produção completa, mas as empresas lançaram mais de 120 novos produtos.
Páscoa 2017 terá novidades para todos os públicos
Apesar dos lançamentos, o comércio não está criando muitas expectativas nas vendas para a data. Cerca de 48,5% dos empresários esperam vendas iguais ao do ano passado, de acordo com a Pesquisa de Páscoa, realizada pelo Departamento de Economia da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). Apenas 12,1% dos comerciantes estão otimistas e esperam vender mais do que no ano passado. Por outro lado, 39,4% dos supermercadistas acreditam que os resultados de 2017 serão inferiores aos apresentados no ano anterior. As encomendas dos supermercados apontam para uma redução nominal de menos 4,9% nas vendas da Páscoa 2017.
A antropóloga Silvia Borges, professora do mestrado em gestão da economia criativa da ESPM Rio, explica que o valor do ovo de Páscoa vai muito além do preço na etiqueta:
— Do ponto de vista simbólico, a questão é que as pessoas atribuem ao ovo de Páscoa o símbolo de um momento especial, que começou com a tradição religiosa, mas que hoje transcende esse significado. Virou um presente para pessoas especiais, como marido, mulher, filhos e sobrinhos. É uma troca social. As pessoas querem presentear com o artigo típico, mesmo sabendo que poderiam dar barras de chocolate ou caixas de bombom.
Segundo a especialista em estudos do consumo, o comportamento também acontece com outras datas comemorativas:
— Mesmo sabendo que o preço vai diminuir um ou dois dias depois, a pessoa quer participar da troca no feriado e se dispõe a pagar mais por isso. O consumo não tem apenas essa dimensão racional, mas também outras lógicas. No campo do simbólico, o valor das mercadorias não é financeiro. Muitas vezes, dar ovos significa presentear pessoas que você encontra só naquele momento. Todo ritual, como a troca de ovos na Páscoa, é uma ruptura do cotidiano, então tem momento de começar a acabar. Por isso, a pessoa quer participar de forma completa.
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Redação iBahia
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