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TABUS, TRETAS E TROÇAS COM SÍLVIO TUDELA

SAF: a dúvida entre ser um time comprado ou um clube vendido

Expansão do modelo 'Sociedades Anônimas de Futebol' avança, mas clube associativo não deve morrer no Brasil

Sílvio Tudela • 26/09/2022 às 10:20 • Atualizada em 29/09/2022 às 13:13 - há XX semanas

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Em seus primórdios, a prática do futebol era quase um sonho, geralmente coletivo, em que amigos, vizinhos, parentes, colônias de imigrantes, colegas de escola ou de trabalho se reuniam para criar um time e com ele alcançar grandes conquistas. Foi praticamente este o roteiro do nascimento dos grandes clubes do Brasil, no final do Século XIX e nas primeiras décadas dos anos 1900. E pelo país inteiro equipes surgiram e outras desapareceram por motivos diversos – desde falta de organização, de dinheiro, de apoio, de torcedores e de títulos.

Desde então, quase todos os clubes pertenceram a associados que dão as cartas na forma de cartolas, conselheiros e grupos políticos que, às vezes, se alternam e duelam por mais espaço e poder dentro da instituição. Queiramos ou não, há uma diferença gritante entre o conceito de clube e o time que efetivamente entra em campo. A entidade legal é da posse de seus associados, que definem receitas, despesas e objetivos. Simultaneamente, há um time formado pelo clube e que é objeto de amor da torcida que, na maioria das vezes, não é associada e, portanto, pouco pode fazer a não ser pagar por ingressos, consumir produtos licenciados, comparecer aos jogos, incentivar os jogadores e, quando muito, protestar contra os maus resultados.

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Até praticamente 1970 não havia torcidas organizadas pelos próprios grupos de torcedores, mas sim as uniformizadas, as quais eram tuteladas e conduzidas pelos associados e dirigentes do clube. Apesar de parecerem estar no mesmo barco, nesse embate, os sócios sempre tiveram maior poder de decisão enquanto cabia à grande massa de torcedores apenas gritar e cantar nas arquibancadas. E foi, a partir de então, que certos grupos não aceitaram ser reféns de cartolas e passaram a defender o conceito de que é a torcida que possui um time e, consequentemente, o clube. Mas na prática...

Posto isso e o crescimento das discussões e embates entre torcedores entre si e contra dirigentes dos clubes, agora, tudo começa a soar diferente, com a institucionalização e a forte expansão das Sociedades Anônimas de Futebol (SAF), uma espécie de upgrade estratosférico naquilo que há algum tempo se convencionava chamar de futebol-empresa. De um ano para cá, quando ganhou contornos de lei, já são dezenas de clubes que se adaptaram legalmente à constituição de seus estatutos em SAFs, como forma de atrair investimentos de bilionários, grupos empresariais, fundos de investimentos e outras denominações. Importante lembrar que a mudança de modelo para SAF não significa necessariamente que o departamento de futebol do clube será vendido, embora seja o mais comum e o esperado, pois os times e suas torcidas estão nas prateleiras em busca de um bom comprador.

Levantamento

Até agosto deste ano, um levantamento sobre o número de SAFs feito pelo escritório Ambiel Advogados já mostrava que o modelo está implantado em todas as regiões do país e em todas as divisões do futebol, abrangendo grandes times que já foram vendidos, outros em fase de negociação avançada e alguns em estudos. Apesar do modelo ter vindo para ficar, é provável que o Brasil tenha no futuro um modelo híbrido com a convivência de clubes associativos e de SAFs.

Para ficar apenas em times que foram campeões brasileiros, o Cruzeiro foi vendido para o ex-jogador Ronaldo Nazário, o Fenômeno, que virou cartola por aqui após experiências administrativas na Europa e nos Estados Unidos; o Botafogo para a Eagle Holdings (John Textor); e o Vasco e para a 777 Partners.

Em terras baianas, a movimentação não é nada diferente. Considerado um dos primeiros clubes a se tornarem empresas, o Vitória conseguiu neste final de semana dar uma épica volta por cima e regressar à Série B, após quase ser rebaixado para a Série D do futebol brasileiro, neste ano. Não é de se estranhar que com a eleição da nova diretoria, os planos de SAF estejam na pauta para torná-lo um clube de projeção na elite nacional e menos propenso a rebaixamentos constantes.

Já o Bahia, que atualmente está em terceiro lugar na Série B e a sete pontos do quinto colocado e segue praticamente sem ameaças para o seu retorno à elite, teve seus bastidores mais emocionantes que em campo. Isso porque já é notícia nos veículos esportivos que o City Football Group (de origem árabe e proprietário de clubes como o Manchester City e de outros dez espalhados pelos quatro continentes) fez uma oferta no valor de R$ 1 bilhão por 90% do time baiano.

Se concretizado o negócio, independentemente da conquista do acesso, o Tricolor Baiano deve receber, a partir de janeiro (data prevista para o início da parceria), vários jogadores que interessam estrategicamente ao seu novo gestor. De jovens atletas contratados exclusivamente para o Bahia, o que pode representar promessas com potencial financeiro de revenda, passando por jogadores experientes para dar solidez ao grupo, e também esportistas que já estão vinculados ao conglomerado e que serão apenas reposicionados nesta espécie de holding.

Tudo ainda é especulação sobre a primeira empreitada de um dos mais importantes e poderosos conglomerados futebolísticos do planeta no Brasil e que terá, provavelmente, a Bahia como seu laboratório. Nada se sabe ainda sobre o destino do Tricolor sob “administração árabe”, a não ser que as condições mencionem acordo sobre o pagamento integral e imediato da dívida do clube, investimento mínimo anual no futebol e plano de estar habitualmente na Libertadores da América. Apesar da invejosa gozação dos adversários, já está definido que o Bahia não será rebatizado como Salvador City e nem abdicará das cores vermelha e branca, usando somente o uniforme azul celeste, condições características da empresa para fechar negócios ao redor do mundo.

Em tese, o projeto de migração do modelo associativo para a formação da Sociedade Anônima do Futebol precisa ser formalizado e apresentado aos Conselhos Deliberativos e aos Conselhos Fiscais dos clubes, que darão seu parecer sobre o negócio. A partir daí, caberá à Assembleia dos Sócios decidir sobre a venda ou não do departamento de futebol e em quais termos.

Dada a situação de calamidade financeira e das amadoras gestões dos clubes brasileiros, os projetos de constituição em SAF e de venda dos departamentos de futebol possuem uma resistência muito pequena entre os torcedores, os quais nunca se viram fielmente representados na decisão dos clubes, e querem ver seu time brilhando e conquistando títulos importantes.

E mesmo sem ainda serem SAFs, de uma certa forma, essa modalidade já acontece de forma informal com o Red Bull Bragantino, que também é a filial brasileira de uma empresa que possui times de futebol em vários países (Áustria, Alemanha e Estados Unidos, por exemplo), o Palmeiras, que é praticamente uma “licença de uso” entre a patrocinadora Crefisa e a locadora WTorre (dona do Allianz Park), e o Atlético-MG, que recebeu investimentos milionários de um grupo muito forte de empresários torcedores nos últimos anos.

Com todo esse cenário colocado, não podemos nos esquecer que empresas são organizações que vivem de lucros e quando estes não aparecem ou param de frutificar, as mesmas são fechadas e os investidores vão embora, sem dó nem piedade. No caso de uma dessas parcerias dar com os burros n’água, a pergunta que fica é como será o destino dos clubes e se os torcedores podem ficar órfãos. Não podemos esquecer que, em função da Guerra na Ucrânia, o magnata russo Roman Abramovich, por razões políticas e econômicas, entregou o comando do Chelsea, do qual era sócio majoritário desde 2003, aos administradores de uma fundação. Atual campeão mundial de clubes, o time está temporariamente na sétima colocação da Premier League e fora da zona de classificação para a Liga dos Campeões da Europa.

Confira a lista dos clubes que já se converteram em SAFs, com destaque para os que já estiveram ou estão na Série A do Campeonato Brasileiro neste século:

AC

  • 1. Santa Cruz Acre Esporte Clube S.A.F.

DF

  • 2. Gama Sociedade Anônima de Futebol

GO

  • 3. Centro Oeste Futebol Clube Sociedade Anônima do Futebol

MG

  • 4. Boston City Futebol Clube Brasil S.A.F
  • 5. A.C. Esportes S.A.F.
  • 6. América Futebol Clube Sociedade Anônima do Futebol
  • 7. Cruzeiro Esporte Clube - Sociedade Anônima do Futebol
  • 8. Itabirito Sociedade Anônima do Futebol

MT

  • 9. Cuiabá Esporte Clube - Sociedade Anônima do Futebol
  • 10. Novo Mixto Esporte Clube - Sociedade Anônima do Futebol

PB

  • 11. Centro Sportivo Paraibano - CSP S.A.F.

PE

  • 12. Flamengo Sport Club de Arcoverde Sociedade Anônima do Futebol

PR

  • 13. Maringá Futebol Clube S.A.F
  • 14. Paraná Clube - Sociedade Anônima Do Futebol S.A.F.
  • 15. Coritiba Sociedade Anônima do Futebol
  • 16. Krakatua Futebol - Sociedade Anônima do Futebol
  • 17. P8 Futebol - Sociedade Anônima do Futebol

RJ

  • 18. S.A.F Botafogo
  • 19. Miguel Pereira Esporte Clube - Sociedade Anônima do Futebol
  • 20. Vasco SAF

RN

  • 21. Clube Laguna Sociedade Anônima do Futebol

RS

  • 22. Clube Futebol Com Vida S.A.F.

SC

  • 23. Figueirense Futebol Clube S.A.F
  • 24. Hercílio Luz Futebol Clube S.A.F.

SP

  • 25. Pinda Futebol Clube Sociedade Anônima de Futebol

				
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