O retorno ao trabalho depois de um período de férias pode ser desanimador, para muitos trabalhadores. Porém, esse sentimento pode acontecer devido a uma série de fatores. Estresse, competitividade, insatisfação e hostilidade são alguns dos motivos que levam o profissional a sofrer da não tão conhecida depressão pós-férias. Apesar de parecer incomum, a má relação entre o trabalhador e o trabalho pode desencadear uma doença mental. A médica e psicanalista, Soraya Hissa, desenvolve um trabalho para quem sofre da depressão pós-férias, mal que atinge aproximadamente 23% dos empregados brasileiros, conforme revela a pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR).
iBahia.com - Como constatar o diagnóstico de depressão pós-férias? Soraya Hissa - Pelos sintomas que vão surgir quando a pessoa volta das férias e reassume suas atividades. Os principais sintomas da depressão pós-férias são a adinamia, falta de ânimo para cuidar das atividades do dia a dia e a anedonia, que é a falta de prazer consigo mesmo. A pessoa não sente vontade de tomar banho, escovar os dentes, etc. Além da alteração no sono, falta de apetite, dificuldade de reorganização no trabalho, falta de atenção e concentração
iBahia - Como esse tipo de depressão pode ser tratado? SH - A depressão pós-férias precisa ser tratada através de uma psicoterapia, por ter o retorno do profissional, muitas vezes, é necessário fazer um tratamento através do uso de medicamentos que somente o médico pode prescrever
iBahia - Após um longo período de descanso, qualquer pessoa corre o perigo de entrar em uma depressão? SH - A depressão varia de caso para caso. Existem pessoas que carregam fatores genéticos e acabam tendo uma propensão maior à desenvolver a doença, nesse caso, não tem como mexer. Já nos fatores causados pelo meio ambiente, como o medo, o receio de voltar de férias e não ter mais o lugar garantido, podem ser assegurados por uma legislação que garante a estabilidade do empregado.
iBahia - Existem, então, pessoas que têm maior tendência a sofrer da depressão pós-férias do que outras? SH - Varia de casos. Pode ser que já seja uma pessoa deprimida e tem geneticamente uma probabilidade maior de desenvolver a depressão e pode coincidir que seja nesse período pós-férias que a doença tenha manifestado. Hoje, já é comprovado que 23% dos brasileiros sofrem da perturbação, e como a depressão pós-férias não é muito conhecida, ela é muitas vezes menosprezada e qualificada como preguiça, indolência.
iBahia - É ideal que o trabalhador passe por acompanhamento antes de retornar ao trabalho? SH - O ideal seria que toda empresa tivesse, na esfera do Recursos Humanos, um atendimento para essa pessoa que saísse de férias. É importante que a empresa tenha uma serviço atuante de RH que esteja bem atento ao comportamento e qualidade de vida dos funcionários.
iBahia - Geralmente, qual o perfil do trabalhador que sofre com esse tipo de depressão? SH - É uma pessoa que se entrega muito ao trabalho, os chamados
workaholics. São pessoas muito dedicadas, que se satisfazem e tendem a ter todo o
feedback positivo dentro do trabalho. Geralmente essas pessoas não têm o costume de ficar com a família e não costumam ter momentos de lazer. Quem possui transtorno obsessivo compulsivo também tem uma tendência maior a sofrer de depressão pós-férias.
iBahia - No caso das mulheres que voltam da licença maternidade, também existe o risco de sofrer dessa depressão? SH - O caso das mulheres que voltam da licença maternidade é diferente. Elas não estão classificadas como pacientes da depressão pós-férias, embora esse tipo de doença possa acontecer, essas mulheres estão garantidas pela lei, então elas não vão ficar deprimidas pela instabilidade que as férias pode causar às pessoas.