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SAÚDE

Especialistas discutem os benefícios da ‘dieta ioiô’

Dietas muito restritivas reforçam o conceito de “tudo ou nada”, já que a privação exagerada pode fazer as pessoas desencadearem mecanismos de compulsão

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Redação iBahia

25/02/2017 às 19:07 • Atualizada em 31/08/2022 às 21:59 - há XX semanas
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Entrar e sair de dietas constantemente pode, afinal, não ser tão ruim assim. A tese é de um nutricionista da Universidade do Alabama em Birmingham, apresentada esta semana no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, e assegura que o “efeito ioiô” pode ser uma opção melhor do que não tentar nada — o que contraria a visão médica corrente que prega que o ciclo interminável de perda e ganho de peso faz mal à saúde.

O pesquisador David Allison, do Centro de Pesquisas de Nutrição e Obesidade da universidade, fez testes em camundongos, submetendo alguns a dietas constantemente interrompidas, enquanto outros continuaram obesos. O grupo que aderiu e abandonou dietas teve maior expectativa de vida que os demais.

— Camundongos que eram obesos, mas que perderam e ganharam peso repetidamente, viveram mais do que os roedores que receberam permissão para permanecerem obesos — conta Allison, que compara os ajustes de peso a uma ida ao dentista:

— Se você fizer uma avaliação a cada seis meses, o dentista pode encontrar uma placa entre os dentes e vai raspá-la. Ele te dará uma nova escova de dentes e um fio dental e pedirá que você mantenha aquele cuidado. E seis meses depois, adivinhe, pode aparecer uma nova placa. É o mesmo que perder peso. E ninguém diz que a odontologia é um fracasso.

Melhor do que a inércia

Diretor do Departamento de Medicina da PUC-Rio e ex-presidente de Federação Mundial de Obesidade, Walmir Coutinho é favorável ao “efeito ioiô”, porque a tentativa de perder peso, diz, é sempre melhor que a inércia.

Coutinho lembra que a mudança de forma física remonta ao homem primitivo, quando havia períodos de abundância, com rápido acesso a alimentos; e outros de escassez, com emagrecimento e queima de gordura acumulada.

— Muitos nutricionistas avaliam que, se for para emagrecer e engordar, é melhor ficar gordo. Mas o “efeito ioiô” tem sido cada vez mais estudado. Não temos evidências científicas para condená-lo — pondera. — O problema é a dificuldade em encontrar a dieta ideal. Há testes genéticos em que podemos ver se uma pessoa deve cortar carboidrato ou gordura, por exemplo. A falta desta informação dificulta o engajamento ao regime.

De acordo com Coutinho, nove em dez pessoas desistem da dieta que programaram. Por isso, a melhor maneira de ficar em paz com a balança é planejar cada etapa com um nutricionista.

— É preciso ver se a pessoa deve tomar remédio, e por quanto tempo, ou se é suficiente combinar dieta e exercícios físicos — assinala. — Também devemos traçar metas, como a quantidade de peso que se deve perder a cada ciclo.

Chefe do Serviço de Nutrição na 38ª enfermaria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, Bia Rique alerta que a constante troca de dietas, entre diversas tentativas frustradas para perder peso, é péssima para o metabolismo.

— Dietas muito restritivas reforçam o conceito de “tudo ou nada”, já que a privação exagerada pode fazer as pessoas desencadearem mecanismos de compulsão que estavam adormecidos. Ou seja, a pessoa faz um regime radical por um período curto, extrapola, faz outra restritiva, excede novamente e, ao longo dos anos, nem saberá mais reconhecer o que significa fome, prazer, gula ou compulsão — explica.

A missão mais difícil para quem tenta entrar em forma, segundo ela, é incorporar hábitos saudáveis. Atitudes como mudar o prato e bater ponto na academia não devem ser encaradas como uma busca obcecada pelo corpo perfeito. São, na verdade, uma aposta no bem-estar.

— Sempre vale a pena tentar emagrecer ou mudar os hábitos para não engordar mais — destaca. — E isso inclui reconhecer dificuldades na alimentação. Sugiro “programar o abuso”, para que a pessoa possa incluir em sua dieta alimentos que não são considerados saudáveis, mas que dão prazer. E isso significa ter uma relação saudável com a comida.

Esses “abusos programados” fazem parte da dieta do psiquiatra Ricardo Krause, de 55 anos, que perdeu 22 quilos ao longo de seis meses.

— Tentei e desisti de diversas dietas e perdia no máximo dois ou três quilos — conta. — Descobri que tenho diabetes e, agora, preciso compensar uma vida inteira de maus hábitos. Mas isso não significa me sentir mal ou passar fome. Anoto minha alimentação todos os dias e tenho direito a pequenas transgressões, como consumir chocolate, bolo, sorvete ou caipirinha, desde que não perca meu ritmo.

Professora de pós-graduação de Endocrinologia da PUC-Rio, Isabela Bussade sublinha os danos causados pelo “efeito ioiô” ao organismo:

— Quem emagrece, além da gordura, perde tecido muscular. E, quando engorda, praticamente só ganha tecido adiposo. Então, quem troca muito de dieta e passa constantemente por este processo observa mudanças na composição corporal e no metabolismo. Há, inclusive, riscos cardiovasculares ligados a essas transformações.

Regimes

Isabela acredita que a consulta frequente a especialistas já é uma vitória, mesmo que os resultados ainda não sejam vistos na balança.

— É melhor ir ao médico do que não se manter sob vigilância. As pessoas que procuram consultórios médicos são mais atentas ao peso e, por isso, mais saudáveis do que aquelas que não buscam ajuda e optam pelo sedentarismo — compara.

Para a endocrinologista, a chance de abandono da dieta é muito maior quando há restrições na alimentação, sem adoção, ao menos por um período, de medicamentos. Isabela adverte que, dependendo dos resultados, a orientação do regime pode ser revista a qualquer momento. Em uma fase, por exemplo, a restrição seria mais voltada a carboidratos; logo em seguida, a proteínas. Segundo os especialistas, esta dinâmica, aliada à disciplina de cada um, vai repercutir em seu peso e comportamento — começa aí um estilo de vida saudável duradouro, sem “efeito ioiô”.

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