Não é de origem americana ou europeia a nova rede social que vem causando polêmica na internet. É saudita. Apesar de em árabe significar “honestidade”, o Sarahah têm gerado mesmo é muita indireta para pouco direito de resposta, após viralizar o envio de mensagens anônimas a terceiros. Atualmente, a rede social ocupa a segunda posição no top 10 dos aplicativos mais baixados na App Store, loja de aplicativos da Apple, atrás apenas do Whatsapp. Na Play Store, a versão para Android do aplicativo acumula mais de 5 milhões de downloads, passando na frente de plataformas como o Spotify, Netflix e até mesmo, pasmem, do Tinder.
Fundado no último mês pelo saudita Zain al-Abidin Tawfiq, de 29 anos, a rede conseguiu reunir mais de 300 milhões de usuários (entre aqueles que enviam mensagens e visitantes) - enquanto é gerenciada por uma equipe de apenas três pessoas. Até o momento, cerca de 300 milhões de mensagens foram compartilhadas na plataforma.
Não é preciso muita coisa para bancar o super sincero, basta apenas ter o link do perfil de uma determinada pessoa para enviar mensagens anônimas a ela. Enfim, não é necessário nem acumular mais uma rede social para administrar ou se cadastrar no aplicativo se quiser dizer o que acha ou pensa de alguém. Ah, e não adianta nem tentar descobrir de onde veio aquele elogio, critica, comentário ou feedback. Isto porque o site garante que nunca revelará sem consentimento a identidade daqueles que enviaram as mensagens.
Comentários Secretos
Esse joguinho de mistério caiu logo de imediato no gosto do estudante universitário Johene Matheus Amorim, de 20 anos. “Tem duas semanas e meia que eu baixei o Sarahah. Tinha visto o pessoal comentando sobre ele nas redes sociais, no Facebook e no Instagram. O que fez esse diferencial todo, que me chamou mais a atenção, é que porque recebe as mensagens, mas não pode responder. Os outros aplicativos não possuem isso”, conta.
Pelo menos uma vez por dia, Johene passa para dar uma verificada nas mensagens que recebe. Segundo ele, chegam elogios, mas há também muitos discursos de ódio que deturpam o conceito de honestidade. “É uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que eu recebo comentários tendenciosos e maliciosos, chegam mensagens maravilhosas de incentivo, de gente que diz que me admira, de que gostaria de me conhecer mais”.
Das mensagens que recebeu, pelo menos quatro delas o deixaram perplexo. “Eram comentários bem chocantes e com conteúdo pessoal, o que significa que a pessoa que me enviou me conhece ou é do meu circulo de amizade. Eu não esperava isso vindo de uma pessoa que eu provavelmente conheça, mas não sei quem é. Acho que o Sarahah vem com o intuito de preencher o ego da pessoa, não só meu, mas de quem também envia”, acrescenta.
Quem também se rendeu à rede social foi a estudante de Medicina Veterinária Karoline Magalhães, de 21 anos. “A maioria das pessoas gostam de saber o que os outros pensam sobre elas”, defende. Até agora ela não chegou a receber nenhuma ofensa. “Geralmente eu postava no meu Instagram algumas respostas e isso tem sido bem legal. A maioria das mensagens são de pessoas que, pelo que percebi, têm vontade de falar comigo, mas não têm coragem de fazer isso pessoalmente”.
Para o psiquiatra André Gordilho, é esse medo de se expor ou ser censurado que explica o porquê do aplicativo ter virado a sensação do momento. “Hoje em dia é muito difícil de falar o que pensa, principalmente se for contra a ideologia do politicamente correto. Esta pode ser a maneira que as pessoas podem se expressar sem se expor ou ser censurada”, assegura o especialista.
Ainda de acordo com Gordilho, os limites entre o "feedback" e a hostilidade podem ser muito tênues, fato que torna o bom senso fundamental. “É um efeito colateral. Existirão os debates sérios e de opinião, mas também haverá gente disposta a agredir, hostilizar, dentre outras coisas. Quem quiser se expor a este tipo de aplicativo tem que estar preparado”, completa.
Outros anônimos
Nos últimos anos, outros aplicativos já usaram do anonimato para atrair usuários sinceros, porém “tímidos”. No Secret, por exemplo, os internautas podiam compartilhar segredos, porém, o aplicativo foi encerrado em 2015, após uma série de problemas como a proliferação de bullying e suspensões judiciais, como aconteceu no Brasil.
Outro aplicativo na mesma linha foi o Lulu, que permitia que mulheres avaliassem os homens com notas e caracterizações como "Sai bem na foto" e "Dá sono". Mas a aplicação também enfrentou uma série de problemas na Justiça e atualmente não existe mais.
O Formspring foi outra experiência que apostou nessa linha de perguntas e respostas. Lançado em novembro de 2009, cresceu e foi considerado em 2010 como umas das ferramentas mais "inovadoras" da Internet. De lá pra cá atingiu mais de 30 milhões de usuários registrados e 4 milhões de posts. Com o surgimento e o sucesso de outras redes, como Facebook, Ask.fm e Google+, o Formspring foi perdendo o brilho e caiu no esquecimento, fechando as portas em março de 2013.
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Redação iBahia
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