A advogada Gabriela Mendes Reis Caldeira registrou um boletim de ocorrência contra um colega, no último dia 28, por constrangimento ilegal, após uma discussão durante uma audiência, em Salvador. A queixa, feita na 9ª Delegacia (Boca do Rio), cita o advogado Márcio José Magalhães Costa, contra quem Gabriela Caldeira também abriu um processo administrativo na Ordem dos Advogados (OAB-BA).
Ela alega ter se sentido agredida por Costa durante uma audiência no Fórum Regional I, no Imbuí, que lida com pequenas causas. Na gravação da discussão, obtida pelo CORREIO, é possível ouvir o advogado se dirigindo a Gabriela com as frases: “Minha presença te incomoda? Isso pode ser paixão, viu? Tá excitada?”. A advogada retruca: “O senhor deveria me respeitar”.
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Gabriela Caldeira advoga há nove anos e relata nunca ter se deparado com uma situação como essa. Ela afirma que vai levar o caso também ao Ministério Público da Bahia (MP-BA).
“Eu estava trabalhando e fui insultada. Se a gente tivesse discutindo em relação ao processo, estaríamos em igualdade como advogados. Mas ele passou para agressão de cunho sexual e de gênero. Isso me revoltou”, disse Gabriela ao CORREIO. O advogado, em nota, afirma que repudia qualquer ato contrário à dignidade da mulher (confira íntegra abaixo).
Durante o bate-boca, os dois levantam as vozes e Gabriela chama Márcio de mal educado e pergunta se ele vai bater nela. O advogado responde: “Você deveria tomar um calmante”. A discussão continua acalorada: “Você não respeita ninguém”, diz ela. “Se falar, vai ouvir. Eu não devo nada a você. Baixe sua bola”, afirma ele.
A advogada continua respondendo aos ataques e fica com a voz trêmula ao longo da gravação. Márcio debocha: “Isso deve ser paixão recolhida”. Ao final, Gabriela afirma: “Quem tem histórico aqui é o senhor”.
Fama
Sobre a declaração, ela explica que o advogado tem “fama” no meio jurídico, em Salvador, por conta de outras confusões com colegas. Dois advogados procurados pelo CORREIO confirmaram a informação. “Ele é conhecido por causar problemas nas audiências que participa”, declarou um advogado, que preferiu não se identificar.
A discussão foi registrada em áudio por uma advogada que deveria ter participado da audiência mas que, segundo Gabriela Caldeira, lhe pediu para substituí-la por já ter se encontrado profissionalmente com Costa outras duas vezes, e temer o comportamento dele.
Comissão da Mulher
O caso será discutido nesta quinta-feira (5) com a advogada Gabriela Caldeira em reunião fechada da Comissão da Mulher Advogada da OAB-BA.
A presidente da comissão, Andrea Marques, afirmou que a advocacia é uma profissão com “uma série de absurdos em relação a gênero”. Segundo ela, embates entre advogados durante a condução de processos são comuns, “no entanto, o caso saiu da questão do processo e atingiu a mulher na sua honra”. “Ele ofendeu a todas as advogadas da Bahia”, reforçou.
De acordo com a presidente da comissão, muitas mulheres naturalizam a violência moral ou têm medo de se expor, e por isso acabam não denunciando os casos de agressão sofridos no exercício da profissão.
Gabriela Caldeira explica que deu continuidade à denúncia porque teve coragem e deseja que esses casos não fiquem impunes.
Apoios
O caso repercutiu bastante nas redes sociais. “Mexeu com uma, mexeu com todas”, comentou uma internauta, após a repercussão do caso. “Infelizmente, isso é comum. Muita falta de respeito em diversas atitudes entre colegas”, comentou outra. “Estamos juntas e buscando vencer o medo. Gabriela, você não está sozinha. Sua dor é minha e de muitas”, apoiou mais uma usuária.
Um advogado, que não quis se identificar, também reforçou o apoio e citou situações já presenciadas por ele, e que demonstram o machismo no meio jurídico. “Uma vez um advogado me disse que não contratava mulheres porque elas ‘não aguentam o tranco da profissão’, e já vi cliente olhar para advogadas e reclamar: ‘não tem nenhum doutor para me atender’”, contou.
Nota do advogado Márcio José Magalhães Costa:
"Como Homem, pai, avô, filho, irmão de mulheres e Advogado repudio qualquer ato contrário à dignidade da mulher e me entristeço com a repercussão equivocada que o acontecimento envolvendo a minha pessoa teve, na medida em que provocado, fui ilicitamente gravado e induzido com fins de que a culpada passasse a ter ares de vítima. Com pesar. Márcio José Magalhães Costa".
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Redação iBahia
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