Com o Mosca era assim: vacilou, se ferrou. Nascido e criado na Gamboa de Baixo, ele era, de acordo com a polícia, o terror dos moradores do Campo Grande, Canela e Corredor da Vitória.
Escorregadio e flexível, passava pelas fendas dos apartamentos e casas sem chamar a atenção, praticando furtos, roubos e assaltos para sustentar o vício no crack. Se preciso, ameaçava as vítimas com uma garrafa quebrada.
Mas ontem pela manhã, Charles Santos de Castro, 33 anos, o Mosca, foi preso quando vagava pela Piedade.
De acordo com moradores do Campo Grande e policiais, Mosca representa o criminoso que vem tomando as ruas da região: usuário de drogas - principalmente crack, que pratica crimes para manter o vício. Depois de um assalto ou um arrombamento, parte em direção à Gamboa.
O bandido, que tinha mandado de prisão em aberto, foi detido no dia em que o CORREIO mostrou as ações criminosas de sacizeiros na rua Banco dos Ingleses, que liga a Gamboa ao Campo Grande e, de espaço pacato, virou zona dos bandidos.
“Ele (Mosca) era conhecido por praticar roubos, assaltos e arrombamentos, além de ser usuário e traficante de drogas”, contou a titular da 1ª Delegacia, Jamila Cidade.
A câmera do Edifício Tamoyo, cujas imagens que flagraram a invasão do prédio por um arrombador foram publicadas ontem, já captou uma nova ocorrência, ocorrida domingo: o ladrão passa na porta do prédio correndo com a bolsa de uma mulher após praticar um assalto na esquina da rua com o Campo Grande.
Segundo a delegada Jamila Cidade, cerca de 90% dos presos na 1ª Delegacia são usuários de drogas, em especial de crack, e roubam para sustentar o vício. Na capital baiana, esse tipo de ocorrência tem sido frequente em bairros nobres e de apelo turístico, o que só serve para aumentar a sensação de insegurança de moradores e turistas.
Para circular com alguma tranquilidade pelas áreas tomadas pelos “moscas”, os moradores vão criando táticas. “Quando passo pela rua, principalmente à noite,cumprimento os sacizeiros. Eles oferecem drogas e pedem dinheiro. Às vezes dou umas moedas pra evitar o pior. Eles dizem que posso ficar despreocupado porque ninguém vai mexer comigo”, conta o administrador de empresas Agdo Silva, 36 anos, morador da Banco dos Ingleses.
OcorrênciasSegundo a delegada Jamila Cidade, a região do Campo Grande tem índices de criminalidade menores que outras áreas de responsabilidade da 1ª Delegacia, como Lapa e Nazaré. Por isso, as ações ali ocorrem com menor frequência. “Muita gente não registra as ocorrências. Precisamos destes dados”, diz.
“Eu não sei como a situação está nas outras áreas. Só sei que aqui tem necessidade de mais policiamento. Outros lugares podem ser considerados mais perigosos, mas todo mundo sabe o que acontece nessa rua”, reclama a estudante Catarina Ribeiro, que mora no Edifício Anury, na Banco dos Ingleses, e já foi abordada na porta de casa por ladrões armados que levaram o carro de sua mãe.
Para outro morador da rua, Yan Vega, o número reduzido de registros de crimes ocorre porque muitos moradores têm medo. “Todo mundo tem medo de se expor. A polícia vem aqui uma semana, e na outra? Se você denuncia, de certa forma está se expondo”, diz Yan, que vive ali há 25 anos.
MigraçãoEm abril, o CORREIO já havia mostrado que o mesmo tipo de crime agora flagrado no Campo Grande virou coisa comum num bairro vizinho, a Barra. Em dois dias, cinco lojas foram arrombadas por bandidos que, segundo a polícia, também são usuários de crack.
Investigadores da 14ª Delegacia, na Barra, consideram que o trânsito dos sacizeiros entre bairros próximos dificulta a busca por esses criminosos. “Depois daqueles arrombamentos, eles botaram o pé no freio. Eles somem, mas depois todos voltam”, conclui Élson Caldas, chefe do Serviço de Investigação da 14ª DP.
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