“Bom dia! Qual o tipo de atendimento? Está marcado?”. Não era assim, mas há três dias esse tipo de triagem virou rotina na porta principal da Unidade Básica de Saúde (UBS) Ministro Alkimim, na Rua Lopes Trovão, Massaranduba, Cidade Baixa. Na quarta-feira (11), uma enfermeira daquela unidade foi assaltada dentro de uma sala de atendimento por um bandido que se passava por paciente. Arma apontada para a cabeça e celular roubado, além da intimidação de pacientes.
Desde então, a enfermeira não tem ido trabalhar. Na entrada, os portões, que antes ficavam abertos, agora permanecem fechados, com cadeados, e um funcionário questiona os pacientes que chegam para receber atendimento. “Tá todo mundo assustado. Foi a saída que encontramos para tentar inibir um pouco”, comentou um agente, que pediu para não ser identificado. Na sexta-feira (13), o CORREIO percorreu diversos postos de saúde e identificou situações de violência semelhantes vividas por profissionais de saúde do município. Quando dá 16h30 na Unidade de Saúde da Família de Itacaranha, Subúrbio Ferroviário, os colaboradores fecham o posto e vão embora. Meia hora antes do previsto. “É o medo da violência que pode ocorrer tanto dentro do posto quanto fora. Há locais em que faltam agentes de portaria e os funcionários ficam sozinhos. Além disso, em situações extremas, os porteiros não poderão fazer muita coisa. No Subúrbio, em geral, os postos fecham antes das 17h”, relatou um dos funcionários do posto. Mais perigosasEmbora não tenham estatísticas, o Sindicato dos Profissionais de Saúde da Bahia (Sindsaúde) e o Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindmed) apontam as unidades médicas de Ilha Amarela, Curuzu, Boa Vista do Lobato, Pau Miúdo e Itacaranha como as cinco principais unidades com maior número de queixas de violência contra funcionários. No Pau Miúdo, afirmou o presidente do Sindmed, Francisco Magalhães, bandidos costumam ir ao posto portando armas. “Há esse hábito no 16º Centro de Saúde. Em um dos episódios, durante a greve da Polícia Militar este ano, o criminoso chegou a quebrar a porta de vidro. Todos correram, exceto um deficiente físico que ficou sob a mira do bandido”, contou. Na Palestina, o tráfico de drogas amedronta colaboradores da Unidade de Saúde da Família do bairro. “A gente fecha o posto às 15h30. Todos vão embora porque os usuários de drogas agem perto da unidade. A equipe tem trabalhado com a prevenção, mas ainda assim não nos sentimos seguros”, lamentou uma funcionária. Resistência Segundo ela, há resistência por parte de médicos para atuar naquela USF. “Eles não querem vir com medo da violência. O resultado é a falta de atendimento em algumas especialidades. Além disso, o posto não tem um gerente”, sinalizou. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a relocação de servidores é feita, na maioria das vezes, por pedido pessoal. No entanto, o remanejamento só é realizado após a substituição do profissional para evitar que o cargo fique vazio. Na USF da Rua do Congo, em Periperi, também no Subúrbio, a convivência com os criminosos ocorre na base da política da boa vizinhança. “Não temos registros de assaltos na unidade, mas às vezes eles aparecem e pedem uma coisa ou outra. A gente dá para agradar. É a lei do convívio. Se negar uma seringa, por exemplo, pode parecer que a gente tá querendo irritá-los”, revelou um integrante do posto médico.
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