O publicitário Edson Pereira dos Santos Júnior, 26 anos, tinha acabado de sair do aniversário do pai, em Mussurunga, junto com o irmão e a cunhada, no último domingo. Todos estavam em um Ford Fiesta e seguiam para casa, em São Cristóvão. Era noite e chuviscava. Mesmo com a atenção redobrada e a 50 quilômetros por hora, Edson não evitou a dor de cabeça. Os dois pneus furaram após passar por uma cratera na Avenida Paralela, na altura do posto 3, sentido Aeroporto.
Edson acabou a noite debaixo de chuva, dividindo a angústia com outros motoristas que já haviam caído na armadilha e estavam parados à espera de ajuda. “Quando cheguei, tinha uns 15 carros parados e depois não parou de chegar mais”, contou Edson. De acordo com a Transalvador, 55 motoristas tiveram problemas ao passar pelo buraco - de aproximadamente 20 centímetros de largura, 10 de comprimento e 15 de profundidade. Na noite de domingo, foram 40 acidentes e, na madrugada de ontem, mais 15. Segundo quem passa por lá todos dos dias, a cratera se abriu nesse fim de semana, mas o número de vítimas em tão pouco tempo lhe deu fama. No domingo à noite, virou até alvo de protesto. “Alguns motoristas mais nervosos atravessaram os carros na pista, gerando um engarrafamento gigantesco”, lembrou Edson. O publicitário chegou a acionar o guincho do seguro, mas optou pelo socorro de um tio e um primo, que lhe emprestaram o pneu reserva. “Quando liguei para a seguradora, a atendente disse que o tempo de espera era de 2 horas, porque chovia muito e os guinchos estavam atendendo outras chamadas do gênero”. O bancário Rodrigo Oliveira Silva, 28 anos, ficou surpreso por ter caído no buraco. “Como passo ali todos os dias para voltar do trabalho para casa, já conheço aqueles buracos que estão ali há mais tempo, mas este... Fui pego de surpresa. Não deu tempo para desviar”, declarou Rodrigo, que teve um dos pneus estourado. Funcionário do posto 3, Carlos Santana disse que ontem, no início da manhã, assistiu de camarote o ensaio de novos acidentes, que por sorte não se repetiram. “Só ouvia o barulho dos carros freando de vez. Eram motoristas pegos de surpresa. Não sei como algo pior não aconteceu”, relatou. Dona da oficina Jacarandá Pneus, na entrada de Mussurunga, Maria José Nascimento, 57, disse ter atendido parte das vítimas do buraco. “Chega deu dó. Tinham pneus que novos custam R$ 500. São de aros 15, 16, 17. Normalmente eram os pneus dianteiros e traseiros do motorista. Não é só o prejuízo financeiro, mas o risco de um acidente”, ponderou. PaliativoNa segunda (20) pela manhã, agentes da Transalvador isolaram o buraco com cones para evitar mais transtornos, o que gerou um engarrafamento na região. Horas depois, o buraco foi tampado pela Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop). “Esse buraco começou com uma abertura discreta e tomou essa proporção com a chuva do fim de semana. É surpreendente como nossas vias são de papel”, ironizou o taxista Alfredo de Jesus, 55, que parou para conferir o trabalho de prefeitura: “Quase perdi o pneu quado passei por ele no domingo. Tive sorte”. A pedagoga Marta Oliveira, 40, que também abastecia seu veículo, afirmou que uma amiga foi uma das vítimas do buraco. “Foi um prejuízo de R$ 600 com a troca dos dois pneus. Ela estava com a mãe e a sogra quando passou pela cratera. Na hora, devido ao susto, por pouco não perdeu o controle do carro”, contou. O estudante de Contabilidade Natanael da Costa, 25, custou a acreditar que a namorada escapou de um acidente grave. “Ela vinha sozinha. Chovia muito, quando o carro dela, um Punto, passou por cima. O pneu bateu de quina e ela quase rodou na pista”, relatou o rapaz que, ontem, passou por lá só para conferir a cratera. “O pneu parecia que tinha sido rasgado com uma faca pelo tamanho do buraco. Ela está traumatizada”, contou. Segundo ele, a namorada, que tinha saído do Shopping Paralela rumo a sua casa, em Stella Maris, teve de chamar o pai para ajudar a tirar o veículo. Só no secoCom o volume das chuvas nesta semana, a prefeitura, através da Sucop, teve de suspender as ações de recapeamento asfáltico e tapa-buracos que estavam sendo desenvolvidas. Para evitar acidentes em locais críticos, está sendo utilizado o asfalto frio, que tem baixa fixação. Esse material foi colocado ontem em buracos na Avenida Paralela. Essa é uma medida paliativa em dias chuvosos, quando os trabalhos com asfalto quente são suspensos devido à dificuldade de aderência do material. “Temos dois tipos de asfalto: o quente e frio. O quente, que resolve, não podemos usar por causa da chuva que compromete a durabilidade. Estamos usando o frio, que é mais caro e fica uns dez dias em tráfego grande”, justificou Paulo Fontana, secretário municipal de Infraestrutura, Defesa Civil e Habitação. Segundo ele, todo o asfalto de Salvador está com a vida útil comprometida. “Com exceção da Luis Eduardo Magalhães, as demais têm mais de dez anos que não são pavimentadas”, afirmou, acrescentando que obras definitivas já estão sendo realizadas. População improvisa alertas para evitar acidentes“Queijo suíço”. É assim que os moradores do Cabula estão apelidando a Avenida Silveira Martins, a principal do bairro, por causa dos inúmeros buracos na extensão da via. Entre as crateras mais famosas estão aquelas localizadas em frente ao Colégio Estadual Visconde de Itaparica, nas imediações do 19º Batalhão do Exército. São aberturas no asfalto que fazem motoristas pôr em risco as suas vidas e as de pedestres ao realizar manobras para desviar dos buracos. “Um ônibus quase atingiu de frente um carro, quando passou para a mão contrária para sair do buraco. O motorista do carro freou bruscamente quando deu de cara com o coletivo. Isso não tem cinco dias”, contou Jairo Barbosa, 30, servente da colégio estadual. Para ajudar os motoristas, moradores colocaram folhas de bananeira nas crateras, solução que se desfaz com a chuva. Na sexta-feira, um motoqueiro caiu ao não perceber o desnível. “Ele vinha em alta e não viu. Tombou e não morreu por pouco. A sorte dele é que estava com capacete”, lembrou Jorge dos Santos e Santos, 35, vendedor ambulante. Como as ações paliativas de tapa-buracos logo se desfazem, devido ao grande fluxo de veículos, a Sucop assegura que a Silveira Martins será totalmente recapeada ainda neste semestre.
O serviço também será realizado na Avenida Bonocô, onde ontem, no sentido Dique, cadeiras e galhos foram usados para sinalizar os motoristas de que o perigo estava à frente. “Pela manhã, eu e mais quatro amigos tivemos que tirar na mão um carro que ficou preso no buraco”, contou o borracheiro Adailton Pereira, 34, que comemora a quantidade de serviço. Na Estrada das Barreiras, a situação não é diferente. Na entrada do bairro da Engomadeira, um buraco tem dado dor de cabeça também para os padestres, pois está localizado na frente de um ponto de ônibus. “Os ônibus, para não ficarem no buraco, e para não molhar a gente, estão parando fora do ponto”, conta a cuidadora de idosos Rosemeire Portugal, 22.
Prefeitura diz já ter destinado R$ 32 milhões a asfaltamento A prefeitura de Salvador informou já ter gasto 8,9 mil toneladas de asfalto em operações tapa-buraco desde o início do ano. Já foram investidos cerca de R$ 4 milhões e a previsão do executivo municipal é direcionar mais R$ 15 milhões nos próximos meses para os reparos emergenciais. Até junho, serão 20 equipes nas ruas. Segundo a prefeitura, a operação tapa-buracos reparou 675 quilômetros desde o início do ano, em 71 bairros e avenidas. Devido à greve dos servidores, iniciada no dia 10, a usina de asfalto está paralisada. Para dar continuidade à operação, o município está comprando asfalto em usinas privadas. O serviço nas ruas é realizado por empresa terceirizada, conforme contrato em vigor, firmado pela gestão anterior. A prefeitura informou, em nota, que já foi iniciado o trabalho de pavimentação definitiva de algumas vias, com a retirada da malha antiga e composição total de asfalto novo. Para essa ação, serão investidos R$ 17 milhões – cinco milhões já estão sendo aplicados em obras de recapeamento asfáltico da orla (entre a Pituba e Itapuã), Avenida Juracy Magalhães e no bairro do Caminho de Areia, na Cidade Baixa. Na Avenida Paralela estão sendo realizadas intervenções com asfalto frio nas imediações do supermercado Extra, Bairro da Paz, na altura do Posto 3, e na saída do Alphaville. Na avenida marginal, que dá acesso à Unijorge, as ações emergenciais começaram semana passada, mas foram suspensas devido às chuvas no domingo. Matéria original do Correio Buraco na avenida Paralela já fez mais de 50 vítimas no final de semana
Agente Lucas faz as contas: foram 40 carros quebrados no domingo e mais 15 na madrugada de ontem, em um único buraco próximo ao Posto 3 |
População colocou caixotes e cadeira em buraco na Bonocô, sentido Centro, para evitar novos acidentes |
Espaço para carro ficou pequeno na Cardeal da Silva, Rio Vermelho |
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