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Chorar pode não resolver, gritar muitas vezes cansa, mas, os moradores de Sussuarana não conseguiam pensar em outra coisa que não fosse colocar os joelhos no chão e pedir, aos gritos, ajuda de Deus. “Minha casa acabou de descer, só consegui sair com a roupa do corpo. O que vou fazer, meu Deus?”, grita Marcelo da Silva, 29 anos Os móveis e eletrodomésticos da casa de Marcelo se misturavam com os destroços da casa e a lama que desceu do barranco. Ele tentou segurar as lagrimas e correr para pegar seus objetos, mas, os moradores não deixaram arriscar a vida. Alguns minutos depois de cair tudo, seu telefone toca. Do outro lado da linha sua esposa que estava prestes a sair do trabalho para ajudar a recolher os utensílios de casa. Antes mesmo que ela falasse qualquer coisa, Marcelo começou a chorar e dizer que eles já haviam perdido tudo. “Meu amor, agora já era, caiu tudo! Estamos sem nada em casa. Não sei o que vamos fazer”, completa. Ao lado da casa de Marcelo, outra residência que está condenada. Os moradores tentam tirar o que conseguem antes que venha tudo ao chão. Geladeira, botijão de gás, teclado de computador e roupas, tudo estava sendo transferido para a casa de uma vizinha. “A casa do vizinho está prestes a cair, estamos carregando tudo que conseguimos. Minha casa já desceu junto com as bananeiras. Eu perdi tudo, não quero que meus amigos também percam”, comenta Ana Rita, 34 anos. Segundo os moradores, eles acionaram a Defesa Civil mas até o momento nenhum engenheiro ou fiscal foi atender os chamados da comunidade. D. Carmozina Matos, 74 anos, acordou cedo para ir busca, na sede da Codesal (Defesa Civil da Prefeitura de Salvador), um plástico preto para colocar no barranco atrás de sua casa, mas a chuva não permitiu que ela descesse nem mesmo a escada feita sobre o barranco. “Moro aqui há mais de 40 anos, essa é a primeira vez que uma casa desaba. Não consigo dormir, porque a água entra por todos os cantos. Com essa chuva não consigo nem sair de casa, fico aqui com tudo alago. Sempre peço a ajuda de Deus”, completa. As casas e muros do bairro correm o risco de cair a qualquer momento. As estruturas do local estão com rachaduras e infiltração por toda parte. “Minha casa está com o barranco caindo atrás. O quarto da minha filha está com muita infiltração. Tenho que sair daqui, mas, vou para onde? Moro aqui há 25 anos, não tenho mais nada”, fala Djanira de Jesus, 49 anos. O bairro conhecido como Velha Sussuarana também sofreu com a chuva que cai desde à tarde da última quarta, 14. Os fortes ventos e o grande volume de água fizeram com que casas construídas em encostas caíssem. A noite da quarta-feira foi marcada por gritos de desespero e lágrimas de tristeza. “Ver uma casa caindo é a coisa mais triste da vida. Essa lama veio toda das casas que caíram, estamos tentando ajudar os moradores daqui”, conta Nelson de Jesus, 40 anos A ponte, improvisada por moradores, liga a rua principal a escadaria que corta o bairro. Para ajudar a minimizar a quantidade de barro, moradores se reuniram para juntos tirarem o excesso antes que viesse a próxima chuva. “O pessoal está ajudando. Tem uma casa que está correndo risco, mas, conseguimos tirar o pessoal de dentro. Pior é a casa de meu cunhado, que foi trabalhar, ela pode desabar também”, fala Marcos Roberto, 36 anos. Junto com o barro, fezes. Um cano de esgoto quebrou com a força da água e uma casa, que fica na encosta, teve seu primeiro andar invadido pela mistura. Enquanto os homens carregavam os utensílios domésticos para o segundo andar, mulheres tentavam tirar a água com baldes e rodo. “Os canos de esgoto estouraram. Desceu tudo de vez. Até as galinhas que estão soltas por aqui morreram soterradas. Montamos uma força tarefa para ajudar as casas afetadas”, diz Cezar Lima, 37 anos. O maior perigo do local são os barrancos. Muitas casas estão construídas em locais que podem sofrer deslizamentos. Como uma residência está em baixo da outra, a queda poderá fazer um efeito dominó e derrubar não uma, mas quatro ou cinco casas. Moradores estão se mobilizando e tentando tirar das residências os objetos mais importantes. Muitos deles não têm onde colocar as coisas e preferem rezar e pedir que nada aconteça. A maior preocupação dos moradores da velha Sussuarana é com uma familia de pessoas especiais. Segundo membros da comunidade, a casa, que tem um barraco atrás, é habitada por deficientes e corre o risco de vir abaixo caso continue chovendo. “Tentamos tirá-los de casa, mas vamos levar para onde? Minha casa também está correndo perigo. Ligamos para a Defesa Civil e até agora nada. Precisamos ajudá-los”, ressalta Nelson de Jesus. Apesar dos estragos, a previsão é de chuva para os próximos três dias. Segundo o sistema de meteorologia de Salvador, o volume de água será menor do que nas últimas semanas.