O Centro de Umbanda Oxum Apará (Cumoa), em Salvador, sofreu um ataque durante uma festa beneficente. A ação ocorreu por volta das 19h do último sábado (11), durante show do grupo Armandinho Dodô & Osmar.
O espaço, que funciona na Rua Luciano Pacheco, em Piatã, existe há 47 anos e foi fundado por Hebe Macedo, viúva de um dos inventores do Trio Elétrico, Osmar Macedo. Atualmente, o centro é coordenado pela filha mais jovem de Osmar, Taiane Macedo.
"Estamos em consternação. Nós fizemos o baile para arrecadar fundos para o centro, não teve nenhum tipo de manifestação religiosa", lamentou Taiane. Ela disse ainda que logo no início do show, por volta das 18h30, o vizinho que realizou o ataque lançou três rojões no meio da festa.
"Nós paramos a festa e e falamos com ele, então continuamos o show. Quando Ana Mametto começou a cantar, jogaram de novo e só pararam quando meus irmãos [os irmãos Macedo] entraram no palco", afirmou Taiane. No momento do ataque, cerca de 150 pessoas estavam na festa.
Três pessoas ficaram feriadas: uma na perna, outra no pé e uma terceira no tímpano. Elas foram atendidas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itapuã e passam bem. "A pessoa que feriu o ouvido irá hoje para um otorrino para ser melhor examinada", disse a responsável pelo centro.
Intolerância
De acordo com a Mãe Taiane, o vizinho responsável pelo ataque já se declarou contrário aos trabalhos realizados pelo centro. Ele teria dito a outro vizinho que "odeia macumbeiros" e queria as pessoas que frequentam o espaço longe da casa dele.
"É um caso de intolerância. Ele não conhece o nosso trabalho, não sabe o que fazemos aqui, mas mesmo assim se manifesta dessa forma. Se ele estivesse incomodado com alguma coisa, poderia chegar e conversar conosco", desabafou a coordenadora do centro. Ela disse ainda que esta não foi a primeira vez que o local é atacado.
"Em outubro fizemos uma festa cigana aqui e essa mesma pessoa jogou dois rojões, mas felizmente ninguém ficou ferido", contou. O centro, que foi fundado em 1969, começou a funcionar no bairro do Bonfim, na casa da família Macedo. Há cerca de dois anos foi transferido para o bairro de Piatã. Segundo a Mãe Taiane, o centro atende hoje cerca de 300 pessoas.
O caso foi registrado na 12ª Delegacia de Polícia Civil (DT/Itapuã). As pessoas que ficaram feridas farão exame de corpo de delito. "Estamos tomando todas as medidas necessárias para que essa pessoa seja devidamente responsabilizada", completou Taiane.
Denúncias de intolerância religiosa crescem mais de 330% em 1 ano
O número de denúncias de casos de intolerância religiosa contra religiões de matrizes africanas têm crescido na Bahia. Segundo dados do Ministério Público, até o mês de novembro de 2016 foram registrados 56 casos, sendo que apenas um deles não foi direcionado para prática religiosa de matriz africana. Em 2015, foram registrados 13 casos. Isso significa um aumento de 330% em um ano.
Motivado pelo aumento, o órgão expediu uma nota técnica que orienta os promotores sobre a imposição de limites sonoros durante cultos e liturgias de religiões de matriz africana. De acordo com a promotora Lívia Santana, muitas denúncias de poluição sonora que chegam ao MP são, na verdade, casos de intolerância religiosa sobre os cultos praticados nos terreiros de candomblé, e não crime ambiental.
“A nota orienta que os membros do MP analisem com mais afinco esses casos, antes de assinarem um termo de ajustamento de conduta, antes que inviabilizem a atividade do terreiro, obrigando a fazer isolamento acústico, por exemplo. Que se coloque na balança os dois direitos, liberdade de crença e do ambiente”, explicou a promotora.
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Redação iBahia
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