Quem não conhece alguém que já aproveitou a gratuidade para estacionar no shopping, quando, na verdade, tinha outro destino? É esse usuário que os shoppings pretendem inibir com a cobrança por suas vagas, liberada pela Justiça. “Não dá para calcular o índice de quem estaciona no shopping e vai pra outro lugar mas, seguramente, é uma quantidade significativa”, diz Edson Piaggio, coordenador na Bahia da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Sincera, a esteticista Tânia Pereira, 42 anos, admite que sempre que precisa ir na Avenida Sete, no Centro de Salvador, não pensa duas vezes.
“Eu estaciono no shopping, fico com medo de estacionar na rua, a insegurança está grande na cidade”, diz ela, para argumentar em seguida: “Mas a gente sempre acaba passando, vendo uma vitrine, se gostar de alguma coisa leva. É só ter um preço bom”. Esta semana, a Justiça estabeleceu prazo de 30 dias para que a Superintendência de Controle de Ordenamento do Uso do Solo (Sucom) regulamente a cobrança. Fica o lamento para os clientes, afinal, todos terão que pagar. “Direto chego no shopping e não encontro vaga. Os estacionamento vivem cheios de carros de gente que deixa e vai embora. Conheço muitos colegas que fazem isso”, conta o aposentado Antônio Dionísio dos Santos Neto, 55, frequentador do Shopping Barra. O servidor público Itanajara José da Silva, 59, diz conhecer pessoas que deixam o carro no Shopping Iguatemi até por mais de um dia para viajar. “As pessoas atravessam para a rodoviária e viajam. Ou trabalha na Avenida Paralela e vai de carro só até o shopping. De lá pega um ônibus e depois volta”, relata Itanajara. Para o coordenador da Abrasce, esse problema vai diminuir. “Tenho certeza que os compradores vão ter mais facilidade para achar vagas”. Dicas Para o engenheiro agrônomo Aécio Júnior, 45 anos, se o estacionamento será cobrado, é preciso investir em vigilância. “É tudo automático, não tem ninguém cuidando. Se o problema for esse, de gente que para e vai a outro lugar, colocar gente trabalhando iria coibir”, sugere. Nesse caso, o aposentado Nilson Gregório, 58, que também admite estacionar no Center Lapa quando precisa ir ao centro da cidade, teria que mudar de hábito. Aliás, com a notícia da cobrança, ele já está pensando nisso: “Vou encontrar meus meios de evitar vir no shopping, buscar comércio mais perto de minha casa. Ou vir mesmo no shopping, afinal você acaba quase sempre comprando alguma coisa quando tem algo para resolver e para aqui”. Nesse jogo das vagas, tem até quem vá a um shopping e para na concorrência. “Às vezes, a gente vem no Center Lapa e o estacionamento está lotado e acaba estacionando no shopping do lado (Piedade)”, revela Hilda Neri. Procurada, a Sucom informou que ainda não foi notificada oficialmente da decisão judicial e não se pronunciaria. Já a assessoria do prefeito João Henrique, que deixa o cargo no dia 31, afirmou que ele ainda vai lutar contra a cobrança. “Ele nunca se deu por vencido e, durante os quase oito anos de mandato, saiu vitorioso. Até o último dia, não vai ter a cobrança do estacionamento”, declarou a assessoria. Disputa judicial por cobrança se arrasta desde 2003 Na quarta-feira, o juiz Benedito da Conceição dos Anjos, da 7ª Vara da Fazenda Pública, determinou que a Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom) regulamente a cobrança dos estacionamentos dos shoppings em até 30 dias.A decisão saiu cerca de um mês após a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) solicitar à Justiça a execução provisória da sentença que vem se arrastando desde 2001. Em 2003, a então titular da 7ª Vara já tinha dado ganho de causa aos shoppings, decisão mantida em 2005 pela Câmara Especializada do Tribunal de Justiça da Bahia, e em 2011 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).A última tentativa da prefeitura de derrubar o mandado de segurança pedido pela a Abrasce é um recurso extraordinário que aguarda a decisão do Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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