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SALVADOR

Conhecido pelas praias, Paripe é o líder do ranking de homicídios

O belo pôr do sol e a efervescência das ruas do bairro contrastam com a violência

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13/07/2011 às 11:39 • Atualizada em 28/08/2022 às 4:51 - há XX semanas
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Por maior que seja o dicionário, não é fácil encontrar palavra que, sozinha, descreva com fidelidade a praia de Tubarão, em Paripe, Subúrbio Ferroviário de Salvador. Marisqueiras catam o sustento na maré baixa, crianças viram engenheiras na areia úmida e pescadores puxam a rede da madrugada como se vivessem num balneário ao alcance de poucos.
O que as marisqueiras, as crianças e os pescadores talvez nem imaginem é que estão no bairro de Salvador onde mais pessoas foram assassinadas este ano, segundo o boletim da Secretaria da Segurança Pública (SSP), que desde 17 de janeiro enumera morte por morte na internet. Em Paripe, foram 32 vidas a menos até domingo, quando a lista registrou seu milésimo nome entre capital e Região Metropolitana. Ontem, Valbert Prado Santos, 24, virou o número 33 do bairro.
Visual da praia de Tubarão, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, não combina nem um pouco com o número de homicídios de Paripe, o primeiro bairro no ranking de mortes
Vivendo Alheio às estatísticas, Gilvandro Luiz da Fonseca, 38 anos, observa os três filhos correndo pela praia de Tubarão. O metalúrgico saiu do Rio de Janeiro há um ano e meio para viver em Salvador. Buscou abrigo numa rua próxima à Estrada da Cocisa, dando de ombros para a fama de zona de desova da área. Gilvandro conta que a violência do bairro nunca o atingiu, mas ele jamais deu mole pra ela. “Só saio de noite pra ir ao culto. Meus filhos não brincam na rua sem mim de jeito nenhum”, garante. Frequentadores da Assembleia de Deus, Gilvandro e a mulher Gláucia se equilibram entre as preces para não serem alcançados pelos números letais e o esforço para que a vida não pare. “Sensação de segurança? Isso aí acabou há muito tempo. Mas... Fazer o quê?”, diz ele.CONFIRA O NÚMERO DE HOMICÍDIOS POR BAIRROS EM SALVADOR A resignação do carioca é a mesma de José Jeferson Pinho, 60 anos de vida e Subúrbio, 13 em Paripe. Ao lado de sua banca, abarrotada de aipim manteiga, acompanha o movimento da Avenida Eduardo Dotto: enquanto lojas de eletrodomésticos disputam clientes e ambulantes vendem de refrigerante a celular, uma morena de pernas firmes encosta no cachorro-quente. E só então Paripe para. “Ó pra lá, maluco!”, exclama, de passagem, um estudante do Colégio Estadual Almirante Barroso. “É assim todo dia. A gente ouve falar de violência, morte, mas a rua está sempre cheia”, conta José Pinho ao entregar três quilos de aipim a Magaiver, motorista do CORREIO. “Fica R$ 45”, cobra, se referindo, na verdade, aos R$ 4,50 muito bem pagos. Disputa Não longe dali, no fim de linha de Paripe, os discursos são mais ressentidos. Um grupo de jovens logo deixa transparecer um misto de medo e raiva em relação “aos ‘cara’ do Bate Coração”. “Aí dentro só tem vagabundo. Eles ficam nessa disputa pra vender droga e saem matando. A polícia tinha que invadir era aí, não no Calabar”, diz um rapaz de 30 anos, sobre a implantação da primeira Base Comunitária de Segurança da capital baiana. O Bate Coração é uma das muitas localidades de Paripe. “Quem é doido de entrar nessa porra? Pior é que esses ‘cara’ saem daí pra tirar onda com a gente aqui embaixo”, continua o mesmo rapaz. Portelinha 1, Portelinha 2, Nova Canaã e Muribeca são só mais algumas comunidades que não andam bem cotadas pelas ruas do bairro. “Antes tinha festa aqui no fim de linha. Se fizerem uma agora vai ter um bocado de morte pra botar no jornal”, diz outro rapaz do grupo. “Sou capaz de entrar no Bate Coração com a polícia só pra mostrar os esconderijos”, completa. Paz Por outro lado, há os mais cautelosos, como Carlos Alberto, 50 anos, dono de um bar no bairro em que vive desde os 5. “Marginal e gente de bem tem lá dentro (aponta para o lado do Bate Coração) e aqui na rua”. Em seguida, ele afirma que a maioria dos moradores de Paripe conhece os bandidos. “Às vezes passo por um deles e cumprimento, não quer dizer que é meu amigo”, diz.
Para evitar confusão em seu bar, Carlos filtra o repertório musical e evita fazer grandes festas. “Eles (os criminosos) nem encostam”. Então, lembra de um conselho da mãe que serve para todos que querem distância dos homicídios: “Se dê, mas não se misture”. Encerrando a conversa, Carlos se diz cansado da violência e fala do bairro, do baba na rua, do intenso comércio. Cumprimenta vizinhos que passam, acena pra outros ao longe, brinca com uma menina da casa ao lado que chega da escola. Quer ir mais à praia de Tubarão. “É bom de vez em quando dar um mergulho pra renovar. A praia é tão bonita, né? Pertinho...” Pertinho é, mas depois de um texto inteiro, ainda é difícil descrevê-la com precisão. Pra não ser injusto com os moradores de Paripe, melhor ficar só com a foto.
Estatística surpreende políciaEntre os moradores de Paripe ouvidos pelo CORREIO, a afirmação é unânime: tem muitos policiais nas ruas. Para o major Couto, comandante da 19ª CIPM, a visão da população é resultado de “um trabalho intenso de policiamento ostensivo, com abordagens a todo momento”.O oficial se surpreendeu ao saber que Paripe tinha o maior número de homicídios no boletim da SSP e argumentou que muitas mortes registradas no bairro são casos de encontro cadavérico. “Temos mortes sim, mas está diminuindo. Só que temos muitas áreas isoladas usadas em desova”, disse.
O delegado Antônio Carlos Magalhães, titular da 5ª DP, concorda com os moradores que dizem que boa parte das mortes é causada por disputas de traficantes. “Mas a maior parte dos chefes do tráfico no Subúrbio está presa”, ressaltou. O principal objetivo do delegado agora é prender José Alves Neto, o Dedeco, que atua na região da Cocisa.

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