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Calabar: Tráfico se adapta para sobreviver após instalação da Base Comunitária

Traficantes, antes donos do espaço, agora passaram a se esconder e agem disfarçados nas ruas do Calabar

• 19/06/2011 às 9:05 • Atualizada em 27/08/2022 às 12:25 - há XX semanas

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Traficantes agora passaram a se esconder e agem disfarçados nas ruas do Calabar
É domingo no Calabar e, autorizado pela Polícia Militar, um pagode na quadra da comunidade recebe os moradores para celebrar mais uma semana de paz. Afinal, foi ali que a Secretaria da Segurança Pública (SSP) implantou a primeira Base Comunitária de Segurança, inspirada nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio de Janeiro. O evento, antes proibido pelos traficantes, agora recebe também os próprios criminosos, que tentam se adequar à nova realidade. Como qualquer empresa que tem que se adaptar a novos cenários, o tráfico mudou. Depois da instalação da Base, no dia 27 de abril, os bandidos perderam poder, não mandam mais, mas sobrevivem. A própria comandante da Base, a capitão Maria Oliveira reconhece a presença dos traficantes. “Eles estão estudando nossos movimentos, nossas ações para poder agir. Sabem quando trocamos nossos turnos, por onde estamos andando. Eles estão se adequando ao nosso dia a dia. É um tráfico camuflado, readequado à presença da polícia”, explica. Levantamento do Disque-Denúncia mostra que desde 1º de abril o órgão recebeu 45 ligações com informações sobre crimes no Calabar. Dessas denúncias, 43 são de tráfico, com informações como paradeiro de criminosos e esconderijos de drogas. Varejo - De acordo com a polícia, a adaptação do tráfico é natural. A experiência de policiamento comunitário em outras cidades, mostra que o comércio de drogas não acaba - e nem é esse o objetivo do projeto, segundo o próprio coronel carioca Robson Rodrigues da Silva, comandante das UPPs do Rio de Janeiro. “O objetivo da UPP é devolver o território à comunidade, tentando erradicar os crimes contra a vida - homicídio e tentativa de homicídio”, explica. “O tráfico de drogas, no entanto, é um problema internacional e não teria nem como as secretarias de segurança estaduais acabarem com ele. O que a gente observa nas UPPs, no entanto, é que o tráfico deixa de atuar com grandes quantidades e passa a agir no varejo, vendendo direto ao consumidor”, conta. O intercâmbio de experiências entre as secretarias de Segurança e comandantes dos dois estados tem sido importante. A capitão Maria admite que focos de tráfico devem existir e sabe das denúncias. “Liguei outro dia até para o comandante de uma UPP do Rio e perguntei: Como isso acontece aí? Vocês também recebem essas denúncias todas? E chegamos à mesma conclusão. Eles (os traficantes) não têm nada a perder, então precisam se readaptar”, explica ela, reforçando, porém, que desde a instalação da Base não houve registros de homicídio e que os moradores transitam livremente e tendo acesso a novos serviços - principal meta do projeto. Os moradores confirmam que a Base transformou a forma de vender drogas no Calabar. A venda não é mais ostensiva, feita por homens armados, e passou a ser uma coisa de menor porte. “Expulsaram a morte, mas o tráfico continua, mas em pequenas doses, mais camuflado. O que interessa é que nosso bairro está melhor que a Barra. Lá se fuma mais crack a céu aberto que aqui”, diz uma moradora que vive no Calabar há 40 anos. À noite, os moradores relatam que bandidos se escondem em casas já revistadas pelos policiais da Base. Nessas visitas, é necessário que o morador disponibilize tudo. “Eles entram e você é obrigado a ceder sua cama, seu prato de comida e ainda rezar para que nada aconteça. Passei a noite orando para que nenhum policial chegasse na minha casa”, conta um comerciante. Floquet denunciada - Uma das 43 ligações recebidas pelo Disque-Denúncia (3235-0000) que apontam pontos de vendas de drogas e responsáveis pelo tráfico de entorpecentes no Calabar traz uma revelação importante: Simone da Silva Floquet Miranda - representante da família que criou uma dinastia no domínio das comunidades do Calabar e Alto das Pombas - é quem está no comando. Simone é tia de Leandro Floquet, o Léo, que comandava o tráfico na região até maio de 2010, quando foi morto. No lugar dele, assumiu sua a mãe, Selma Floquet, presa em setembro do ano passado. Simone subiu em seguida e comandaria o tráfico, principalmente a venda de drogas na localidade conhecida como Bomba. Simone foi presa em 2009, após ter sido condenada em 16 de abril de 2007 a 3 anos e 6 meses por tráfico. A comandante da Base, capitão Maria, porém, diz desconhecer a presença dos Floquet. “Não tenho como afirmar que Simone ou qualquer outro integrante da família Floquet esteja comandando venda de drogas aqui”, afirma. O titular da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE), delegado Daniel Pinheiro, também preferiu minimizar a importância da traficante e assegurou que é capaz de capturá-la a qualquer momento. “Ela é usuária de drogas. Não tem controle nenhum. Não há líderes no Calabar. E, se tiver algum traficante lá, é só a comunidade nos ajudar com informações e denúncias anônimas que vamos imediatamente aos locais e todos serão presos”, garante. Camuflagem é fundamental para o tráfico - Com presença da polícia, tráfico agora procura se disfarçar nas ruas. Se antes os traficantes andavam livremente com suas armas à mostra e ameaçando moradores, agora a camuflagem se tornou estratégica para que as vendas continuem. Esse disfarce exige dos traficantes investimento financeiro. Moradores e policiais contam que muitos criminosos circulam de táxi, para evitar serem parados. Outros, no interior das comunidades andam de bicicleta, de moto, vestidos de forma normal, sem exageros. “Alguns andam até com passarinho na mão, para disfarçar. Se passam por moradores normais”, conta uma moradora. Os criminosos tem o conhecimento dos becos e vielas e uma ampla rede de informantes. Dois deles foram identificados por moradores como Jorginho e Fred e seriam os responsáveis por ficar de plantão próximo à sede da Base Comunitária e investigar cada passo da polícia para repassá-los aos líderes.

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