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Incêndio silencia e ameaça casarão da família de Dodô

Parentes de inventor do trio elétrico agora moram de favor

Redação iBahia • 04/07/2016 às 10:35 • Atualizada em 01/09/2022 às 14:47 - há XX semanas

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Quando o fogo começou, no primeiro andar, todos os moradores estavam em casa: mãe, duas filhas, um filho, dois netos. Com eles, a cadelinha Dalila e o gato Magrelo. Na cozinha, no térreo, uma das irmãs cozinhava o feijão para a festa de encerramento da trezena de Santo Antônio, no último dia 13. De uma hora para outra, o casarão lilás na esquina das Rua Engenheiro Pimenta da Cunha com a Rua do Fogo, na Ribeira, tinha sido tomado pelas chamas. As imagens da casa pegando fogo se espalharam rapidamente pela internet e pelos sites de notícia. Escondiam, porém, a história da família que morava lá: são nora, netos e bisnetos de Adolfo Antônio Nascimento – o Dodô, que inventou o trio elétrico com sua dupla Osmar. O Dodô que dá nome a um dos principais circuitos do Carnaval – o mais elitista, por sinal. E o mesmo Dodô que é um dos responsáveis pela festa que rende milhões à indústria do entretenimento todos os anos.

				
					Incêndio silencia e ameaça casarão da família de Dodô
Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO
“As minhas irmãs e os meus sobrinhos ficaram só com a roupa do corpo. O prejuízo aqui é muito grande. É a história de uma família, rapaz”, desabafa o bancário Adolfo Nascimento Neto, 49 anos, o mais velho de cinco filhos e, como o próprio nome revela, um dos netos de Dodô. Se o incêndio tivesse acontecido em um dia normal, ele acredita, talvez as coisas tivessem sido diferentes. “Meu irmão caçula, que é autista, estaria lá em cima, como ele sempre fica, olhando o movimento. Minha mãe estaria deitada no quarto, cada um dos meninos (os sobrinhos) em seu quarto com fone de ouvido, smartphone... Então, foi bom que não fosse um dia normal”.Para ele, foi Santo Antônio quem protegeu a família. O hábito de comemorar o fim da trezena era antigo e, esse sim, veio de Dodô avô. “As pessoas acham que Dodô do trio elétrico gostava de Carnaval, mas não. A paixão de meu avô era São João. A gente ia para casa dele dia 1º de junho, só saía em julho”, lembra. A festa do dia 13, porém, não aconteceu. Em poucas horas, todo o primeiro andar foi destruído. Após a vistoria da Defesa Civil de Salvador (Codesal) e do Corpo de Bombeiros, a suspeita é de que o fogo tenha sido provocado por um ventilador que passou muito tempo ligado. Quando juntou com um assoalho todo feito em madeira, foi dramático. Ainda assim, o resultado dos laudos deve sair até a próxima semana. Sem sinaisO início do fogo foi por volta de 17h. Sem cheiro, sem fumaça. Por isso, demoraram a perceber. A matriarca, dona Zenilda Geraldo, 67, foi até o salão, no térreo, e viu que o teto estava caindo. Pensou que, na última obra, não tinham feito algo direito. Foi quando a outra filha, Marlice, subiu as escadas e viu o fogo. Parecia coisa pequena, por isso, desceu para encher um balde com água para apagar as chamas. “Daí eu já não lembro mais”, diz dona Zenilda, admitindo ter ficado atordoada com os acontecimentos. A essa altura, os vizinhos também já tinham visto e correram para arrombar as portas, da frente e do fundo. Os 50 convidados que a família esperava para o encerramento da trezena foram chegando e já começando a ajudar. Conseguiram tirar alguns móveis, principalmente no térreo. Salvaram uma TV, um sofá e uma mesa de totó.

				
					Incêndio silencia e ameaça casarão da família de Dodô
Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO
O irmão mais novo, João Roberto, 37, também teve que ser resgatado pelos vizinhos. Autista, estava na sala e não conseguiu sair. No dia que encontrou o CORREIO, no começo da semana, era seu aniversário. “Tem que comemorar mais porque ele nasceu de novo”, afirma dona Zenilda. Os bombeiros foram chamados. “Teve um momento que alguém me disse: 'não tem mais condições de apagar'. Aí só nos restava esperar e orar para que não começasse a chegar nas outras casas”, lembra Marlice. Tudo que estava no quarto – roupas, documentos e até livros e módulos da filha dela, Alice, 17, que estuda para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – foi destruído. “Fátima, minha irmã, tinha recebido o dinheiro da pensão naquele dia. Ele tirou e colocou no guarda-roupa. Até isso perdeu”. Depois que os bombeiros chegaram, o fogo foi controlado. Mas, às 23h, depois que a viatura tinha ido embora, as chamas voltaram, e os bombeiros foram chamados novamente, para debelar o fogo. “Quando acabou, ainda comeram o feijão”, conta dona Zenilda. A panela do feijão, que estava na cozinha, o único cômodo que não foi atingido, também foi uma das coisas resgatadas na confusão. Se não fossem os vizinhos, não teriam lugar para ficar. Desde a semana passada, a dona de uma casa em uma rua vizinha cedeu o imóvel para que a família ficasse até resolver a situação. “Estou orgulhoso de morar na Cidade Baixa, porque é a comunidade que está fazendo campanhas de arrecadação. Arranjaram uma casa, a dona é uma espanhola que disse 'não se preocupe, não, fiquem o tempo que precisarem'. Ela estava fazendo uma reforma, parou a reforma para isso”, conta Adolfo.

				
					Incêndio silencia e ameaça casarão da família de Dodô
Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO
A casa A família se mudou para lá em 1988, dez anos depois da morte de Dodô. Desde então, a casa passou por muitas reformas, mas sempre manteve a fachada original. A última foi em maio, para corrigir uma infiltração. Gastaram mais de R$ 6 mil. “Às vezes, as pessoas falam como se a casa estivesse abandonada, mas estava tudo direitinho. Tínhamos acabado de reformar”, lamenta dona Zenilda. De Dodô, herdaram o gosto pelas festas. “Meu avô adorava festa. Não tinha nada que gostasse mais do que festa e de pregar peça nas pessoas”, conta o neto Adolfo. A irmã, Marlice, completa: “Aqui, era conhecida como a Casa da Alegria, porque sempre tinha festas. Ninguém bebe, mas a gente sempre abria a casa para as pessoas”. Mas, por enquanto, o destino da Casa da Alegria continua desconhecido até, pelo menos, a próxima semana: somente o laudo dirá se é possível reformar ou se todo o imóvel precisará ser demolido.

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