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'Ele me acusou por causa da cor da minha pele', desabafa mulher seguida por suspeita de roubo em shopping de Salvador

Recepcionista chegou a desmaiar por conta da situação

Nathalia Amorim • 23/05/2022 às 21:49 • Atualizada em 27/08/2022 às 21:57 - há XX semanas

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					'Ele me acusou por causa da cor da minha pele', desabafa mulher seguida por suspeita de roubo em shopping de Salvador
Foto: Reprodução/TV Bahia

Uma ida ao shopping se tornou um trauma e um pesadelo para Fernanda Rodrigues do Santos, 42, acusada de roubo dentro da loja de roupas Renner, no Shopping Bela Vista, em Salvador. Em entrevista ao iBahia, a recepcionista desabafou sobre a situação.

"Eu estou arrasada. Eu não sei como vou encarar um shopping novamente. Aquela cena vai vir na minha e eu vou ficar achando que alguém está tentando me acusar pela cor da minha pele", disse.

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De acordo com Fernanda Rodrigues, o caso aconteceu na última sexta-feira (20). Por volta das 14h30, ela deixava a loja de departamento quando foi abordada por um segurança, que a acusou de ter roubado itens da loja junto com uma outra mulher.

"Você, quer dizer que eu estou roubando a loja junto com essa mulher? Eu disse: ' Como é que é?' Você viu?' Ele falou: Eu vi. As câmeras estão aí para provar", relembrou. "Era como se aquilo não estivesse acontecendo comigo no momento", lamentou.

Fernanda explica que não conhecia a suspeita, e que apenas viu o momento em que o segurança fez a abordagem a mulher. Diante da situação da acusação, ela então cobrou um posicionamento do segurança e se negou a retirar do estabelecimento.

Ainda segundo Fernanda Rodrigues, o segurança, após fazer a acusação e a mandar sair da loja, falou algo pelo rádio e em seguida se encaminhou para uma sala restrita. De acordo com a recepcionista, inconformada e às lágrimas, ela seguiu o funcionário até o local a fim de esclarecer o ocorrido. Cerca de 20 minutos depois uma segurança saiu da sala.

"Uma segurança do sexo feminino saiu e falou comigo. Ela pediu para falar o que aconteceu. Depois ela entrou e demorou entre 10 a 15 minutos, e retornou dizendo que a gerente estava resolvendo uma questão", pontuou.

Em seguida, ela recebeu a informação de que o segurança havia sido demitido. "Já que ele foi demitido, ele iria sustentar a história", pensou ao saber do ocorrido. Diante disso, Fernanda então ligou para a irmã. A familiar foi ao shopping junto com ela, mas saiu antes para trabalhar.

A recepcionista conta que mesmo esperando o retorno da irmã, por cerca de 40 minutos, ela ainda não tinha sido atendida pela gerente da loja e o sentimento de angustia aumentava.

"Eu ficava mais angustiada a medida que o tempo passava, porque eu via o olhar das pessoas com a acusação dele e eu via que as pessoas viram ele me expulsando da loja", explicou Fernanda.

Segundo Fernanda, quando a gerente da loja apareceu, ela pediu desculpas e disse que "tinha que verificar as câmaras antes de ir falar com ela". A recepcionista teria então questionado a atitude, já que, ainda não havia conversado com a mulher sobre o ocorrido. Ainda segundo ela, em momento nenhum o estabelecimento queria fazer o registro do fato.

Racismo e acidente

No depoimento, Fernanda afirma que a acusação foi motivada pela cor da sua pele.

"Ele me acusou por causa da cor da minha pele, porque ele não tem prova nenhuma. Ele achou que qualquer pessoa negra que estaria ali naquele momento poderia roubar a loja", diz, contrastando com a ocorrência de furto que aconteceu anteriormente no local.

De acordo com o advogado da recepcionista, Marcos Allan, foi identificado os crimes de calúnia e racismo.

"Verificamos calúnia e racismo pela forma discriminatória que ela foi abordada. Ela é negra e a pessoa que tinha acabado de furtar a loja também era negra. E a calúnia, em função de ter atribuido falsamente a ela a prática de crime ilícito, algo que se mostrou, pelas próprias palavras da gerente, um fato inexistente", explicou.

Por conta da situação, Fernanda teve um mal súbito com pico de pressão e desmaiou dentro da loja. De acordo com a recepcionista, ela não recebeu ajuda do estabelecimento, que teria apenas ligado para o corpo médico do shopping. Na queda, ela fraturou o pé e ficará 14 dias afastada do trabalho.


				
					'Ele me acusou por causa da cor da minha pele', desabafa mulher seguida por suspeita de roubo em shopping de Salvador

"O racismo tem que acabar. Não é possível, que em pleno século XXI as pessoas tenham atitudes como essa. Eu estou disposta a entrar nessa luta, eu tomei essa luta como uma questão de honra", afirmou.

Fernanda Rodrigues registrou o caso na 11ª Delegacia Territorial (DT)/Tancredo Neves. De acordo com o registro, a Fernanda foi abordada e acusada de roubo pelo segurança da loja, que pediu para a cliente sair do estabelecimento.

A polícia afirmou que além da vítima e do segurança, outros funcionários da loja devem prestar depoimento na delegacia. E que “oitivas estão sendo realizadas e a Coordenação Especializada de Repressão aos Crimes de Intolerância e Discriminação (Coercid) está ajudando na apuração dos fatos".

Ela também registrou a denúncia no shopping, mas diz que nem o estabelecimento comercial e nem a loja entraram em contato desde então.

O advogado de Fernanda esclare que, o passo mais importante agora é a investigação policial.

"Estive na delegacia e aguardo que o delegado tome providência com base em todos os elementos que possam ser utilizados, tanto da parte da vítima quanto dos autores, entre eles, da loja. Que sejam apresentadas as imagens das câmeras e as testemunhas prestem depoimento", explica.

"Entramos em contato com o Ministério Púbico para formalizar a notificação de denúncia", completou.

O que diz o shopping?

Em nota, a assessoria do Shopping Bela Vista informou que “prestou atendimento médico à cliente e ofereceu toda a assistência necessária enquanto ela esteve no empreendimento. Ela fez o registro da queixa na Central de Atendimento ao Cliente e o shopping está aguardando a apuração dos fatos. O Bela Vista reitera que não compactua, não tolera e repudia quaisquer atitudes discriminatórias e reforça que possui um posicionamento democrático e de acolhimento à diversidade.”

O que dia a loja?

Em nota, enviada ao iBahia, a Lojas Renner afirmou que apurou imediatamente o caso e seguiu seu protocolo para relatos de casos de discriminação. “Após verificar as imagens captadas pelo circuito interno de TV e analisar cuidadosamente os fatos à nossa disposição, não encontramos evidências das acusações relatadas. Ressaltamos que prestamos toda a assistência necessária à cliente. Estamos prontos para colaborar com as autoridades competentes na investigação do acontecimento, fornecendo as imagens gravadas e colocando à disposição nossos colaboradores e demais evidências disponíveis. Temos o firme compromisso de apoiar no esclarecimento do caso, de forma a determinar as responsabilidades devidas o mais rápido possível.”

A empresa ainda ressaltou que lamenta o ocorrido. “A Lojas Renner lamenta toda a situação e reforça aos seus clientes e ao público em geral seu comprometimento com a promoção da igualdade racial. Praticamos esses valores em nosso dia a dia, inclusive com uma agenda de treinamentos sobre relações étnico-raciais.”

*Sob supervisão do repórter Lucas Salles.

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