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Bairros do percurso : Caminho das Árvores, Brotas, Dois Leões, Aquidabã, Comércio, Campo Grande, Federação, Rio Vermelho e Paralela |
Todo dia é assim: estações lotadas de pessoas que esperam seus ônibus para trabalhar, resolver problemas ou passear. No meu caso, fui descobrir o que rola no buzu. Se eu imaginasse que as balas de gengibre resolveriam minhas gripes, já teria andado por todos os coletivos da cidade e aquela minha amiga encalhada certamente já teria arrumado um namorado. A aventura começou cedo, na terça-feira (19). Peguei uma linha que saía da rodoviária de Salvador e fiz o percurso completo com três horas de duração. A trilha sonora inicial ficou por conta da cantora gospel Aline Barros, até o carinha ao lado se retar e botar seu Hip Hop para tocar no celular em volume máximo. O evangélico coitado até pregou umas palavras, mas foi em vão, afinal, ninguém estava com paciência para ouvi-lo. Ônibus cheio de velhinhos; jovens em pé com cara de poucos amigos. O estudante garanhão que tinha conseguido uma cadeira tratou logo de dar o lugar a uma menina. “Pode sentar aqui. Só queria que você segurasse meus livros, que estão muito pesados”. Tímida, a garota consentiu fazendo um sinal com a cabeça e o papo começou... Nome, idade, profissão e, finalmente, a troca de MSNs. Pena que logo depois ela desceu.
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Ônibus cheio e passageiros em pé |
Segue o percurso e o buzu chega em Brotas. Uma multidão entra e o inferno começa. Aquela altura, uma criança super gripada tirou a paciência que restava nos passageiros. Era tanto espirro que até a mãe da garota mandou ela parar. “Eu não consigo minha mãe, poxa!”, disse a menina depois de levar um beliscão. Já na região do Comércio, a multidão se vai. Para saltar do buzão, as pessoas se espremem e os caras aproveitam para tirar as lasquinhas, é claro. Subimos a Ladeira da Montanha, um senhor se desequilibra e o outro reclama: “Não tenho culpa!”, diz chateado. Enquanto os ânimos se acalmam, Patrícia Barbosa ri. A universitária que sempre faz o roteiro diz que se distrai com as histórias que presencia todos os dias. Para ela, é uma forma do tempo passar mais rápido, já que sai às 6h30 de casa para estar às 9h na UFBA, no bairro da Federação. No balanço do veículo, chega a vez de conhecer uma balinha chique. Você aperta e ela sai. Dá até para fingir que é um remedinho e é baratinha: só R$1. Mas, na verdade, o baleiro não convenceu ninguém com essa história.Passamos pelo Campo Grande e na Federação, dois amigos sobem e vão em direção ao fundão. O cobrador, com o olhar repressor, já sabe, o pagode vai começar. Não dá outra! No Styllo entra em ação com o Caguete Descarado. Por sorte, a música não dura muito já que os amigos descem no Rio Vermelho. “Não suporto essas músicas”, afirma o cobrador Carlos César, irritado.
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O motorista Ricardo |
Já estamos quase chegando de volta à rodoviária. Uma senhora bate a cabeça no vidro da janela, acorda e percebe. Ela tinha que ter saltado no ponto anterior. Outra passageira, a recepcionista Ana Cláudia pegou o buzu na Federação e está indo para a Tancredo Neves. A moça conta que sempre pega o mesmo ônibus para ir trabalhar em um salão e já deixou até troco para pegar no dia seguinte. “Você acaba conhecendo as pessoas e cria uma amizade com o cobrador e com o motorista. Seu Ricardo (o motorista) é muito engraçado”, afirma.Depois de dar uma volta na Paralela, o coletivo finalmente volta ao local de origem. Para a próxima partida, só restam uns minutinhos e Seu Ricardo, nosso condutor, vai correndo atrás de um banheiro para tirar a água do joelho e fazer tudo de novo. Eu desço aqui mesmo!