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SALVADOR

Empresário morto comprou moto para fugir do caos no trânsito

Sílvio Ricardo tinha acabado de completar 41 anos. Tinha carro, lancha, jet ski e duas motos. Recém-separado, não tinha filhos e morava com os pais

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20/10/2012 às 11:27 • Atualizada em 02/09/2022 às 5:22 - há XX semanas
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Empresário foi morto após briga de trânsito
Há quase dois anos o empresário Sílvio Ricardo Andrade Silva, 41 anos, trocou o carro pela moto para fugir do caos do trânsito. Na manhã desta sexta (19) acabou sendo mais uma vítima da fúria na direção. A moto que ele guiava, uma Suzuki Burgman preta, placa NZE-9156, bateu no retrovisor de um Palio vermelho, na Avenida ACM. Depois de um bate-boca, o condutor do veículo disparou contra ele, que morreu na hora. Dois tiros atingiram o empresário: o fatal, entrou nas costas e saiu pelo peito. O outro foi no cotovelo. Uma terceira bala atingiu a mochila do empresário, na qual ele carregava um livro que usava nos estudos preparatórios para um concurso da Petrobras. A suspeita da perícia é que a arma usada tenha sido uma ponto 40, que é de uso restrito das polícias Civil e Militar. A placa do Palio não tem registro no Detran. De acordo com informações da polícia, a briga teria começado próximo à Madeireira Brotas, nas imediações da Rodoviária, por volta das 9h20. O desfecho foi quase na entrada de ônibus do terminal. “Ele recebeu o primeiro tiro uns 100 metros depois da madeireira. Depois, foram disparados mais dois”, disse o delegado plantonista do Serviço de Investigação em Local de Crime (Silc) do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Antônio Cláudio Oliveira. Segundo ele, há uma testemunha que presenciou o crime e vai prestar depoimento. “Através das investigações, já identificamos um provável autor”, afirmou o delegado. Para ajudar a chegar ao autor dos disparos, a polícia já solicitou as imagens do circuito de câmeras da Transalvador, que cobre a área. Pelas marcas de sangue encontradas no local, o perito médico Marcos Mousinho identificou que a vítima ainda tentou pilotar a moto, mesmo baleado. “A primeira mancha de sangue estava a uns 70 metros do corpo”, disse. “As balas lesaram os dois pulmões e devem ter atingido também o coração”, completou. Vizinhos e amigos do empresário comentaram que ele tinha comportamento explosivo (veja ao lado). Um amigo da vítima, porém, que esteve no local e não quis se identificar, estava estarrecido. “Ele passou pelo carro errado, na hora errada. Era uma pessoa que não tinha maldade no coração. A pessoa que fez isso faria com qualquer pessoa. Provavelmente, já saiu de casa disposta a matar alguém. Infelizmente, todo mundo está refém dessa violência”, lamentou.
ViolênciaTaxista há 22 anos e com ponto na Rodoviária há 10 anos, Edmundo Ferreira da Silva, 42 anos, estava a poucos metros do local e presenciou tudo. “Quando ele caiu, o carro que vinha atrás parou bem em cima. O motorista pegou a placa do Palio. Isso deve ser coisa de polícia, ninguém anda armado assim”, conta. Convivendo diariamente com a violência no trânsito, Edmundo diz que não fica mais chocado com esse tipo de situação. “A gente está acostumado com isso. É arma na cara toda hora, é fechada gratuita. Só resta pedir por Deus. Já troquei quatro retrovisores que quebraram no trânsito”. Ao lado dele, o amigo e taxista Carlos Costa completa: “As pessoas já não têm mais medo de nada. Discutem e matam”. O fiscal da entrada da Rodoviária Danilo Santana, 24, foi surpreendido ontem pelo barulho dos tiros. “Depois veio o barulho da moto caindo no chão e começou a encher de gente para olhar. Fico triste de ver alguém perder a vida por briga no trânsito. Deve ter sido coisa de policial para portar arma”, disse. Até as 19h, o corpo de Silvio Ricardo continuava no IML. TrânsitoPor conta do acidente, parte da via foi interditada, gerando grande congestionamento no entorno e bairros vizinhos. O trânsito ficou lento na região do Iguatemi, na Paralela, sentido Centro, na Tancredo Neves e na Bonocô, sentido Centro. Um dos prejudicados foi o assistente administrativo Pedro Alcântara, 29 anos. Funcionário da Águia Branca Encomendas, que fica ao lado da Rodoviária, ele levou uma hora para fazer o percurso do Iguatemi para o trabalho, que costuma levar 10 minutos. “Os carros não andavam”, comentou. Ao chegar na empresa, soube do crime. “Às vezes a pessoa está um pouco nervosa e acaba falando besteiras no trânsito. Esse caso faz a gente repensar nossas atitudes. A gente nunca sabe quem está do outro lado”. Empresário era apaixonado por motosSílvio Ricardo tinha acabado de completar 41 anos, seu aniversário foi no dia 11 de outubro. Segundo amigos, ele levava uma vida confortável. Tinha carro, lancha, jet ski e duas motos. Recém-separado, não tinha filhos e morava com os pais, no Condomínio Foz do Joanes, em Buraquinho. Recentemente, se dedicava aos estudos, no intuito de ingressar na Petrobras. O livro e o caderno usados no curso preparatório estavam na mochila atingida por um dos tiros. Por conta dos estudos, há cinco meses, fechou a loja de instalação de ar-condicionado em veículos, que mantinha há quase dez anos no Vale do Ogunjá, a Refri-Power, e alugou o prédio, que está sendo reformado para receber a No Risk, clínica de reparos de automóveis. “Ele queria entrar para a área de sondagem. Estava bem animado com os estudos”, diz o amigo e empresário Juracy Guimarães, 61. Os dois tinham em comum uma grande paixão: as motos. Coube a Sílvio a organização do Scooter GP, evento de motociclistas realizado no primeiro semestre deste ano. Proprietário da Guimarães Motos, no Vale do Ogunjá, Juracy conta que, na última quinta-feira, eles estiveram juntos até as 22h30. “Toda terça e quinta-feira ele vinha aqui na loja. A primeira notícia que tivemos é que ele tinha morrido num acidente de trânsito. Achei estranho, por se tratar de um motociclista experiente. Não era um cara criador de caso, não era de briga. Mas o mundo está cheio de gente ruim. Os bons vão e os ruins ficam”, lamenta. Enquanto os amigos lamentavam a morte trágica de Sílvio, na vizinhança do seu antigo negócio, as pessoas tinham uma justificativa para o desfecho. “Era tirado a valentão. Quem estacionava na porta dele, se não fosse cliente, mandava sair”, criticou um ex-vizinho. Do lado, outro retrucava: “Alguém pegou ele. Quem bate esquece, quem apanha, lembra”. De acordo com o delegado Antonio Cláudio Oliveira, segundo amigos da vítima, ele não costumava levar desaforos para casa. Matéria original: Correio 24h Empresário morto em briga havia trocado carro por moto para fugir do caos no trânsito

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