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SALVADOR

Feriado é de dor para quem teve parentes mortos na greve

Alheios à estatística, familiares atordoados engoliam o choro para ajudar os funcionários na tarefa de despachar os corpos

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19/04/2014 às 16:04 • Atualizada em 30/08/2022 às 16:08 - há XX semanas
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No pátio do Instituto Médico-Legal (IML), na Avenida Centenário, um engarrafamento de rabecões e carros de funerária. “Família de Alex Lima!”. “Família de Heider Torquato!”. “Família de Luciano Silva!”. Era o funcionário gritando sem parar na porta do necrotério. No chão, quase uma dezena de caixões aos pés dos familiares. Enquanto a maior parte da população respirava aliviada, parentes dos “grevicídios” soluçavam a dor da perda. Segundo a Polícia Civil, 59 homicídios foram registrados durante o período da greve, segundo balanço da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Alheios à estatística, familiares atordoados engoliam o choro para ajudar os funcionários na tarefa de despachar os corpos. Carregavam caixões de outras vítimas e voltavam para esperar sua vez. Um caixão atrás do outro saía do necrotério, a ponto de deixar surpreso o auxiliar de serviços gerais do Nina Rodrigues, Juraci Souza Costa, 65 anos.
Parentes de pessoas mortas durante a greve aguardam liberação dos corpos no Instituto Médico-Legal. Segundo a SSP, foram 59 homicídios
Nascido e criado no IML, Juraci ontem estava alarmado. “Trabalho aqui desde menino, há mais de 50 anos, e poucas vezes vi esse movimento. Rapaz, tem mais de 95 corpos aí dentro”, afirmou Juraci. Muitos familiares preferiram o silêncio, mas a maioria pedia mesmo era justiça e cobrava a investigação dos crimes. Parentes do vendedor de gás Alex Lima Laranjeira, 22 anos, ainda tentavam entender por que o jovem que morava em Cajazeiras foi encontrado morto no bairro do Lobato. “Ele estava passando na Liberdade, com dois amigos, quando começou um tiroteio. Os dois colegas se perderam dele, que foi aparecer morto no subúrbio”, narra um dos primos do rapaz. O pai do jovem, Guilhebaldo Sacramento, estava desolado sobre o caixão de seu único filho. “Não tenho ideia do que aconteceu”, afirmou. Era a mesma dúvida da esposa e da irmã de Luciano Santos Silva, 30 anos, morto após ter sido sequestrado de dentro de casa, no Alto do Cabrito. Porteiro de um condomínio na Pituba, teve a casa invadida por oito homens, dois deles com brucutus. Morreu com um tiro na cabeça, um nas costas e outro nas nádegas. “Chegou do trabalho para tomar uma cervejinha com os amigos e o cunhado. Tinha duas crianças na casa e nem assim eles respeitaram”, contou a irmã da vítima, que pediu para não ser identificada. “Se fosse bandido, eu até entendia, mas um homem honesto”, lamentou ela. Encapuzados “Seu marido já era!”, foi a frase que a esposa do motoboy Heider da Silva Torquato, de 24 anos, ouviu quando dois homens encapuzados levaram seu companheiro da frente de casa, na Fazenda Grande do Retiro. O corpo só foi encontrado mais de 24 horas depois, no CIA. “A gente não sabe do envolvimento dele com malandragem nenhuma. Estamos sem entender”, disse o tio de Heider, o segurança Cássio Torquato, 47 anos. Foi um dia em que enterros se espalharam por diversos cemitérios da cidade, do Campo Santo ao Bosque da Paz. DobroAs 59 mortes registradas em 43 horas de greve representam uma morte a cada 43 minutos, aproximadamente. O índice torna esta greve duas vezes mais violenta que o movimento de 2012, que durou 12 dias (263 horas exatamente), durante os quais houve 172 homicídios – o que representa uma morte a cada uma hora e meia. Matéria original: Correio 24h Feriado é de dor e tristeza para quem teve parentes mortos na greve

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