O CORREIO teve acesso, com exclusividade, ao laudo pericial sobre o desabamento do Centro de Convenções da Bahia (CCB). O documento indica a falta de manutenção como a causa do desmoronamento de parte da fachada do equipamento, em setembro do ano passado. A pedido do CORREIO, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) solicitou o laudo pericial ao Departamento de Polícia Técnica (DPT), em setembro. Confira abaixo o documento na íntegra.
“Os peritos concluem ainda que, a falta de manutenção adequada da estrutura proporcionou efeitos irreversíveis na oxidação do aço, o que causou o rompimento da estrutura no local do acidente”, diz um trecho do documento.
As estruturas que romperam foram dois tirantes (estrutura de aço), que de acordo com o laudo, tinham espessura menor do que prevista no projeto original do CCB.
Por causa da estrutura em avançado estado de corrosão, o documento recomenda “a interdição do imóvel até que seja feita a análise total da estrutura com objetivo de avaliar a necessidade de sua recuperação ou demolição”. O documento, datado do dia 17 de maio de 2017, é assinado por três peritos criminais: Roberto Muiños Ventin, Cláudio Fernando Silva Macedo e Paulo Geraldo Mendes Botelho.
Para fazer a análise da estrutura do equipamento, os peritos fizeram duas visitas ao CCB: no dia 29 de setembro de 2016 – seis dias após o desabamento parcial – e no dia 20 de fevereiro de 2017, acompanhados pelo engenheiro projetista Carlos Strauch, engenheiro responsável pelo projeto original do Centro de Convenções, da década de 1970. Após as visitas, eles se reuniram no escritório do engenheiro no dia 22 de fevereiro e “realizaram simulações para identificação das causas do acidente”, diz o documento.
Nas visitas, de acordo com o laudo, os peritos constataram que a ação do salitre combinada com a falta de manutenção adequada ao centro resultaram no desmoronamento.
Manutenção
De acordo com o laudo, os dois tirantes que desabaram estavam fixados na viga de número 12 do pavimento 42, e sustentavam à viga de mesmo número do pavimento 33 e que “romperam devido ao adiantado processo de oxidação”.
A espessura mínima é o valor que o tirante deve ter apenas para sustentar a si mesma (o próprio peso e o revestimento), e as estruturas secundárias, sem considerar circulação de pessoas ou peso de outros equipamentos em cima dos pisos, explica Carlos Strauch. “Ele funciona como se fosse uma coluna, que pendura o piso de cima, é a estrutura que apoia todas as cargas que estão atuando no piso 33”, explicou. Os tirantes têm o formato de um “H” e ficam apenas na parte da fachada do CCB, de frente para o mar.
De acordo com ele, há 13 anos a estrutura não tinha manutenção, que é feita a partir da limpeza da viga e de uma pintura especial, que evita a corrosão.
“Se fazia a inspeção anualmente no Centro de Convenções. Se tinha desgaste, era consertado, pintado. Mas depois ficou 13 anos sem fazer manutenção. Em algumas partes da estrutura chegou a ser colocada uma chapa para dar apoio", disse o engenheiro.
Há cerca de dois anos, Strauch foi chamado por uma empresa, responsável por obras no equipamento, para inspecionar o local e fazer um projeto de substituição dos tirantes que, depois, acabaram desmoronando.
“Fui chamado por uma empresa que estava fazendo a manutenção, aí o governo me pediu que acompanhasse essa inspeção. Antes de cair, verifiquei que tinha que substituir os tirantes. Fiz um projeto para substituir aqueles. Depois começou uma burocracia para fazer a concorrência e trazer o material, que tinha que ser de fora na hora e demorou de chegar. Quando a empresa que estava começando a colocar os novos tirantes, caíram”, conta o engenheiro.
Dificuldade de acesso
Em setembro, o CORREIO tentou diversas vezes ter acesso ao laudo pericial realizado pelo DPT, mas não conseguiu. A reportagem entrou em contato com a delegada responsável pelo inquérito, que não atendeu à reportagem, assim como a Polícia Civil, que encaminhou a demanda à Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) e a repassou para a Secretaria de Comunicação (Secom), que não respondeu aos pedidos de informação.
Após a divulgação de reportagem do CORREIO sobre a dificuldade em ter acesso ao documento, o governador Rui Costa afirmou que divulgá-lo não era "prioridade" e que não tinha detalhes sobre as causas do desabamento parcial.
“Tudo será divulgado mas, pra mim, não é a prioridade. Para mim é importante definir e construir o novo Centro de Convenções. O laudo, as imagens e a licitação para desmontagem e alienação daquela área será feita, mas isso o técnico e secretário estão cuidando disso”, afirmou Rui, no dia 26 de setembro.
O CORREIO entrou em contato com a Secom para pedir um posicionamento sobre o laudo, mas ainda não teve retorno.
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Confira o laudo na íntegra:
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Redação iBahia
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