A desenhista Samara Reis, 35 anos, pretende se mudar em dezembro para sua primeira casa própria. O imóvel, um apartamento de dois quartos no Jardim das Margaridas, fica em um condomínio com piscina e até academia. E o melhor: saiu por R$ 117 mil, mesmo tendo sido avaliado por R$ 160 mil.
“A gente fez um bom negócio, porque paguei um preço bem abaixo que o valor de mercado”, conta. O apartamento foi arrematado durante o leilão da Caixa Econômica Federal, em novembro do ano passado. Ela garante que é uma boa opção para quem quer comprar um imóvel com o preço bem mais em conta – a próxima edição do leilão acontece justamente nesta segunda-feira (16) no auditório da faculdade Unipessoa, no bairro do Costa Azul.
No evento, 90 imóveis estarão disponíveis para os lances dos visitantes. Os organizadores prometem que dá para encontrar casas, salas comerciais, apartamentos e terrenos com preços até 80% abaixo dos de mercado.
Ao todo, são 44 apartamentos, 44 casas, um terreno e uma sala comercial localizados em Salvador, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador ( RMS), e em outras quatro cidades do interior do estado (Iaçu, Itaberaba, Feira de Santana e Vitória da Conquista).
Todos os imóveis à venda são de pessoas que ficaram inadimplentes durante o financiamento de imóveis da Caixa e que, por não cumprirem as cláusulas de pagamento do banco, perderam a posse do bem. De acordo com a assessoria do banco, as medidas legais de retomada do bem são previstas em contrato - aquele que o comprador assina antes de entrar no novo lar.
A retomada do imóvel só é adotada como último recurso – ou seja, depois que esgotarem todas as possibilidades de negociação entre a Caixa e o comprador inicial. Os leilões são previstos pela Lei Federal 9.514/97 e podem ser promovidos por todas as instituições financeiras que atuam na modalidade de crédito imobiliário.
Entre 2009 e 2016, a Caixa retomou 46 mil imóveis em todo o país. Atualmente, o banco tem 57 milhões de contratos imobiliários ativos. Dos contratos renegociados nos últimos 10 anos, 93% foram liquidados dentro do que estava previsto em contrato. Entre esses, a liquidação antecipada chegou a 65% dos imóveis.
Quem dá maisOs lances iniciais do leilão da Caixa que acontece em Salvador são definidos por avaliadores que, após o pontapé inicial, vão receber as propostas dos interessados em fechar negócio. Quem não puder comparecer ao local pode dar lances virtuais no site do evento. Basta fazer o cadastro e aguardar a rodada de negociação. Esse é 10° leilão que a Caixa promove na Bahia este ano.
De acordo com o leiloeiro oficial do evento, Rudival Gomes, na plateia, costumam estar casais que estão querendo sair do aluguel e investidores que pensam em lucrar com as ofertas. "Em geral, são pessoas que querem comprar um imóvel com um preço bem atrativo, mas também tem investidores que costumam vender esses imóveis lucrando de 40% a 50%, em cima do valor da compra", explica Rudival.
Ainda de acordo com o leiloeiro, as pessoas físicas estão se sentindo mais confiantes em adquirir a casa própria nesse tipo de negociação, que, por trazer muitas dúvidas em como participar, sempre afastou esse público. "O leilão é bem diferente daqueles realizados antigamente, quando era desconhecido pela maioria. Eles (leilões) se tornaram populares e as pessoas estão se sentindo mais confortáveis", completa.
Foi bem o que aconteceu com a desenhista Samara, que comprou o apartamento no Jardim das Margaridas. “Atualmente, moro na casa dos meus pais, mas estava procurando apartamento e tinha uma faixa limitada de dinheiro para investir. Leilões têm apartamentos mais em conta”, explica.
Os apartamentos que vão a leilão não podem ser visitados pelos futuros compradores – até porque muitos estarão ocupados. Para conhecer melhor o imóvel que estava prestes a comprar, Samara pesquisou na internet sobre outros apartamentos no mesmo condomínio. “Para a nossa sorte, ficamos sabendo que o nosso estava vazio, nunca tinha morado ninguém”.
Ofertas
Em Salvador, a melhor oferta fica para um apartamento no condomínio Resid Salvador Life, em Sussuarana, avaliado em R$ 123 mil. No leilão, esse mesmo imóvel exige lance inicial de R$ 48 mil.
Já o imóvel com o maior lance inicial é um apartamento no condomínio Manhattan Square, na Avenida Paralela. Para arrematar esse, os interessados devem desembolsar a bagatela de R$ 300 mil, enquanto a avaliação do imóvel foi de R$ 451 mil.
O leiloeiro Rudival recomenda que, na hora de fechar negócio, é preciso ter cautela e analisar as condições de compra e venda, principalmente aqueles que estão participando pela primeira vez. Para isso, é preciso estar ciente de que a Caixa não cobre as dívidas dos antigos donos dos imóveis leiloados, como IPTU e taxa de condomínio em atraso. Isso quer dizer que, se o antigo dono do imóvel estiver com algo pendente, o comprador deve quitar todas as dívidas antes de pegar as chaves do bem adquirido.
É preciso colocar na ponta do lápis, ainda, se o imóvel vai precisar de reforma ou se a inadimplência do antigo dono pode deixar a proposta um pouco mais salgada. "Além disso, o comprador deve procurar informações de quanto aquele imóvel está sendo vendido em média no mercado, para levar em consideração as despesas eventuais com IPTU e taxas em atraso".
No leilão, ainda são cobradas duas taxas: a primeira é a do leiloeiro que conduz a negociação e deve receber 5% do valor de venda do imóvel; a segunda, que também é de 5%, é referente à entrada da compra. O pagamento pode ser feito em cheque ou por transferência bancária, enquanto o restante pode ser quitado em até cinco dias úteis em qualquer agência da Caixa. O cliente pode escolher se vai pagar à vista, com financiamento ou com recursos do FGTS.
A dica do leiloeiro Rudival é para que os compradores façam uma visita aos bancos para saber sobre condições de financiamento tendo como base a renda. Os interessados poderão financiar parte do valor da compra em até 360 meses pela própria.
Além das duas folhas de cheque para pagar a taxa do leiloeiro e da compra, os interessados devem levar CPF, RG e comprovante de residência. Se for casado, o interessado deve levar os mesmos documentos do cônjuge. Aqueles que forem comprar como Pessoas Juridíca não podem esquecer da cópia do contrato social, estatuto social, cartão do CNPJ, RG e CPF do sócio administrador e procuração com firma reconhecida se for o caso.
Negociação
Antes de entrar no novo teto, o comprador, em alguns casos, precisa ainda arcar com uma negociação amigável com os inadimplentes. É que muitos, mesmo com aviso de despejo do banco, continuam utilizando o espaço. Nesse caso, a melhor forma de resolver o impasse é com uma conversa amigável: atualmente, 70% das negociações costumam acabar em um aperto de mão e mais algumas taxinhas.
"O comprador também assume a desapropriação. Geralmente, as pessoas estão cientes dos atrasos e do aviso do banco de que o imóvel não pertence mais a eles, porém, muitos continuam lá", completa Rudival.
Se o novo proprietário preferir entrar com uma ação judicial de desocupação do bem, pode ter que esperar um pouco, já que essas ações costumam se arrastar por até seis meses. Nesse caso, após a liminar favorável do juiz, o antigo dono deve deixar o imóvel em até 60 dias.
Ana Maria*, 44, que comprou um apartamento no Rio Vermelho no primeiro semestre desse ano, está prestes a mover um processo para a saída do antigo dono. O imóvel já tinha ido a leilão duas vezes e foi arrematado por ela na venda direta.
“Estou regularizando a compra, para entrar na Justiça depois”, diz ela, que acredita que só deve começar a viver na nova casa no próximo ano. O local tem três quartos, dependência e piscina no prédio. Mas, por enquanto, ela segue com o aluguel de um apartamento no mesmo bairro. “Foi uma super aquisição. Acho que vai valer a pena no final”.
*nome fictício
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Redação iBahia
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