De cara na porta. Assim se sentiu a advogada Gabrielle Arcoverde, que veio do Recife com a família para Salvador e quis visitar o Mercado Modelo ontem pela manhã. O que ela não esperava é que um dos cartões-postais da cidade, que não fecha nem mesmo aos domingos, adiasse sua abertura de 9h para 11h sem avisar a ninguém. “A gente chegou no mercado e para nossa surpresa estava tudo fechado. A gente queria comprar lembranças. Deu aquela frustração”, relata. Para não perder a “viagem”, o jeito foi esperar as portas abrirem. “Vamos embora hoje (ontem) à noite e resolvi esperar para não voltar com a sensação de que não conhecemos Salvador plenamente”, diz.
O mercado fechou porque permissionários e a prefeitura precisaram se reunir na sede da Empresa de Turismo de Salvador (Saltur) para encontrar uma solução para a dívida do ponto turístico com a Embasa e com questões trabalhistas, que já passa de R$ 1 milhão. “Dos 263 permissionários, cerca de 80 estão inadimplentes. Há três anos temos receita mensal de R$ 20 mil e gastamos R$ 40 mil. Não temos como investir e acabamos prejudicando os funcionários. Mas na conversa com a Saltur ficou definido que o valor da tarifa paga pelos comerciantes será maior e, com isso, vamos conseguir equilibrar as finanças. Precisamos pensar na Copa que vem aí”, afirma o presidente da Associação dos Comerciantes do Mercado Modelo, Nelson Tupiniquim. O auxiliar administrativo do Mercado, Gilmar Silva, 41 anos, diz que a administração está “escravizando” os funcionários. “Há anos eles recolhem o nosso FGTS e INSS e não repassam. Muitos de nós não temos férias há cinco anos, o vale-refeição tem um valor defasado de R$ 5 e os salários vivem atrasados. Hoje (ontem) é dia 18 e ainda não recebemos”, protesta. A auxiliar de serviços gerais Maria Raimunda dos Santos, 58, relata que está com aluguel da casa atrasado e precisa pedir dinheiro emprestado para chegar ao trabalho. “Não tenho dinheiro nem pra pegar um ônibus. Vivo da ajuda de amigos”. Para fazer o trabalho administrativo, de limpeza, manutenção e vigilância do local, a Associação dos Comerciantes do Mercado Modelo conta com cinco funcionários da prefeitura e outros 25 que contratou. Todos pararam ontem e ameaçam entrar em greve a partir de quinta. “Após a reunião com a Saltur, Tupiniquim veio aqui e prometeu depositar nosso salário. Vamos esperar e se ele não cumprir vamos parar”, avisa Gilmar. Enquanto os funcionários cruzaram os braços, só restou aos turistas que esperaram duas horas para conhecer o cartão-postal a decepção. “Em revista de turismo é tudo lindo, mas aqui é diferente. Acho absurdo todas as lixeiras estarem cheias e tanto lixo no chão. Achei que fosse um lugar mais bem cuidado”, reclama a turista de São Paulo, Luciana Martins, 32. Vi até barata passando por aqui”, ressalta a visitante do Maranhão, Maria Carolina Menezes. Quem trabalha para os permissionários também está insatisfeito. “Eles não assinam carteira de ninguém e quando assinam não pagam o valor que colocam lá. Aqui trabalhamos como escravos e só temos direito à comissão em cima do lucro e não do preço do produto. Se uma canga vale R$ 10 e se vende por R$ 15, ganho em cima dos R$ 5”, conta uma vendedora, sem se identificar. Do outro lado, os comerciantes dizem que faturam pouco e por isso não podem arcar com despesas trabalhistas. “Não há como ter vínculo empregatício. Não tenho como pagar. Nem o aluguel de R$ 300 estou pagando”, revela o permissionários Manoel Silva. Com isso, falta água, produtos de limpeza e manutenção são. “Sem contar nos ratos, baratas e pernilongos que são visitantes assíduos”, critica o comerciante de bebidas, Dario Alves. O presidente do órgão municipal, Jonga Cunha, não foi encontrado para falar sobre o assunto.
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