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SALVADOR

'Meu filho ficou desfigurado', diz pai de jovem morto no Cabula

O corpo de Guilherme Silva foi sepultado no cemitério da Quintas dos Lázaros, nesta sexta

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Redação iBahia

21/04/2017 às 19:30 • Atualizada em 27/08/2022 às 1:47 - há XX semanas
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Estava garoando quando o corpo do adolescente Guilherme dos Santos Pereira da Silva, 17 anos, chegou para ser sepultado no cemitério da Quintas dos Lázaros, na Baixa de Quintas, em Salvador. A cerimônia estava marcada para às 15h desta sexta-feira (21), mas sofreu atraso de cerca de 30 minutos por conta das despedidas.

A chuva fina obrigou as cerca de 150 pessoas que acompanhavam a cerimônia a abrir guarda-chuvas e sombrinhas, mas ninguém arredou o pé do local. Algumas delas foram vestidas com camisas que exibiam a foto de Guilherme, outras foram de preto. Muitos choravam, mas era possível ouvir apenas sussurros entre o público, até a chegada da família do adolescente.


				
					'Meu filho ficou desfigurado', diz pai de jovem morto no Cabula


Às 14h39 a mãe de Guilherme, a dona de casa Rosilândia Santos, chegou ao cemitério. Com dificuldade para caminhar, ela precisou se apoiar nos ombros de dois familiares para chegar até a capela. O pai do adolescente, o mensageiro Edmundo Silva, chegou alguns minutos depois e contou, emocionado, que não conseguiu reconhecer o corpo do filho.

"Meu filho ficou desfigurado. Recebeu muitas porradas na cabeça e teve as digitais e os braços queimados, além de ter sido baleado. O laudo da perícia diz que a morte foi provocada por traumatismo craniano e arma de fogo. Eu não estou aguentando, não estou suportando o que fizeram com meu filho. Estou vivendo por viver. É muito duro", disse.

Edmundo contou que foi o outro filho, Rafael, quem reconheceu o irmão através de uma cicatriz na perna direita. A marca foi provocada por uma queda de cavalo que exigiu 25 pontos no local. Nesta sexta, moradores lotaram dois ônibus para ir até o cemitério e entoaram cânticos e orações durante o velório.

O corpo de Guilherme deixou a capela por volta das 15h30 e foi sepultado sob aplausos e os gritos de "Justiça!" e de "Assassino". Em seguida, parte do grupo seguiu para o fim de linha de Pernambués, bairro onde o adolescente morava desde que nasceu, para fazer um protesto.

A caminhada foi pacífica. Com faixas e cartazes, cerca de 50 pessoas saíram do fim de linha do bairro, caminharam pela Rua Escritor Édison Carneiro e retornaram para o ponto inicial. Os gritos de "Justiça" atraíram a atenção de curiosos e recebeu apoio de alguns moradores. A manifestação durou cerca de 30 minutos.

Ajuda

Toda vez que abre a geladeira de casa o pai de Guilherme lembra novamente do filho. O chocolate que ele comprou para o adolescente como presente de Páscoa ainda está lá. Segundo Edmundo, desde que o jovem desapareceu, ele e a mulher estão com dificuldades para conseguir dormir. "No caso dela é ainda pior porque ela não está conseguindo comer", disse.

Na segunda-feira (24), a família de Guilherme será ouvida no Centro de Defesa Criança e Adolescente da Bahia (Cedeca). Segundo o mobilizador social, Silvio Baptista Filho, o órgão vai oferecer ajuda aos familiares do adolescente.

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"Eles terão um acompanhamento jurídico e psicosocial, com advogados, pisicólogo e assistente social. O Cedeca atua há 26 anos em defesa dos diretos das crianças e dos adolescentes que são vítimas de violência e, por isso, vamos acompanhar esse caso", afirmou.


O crime
Guilherme viajou com a família na quinta-feira (13) para passar o feriado da Semana Santa na Ilha de Conceição. O grupo retornou de viagem na segunda-feira (17), por volta das 11h. À tarde, o adolescente e três amigos resolveram pegar frutas em um pomar que fica às margens da Avenida Luis Eduardo Magalhães e que pertence ao famoso restaurante Paraíso Tropical.

Segundo a família do jovem, ele estava comendo algumas frutas quando foi surpreendido por um homem armado. Quando ouviram o disparo, os adolescentes saíram correndo, mas Guilherme não foi visto mais. O corpo do jovem só foi encontrado dois dias depois, em outra parte do mesmo terreno.

O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) investiga como o corpo chegou naquele local. Nove pessoas foram ouvidas até a quinta-feira (20). A família acusa o segurança do restaurante de ter baleado Guilherme, enquanto o dono do estabelecimento, chef Beto Pimentel, afirma que não havia segurança de plantão no dia do crime.

Guilherme é o caçula de dois filhos e cursava o 8º ano (antiga 7ª série) no Colégio Estadual Ministro Ademar Baleeiro, que fica no mesmo bairro onde ele morava com a família. Segundo os amigos, quando não estava na escola, o adolescente passava o tempo jogando bola, dominó ou cuidando dos passarinhos que ele criava. Os amigos disseram também que essa não foi a primeira vez que eles entraram no terreno do restaurante para pegar frutas e que o dono nunca havia reclamado.

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