A coragem do estudante João Paulo Nascimento Reis, 16 anos, lhe custou a própria vida. Sábado, ao entrar no mar da Praia da Paciência - Rio Vermelho - e salvar um menino de 11 anos que se afogava, ele acabou tragado pelo mar. No local, não havia nenhum salva-vidas. A praia faz parte do trecho de aproximadamente 30 quilômetros, entre o Subúrbio Ferroviário e a Pituba, que deveria ser coberto pelo Grupamento Marítimo do Corpo de Bombeiros (Gmar). De acordo com bombeiros ouvidos ontem pelo CORREIO, dos dez postos fixos de atendimento (no Subúrbio, os postos são móveis), somente quatro estão ativos. Os guarda-vidas afirmam que os postos estão desativados porque muitos colegas foram deslocados para outras ações dentro da corporação. O Departamento de Comunicação da Polícia Militar foi procurado na manhã de ontem para informar quantos guarda-vidas estão atuando, quantos postos estão disponíveis à população e quais seriam os problemas estruturais para a prestação do serviço. Depois de diversos contatos do CORREIO, às 19h foi enviada uma nota com o seguinte conteúdo: “Com relação à atividade de salva-vidas nas praias, a Polícia Militar informa que o Corpo de Bombeiros atua em apoio à Prefeitura Municipal de Salvador”. CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR
ImpasseJá a Coordenadoria de Salvamento Marítimo de Salvador (Salvamar), da prefeitura, conta com 35 postos nos 17 quilômetros sob sua responsabilidade, entre o Jardim de Alá e a Praia de Aleluia. Segundo o coordenador do órgão, Jardiel Luquine, a Salvamar conta com 278 servidores, sendo que 220 atuam nas praias - 110 por turno. Os números oficiais estão dentro dos parâmetros da Federação Internacional de Salva-Vidas, que recomenda a presença de um posto com dois salvadores a cada 500 metros de praia, com esse número podendo aumentar de acordo com a presença de banhistas. Mas os dados divergem daqueles apresentados pela Associação Baiana de Salvamento Aquático (Abasa). “O que temos conhecimento é que 80 salva-vidas se revezam nos turnos. Quero saber onde estão esses outros homens?”, questiona Pedro Barretto, coordenador da entidade. Segundo Barreto, dos 35 postos de atendimento da Salvamar, seis funcionam esporadicamente e três estão abandonados. Luquine, por sua vez, garante que todos funcionam. PerigoDe acordo com a Abasa, em 2011, foram registradas sete mortes no trecho de praia coberto pela Salvamar. Este ano, o número de óbitos já chegou a oito. As praias de Jaguaribe e Piatã têm a maior quantidade de ocorrências, apesar do mar relativamente tranquilo. “As pessoas se arriscam mais, por causa da aparente calmaria”, diz Pedro Barretto. Outras duas praias são perigosas pela própria natureza: Farol de Itapuã e Stella Maris, onde existem fortes correntezas. Ontem, o CORREIO percorreu várias praias de Salvador e encontrou salva-vidas em poucas delas. Na Paciência, onde o garoto João Paulo perdeu a vida, não havia sinal de posto do Grupamento Marítimo. Foi ali que Catarina Santos de Jesus, 38, viu a morte do filho. “Nós tínhamos acabado de chegar e meu filho correu para salvar um menino de 11 anos que ele mal conhecia. Agiu pelo impulso. Mesmo sem saber nadar, ele conseguiu tirar o menino, que estava na beira, mas o meu filho foi tragado”, contou ela ontem. Isso aconteceu por volta das 13h e, segundo Catarina, além do menino de 11 anos, outro garoto chegou a se afogar, mas conseguiu sair do mar sozinho. “Mas João Paulo lutava para não morrer, estendia a palma da mão, como se me pedisse ajuda, mas não podia entrar, entende? Também não sei nadar”, relata a mulher. Desesperada, a mãe da vítima começou a pedir ajuda a banhistas. “Se tivesse um salva-vidas, meu filho estaria vivo. Ele ficou três horas debaixo d’água”. O corpo de João Paulo só foi resgatado pelos bombeiros por volta das 16h. Para piorar a dor da família, a natureza já havia dado uma espécie de aviso. Há cerca de 6 meses, a irmã de João Paulo, Jéssica, 19 anos, passou por um susto na mesma Praia da Paciência. “Estava com uma amiga na boa, quando as ondas começaram a jogar a gente. Quando vi, não sentia o chão”, conta. As duas foram salvas por dois rapazes que inicialmente chegaram a pensar que tudo era uma brincadeira. Quem frequenta a praia afirma que ali nunca passou um salva-vidas. “Afogamentos são constantes aqui. Pessoas que não conhecem, turistas principalmente, e acabam sendo tragadas”, diz o segurança Manoel Messias de Oliveira, morador do Rio Vermelho há 22 anos. Matéria original Correio 24h Mortes nas praias de Salvador aumentam e banhistas pedem mais salva-vidas
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