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No primeiro assalto, os criminosos prenderam dois frentistas no banheiro do posto R1 Combustíveis. No segundo assalto, fingiram que queriam trocar dinheiro e roubaram. As duas ações ocorreram esta semana, uma domingo e a outra terça. O alvo fica na avenida Ulysses Guimarães, na Sussuarana Velha. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Combustíveis da Bahia (Sinposba), a situação não é isolada. “Tem crescido o número de assaltos por causa da falta de segurança nos postos”, destaca o presidente do Sinposba, Antonio José dos Santos, sem, entretanto, apresentar um número de ocorrências semelhantes. Com medo, os frentistas do R1 Combustíveis agora trabalham sem objetos pessoais como celular e relógio. “Essa situação está ficando corriqueira. Nem com o celular a gente fica. Se tiver uma emergência em casa, não tem como saber”, conta um frentista, pedindo anonimato. Segundo o gerente do posto, Jailson Oliveira, a média é de um assalto por mês. “A gente tem um posto de polícia aqui perto e não passa uma viatura”, reclama. Responsável pelo policiamento da área onde está localizado o R1 Combustíveis, o comandante da 48ª Companhia Independente da PM, que não quer ser identificado, afirma que dois carros com três PMs cada fazem rondas 24 horas por dia na região. Antonio Manoel Ferreira, membro da diretoria do Sinposba, diz que a entidade recebe muitas ligações de frentistas relatando os crimes. “Os patrões não denunciam e os funcionários têm medo de perder o emprego. Isso dificulta as estatísticas”.
ImpasseSegundo o sindicato, existem 215 postos de combustíveis em Salvador. Na maioria, há um esquema classificado como “antitrabalhista” pelo Sinposba: os patrões estabelecem um valor máximo que os frentistas devem manter em mãos para dar o troco dos clientes. Tudo além disso deve ir para o cofre. então, por exemplo, se o valor estabelecido for R$ 100 e o frentista for roubado com R$ 300, é obrigado a arcar com R$ 200, geralmente descontados do salário. “Os donos não registram queixa porque quem paga são os trabalhadores. Os frentistas assinam um vale como se fosse um empréstimo. Tem um assédio moral”, ataca Ferreira. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado da Bahia (Sindicombustíveis), José Augusto Costa, que representa os donos dos postos, admite a cobrança e justifica o fato como uma medida de proteção aos trabalhadores. “Se eles têm que ficar com R$ 50 na mão, bandido nenhum gosta de roubar R$ 50. Quando eles assinam o contrato, sabem do limite”, diz. Na visão de Costa, “é uma raridade” assaltos a postos. “É um número pequeno. Os donos dos postos se preocupam em colocar um sistema de coleta com transportadora de valores que encaminham o dinheiro para os bancos”, diz ele, afirmando que também são feitos investimentos em segurança privada e câmeras de monitoramento. Ontem, o CORREIO percorreu a cidade e ficou nítido que as ocorrências não são tão raras. Num Posto BR da avenida Aliomar Baleeiro, em Pirajá, um assaltante fez uma frentista refém no momento em que ele depositava o dinheiro no cofre. O bandido terminou sendo morto no momento da fuga, supostamente por um policial à paisana. O caso ocorreu em fevereiro deste ano. Ali, outro frentista conta que também já foi assaltado. “Três homens chegaram e levaram meu celular e dinheiro e ainda trancaram a gente no banheiro”, relata. Já num posto Ipiranga da rua Abelardo de Carvalho, na Boca do Rio, o frentista Mário Sérgio dos Santos, 40 anos, foi baleado durante um roubo no dia 12 deste mês. Segundo o gerente Antonio Vidal, o frentista tentou correr dos assaltantes. “Acredito que ele estava com muito dinheiro na mão e correu porque sabia que teria que pagar”, destaca o gerente. Segundo os frentistas, esse foi o quinto assalto neste posto somente este ano. Na 9ª Delegacia de Polícia, no mesmo bairro, não há registro da ocorrência em que o frentista foi baleado.
Matéria original do Correio Com alto fluxo de dinheiro, postos de combustíveis entram na mira dos assaltantes