Um dia depois da presença massiva do aparato de segurança do estado, a população dos bairros de Tancredo Neves e Engomadeira amanheceu com a rotina alterada: escolas ficaram fechadas, ônibus mudaram os trajetos e boatos de arrastões deixaram o clima ainda mais tenso. Enquanto o pedreiro José Raimundo dos Santos, 58 anos, não sabia se conseguiria chegar a tempo para uma consulta no Hospital Santa Izabel, em Nazaré, oito integrantes da quadrilha do traficante Adailton Matos de Brito, 30 anos, o Sassá, morto na megaoperação realizada quinta-feira na Engomadeira, eram apresentados no auditório da Secretaria da Segurança Pública.
“Não consigo andar daqui até o Conjunto Arvoredo, onde os ônibus estão parando agora. Sinto dor nas costas”, disse o pedreiro. A mudança no transporte coletivo foi por causa dos cinco ônibus queimados pela facção de Sassá no final de linha de Tancredo Neves. Moradores que pegavam ônibus no local tiveram que andar 1,5 quilômetro até o novo final de linha improvisado no Conjunto Arvoredo. Apesar do policiamento reforçado, os motoristas de ônibus estabeleceram um ponto de ônibus fora do perímetro das ações da polícia e dos bandidos.
Em comunicado, o sindicato dos rodoviários informou que os ônibus voltam a circular hoje no final de linha de Tancredo Neves. A decisão foi tomada após reunião com o major Enéas Estrela, responsável pelo policiamento da região, que se comprometeu a manter uma viatura no local a partir das 4h. Já na Engomadeira, o sindicato exige as mesmas condições para que os ônibus voltem a circular no bairro. A circulação no final de linha, na rua São Tiago, também foi suspensa. De lá até o Conjunto Arvoredo, a distância é de também pouco mais de 1,5 quilômetro. LimpezaOntem, garis trabalhavam no final de linha de Tancredo Neves e coletavam o que restou dos cinco ônibus queimados na quinta-feira. Com passos rápidos e segurando a mão da filha de 11 anos, a podóloga Luciana Lopes, 44, andou 1,5 quilômetro para pegar o ônibus até o trabalho, em uma clínica na Pituba. “Não tem jeito. Preciso trabalhar. Mas isso é péssimo. Horrível. Uma sensação de impotência. Não sei que horas vou chegar no meu emprego”, declarou. Enquanto era entrevistada, uma guarnição da Rondas Especiais (Rondesp) circulava na Rua Paraíba, uma das ruas que dão acesso ao final de linha. “Policiamento tem, mas não é suficiente. Eles estão aqui de 20 em 20 minutos, mas o necessário era um ponto fixo. As pessoas estão temerosas”, comenta a comerciante Darci da Glória, 43. O major Enéas Estrela, comandante da 23ª Companhia Independente da PM (Tancredo Neves), informou que as duas regiões terão o policiamento reforçado. “Teremos viaturas dando continuação aos trabalhos na área enquanto durar a megaoperação de combate ao tráfico de drogas”, declarou. Apresentação Entre os presos na megaoperação policial está Mariana Barbosa Leal, viúva de Sassá, líder da facção criminosa. Segundo a polícia, Mariana controlava e intimidava gerentes de pontos de tráfico para que não perdessem mercado para traficantes rivais. Segundo o promotor Ramires Tyrone de Almeida Carvalho, a facção mantinha uma organização hierárquica e funcional semelhante a de empresas. “Você tem o presidente que é o líder, o chefe daquela estrutura que determina o que fazer, como fazer, o dinheiro para que as operações sejam feitas e os soldados, aqueles que prestam a segurança, cobram das pessoas, distribuem as drogas. Essa estrutura existia de forma clara na Engomadeira”, explicou o promotor. De acordo com a investigação da polícia, a quadrilha liderada por Sassá mantinha ligações com o Comando da Paz. “Esse vínculo se dava através do recebimento de drogas e prestação de ordens determinadas pelo Comando da Paz. A maneira de como essas ordens eram passadas ainda é objeto de investigações”, explicou Leonardo Rodrigues, delegado da Polícia Federal. Outros integrantes da quadrilha continuam foragidos. Dentre eles, Cebola, que pode assumir o comando da facção. “Cebola ocupava uma posição intermediária no grupo, com a morte de Sassá talvez haja uma mudança de hierarquia e ele passe a dirigir o grupo. Ele fugiu com o Leleque”, afirmou Rodrigues. Entre os foragidos estão ainda: Rosivaldo Alves de Jesus, o Buiú, Ismael Ferreira dos Santos, Cláudio Nascimento Souza da Cruz, o Cabeça, Valdemir Santiago Soares, conhecido como Mimi, Anderson Paixão dos Santos, Jeferson Santos Andrade e Cristiano Santos Santana. Entre os presos por tráfico de drogas estão Elane Santos de Jesus, Jorge Luiz Coelho Barbosa, o Gaguinho, Vando de Jesus Santos, Geverson Damasceno de Araújo, Vítor Dias Damasceno, o Visconde, Leandro Pereira de Souza, o Loura, e Ismael Ferreira dos Santos, o Ninho. Com o bando foram encontrados uma pistola calibre 45, um revólver calibre 22, 241 pedras de crack, 1.441 balinhas de maconha e 1.475 papelotes de cocaína. Colaborou Caique Santos Escolas fecham e 3,6 mil alunos ficam sem aulasO silêncio tomou conta ontem das escolas públicas de Tancredo Neves. Ao todo, 3,6 mil estudantes ficaram sem aulas. No Colégio Estadual Zumbi dos Palmares, o vigilante Ubiratã Santos Guedes era o único presente. As aulas foram suspensas depois de os ônibus terem sido queimados no bairro. “É ordem da direção”, avisou, disparando em seguida: “Está todo mundo com medo, inclusive eu”. A escola atende a 1.515 alunos que cursam o ensino médio e fundamental. A situação foi a mesma no Colégio Estadual Advaldo Fernandes. Às 11h, os últimos funcionários deixaram o prédio. “Os professores não vieram com medo. Pouco alunos chegaram a vir, mas retornaram logo quando avisamos”, declarou Edson ferreira, 30, porteiro da escola, que atende a 657 alunos, distribuídos em turmas do ensino médio e educação profissional. Do portão da Escola Estadual Helena Magalhães, o vigilante gritou do outro lado: “Não tem aula!” O berro era para Graciane Freitas, 17, aluna da instituição. “Vim aqui para conferir”, disse a jovem, um dos 1.517 alunos do ensino médio e fundamental. Em contato com o CORREIO, a Secretaria Estadual da Educação informou que as aulas serão retomadas na segunda-feira e garantiu que o dia será reposto no calendário escolar. Matéria original do Correio Rotina muda em bairros após operação policial e queima de ônibus
Em meio ao trânsito, policial aponta arma durante abordagem |
PM revista jovem no bairro da Engomadeira; abordagens ocorreram durante todo o dia |
Veja também:
Leia também:
AUTOR
AUTOR
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade