Na madrugada veio a chuva, pela manhã, os carros e, em poucos minutos, as principais avenidas de Salvador estavam completamente congestionadas. Dor de cabeça para quem precisava pegar ônibus e quem se aventurou de carro por alagamentos que escondiam buracos e prejuízo. Tristeza e dor para quem viu com os próprios olhos parte da casa ser levada pela enxurrada. Ontem foi o dia mais chuvoso do ano, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Entre a meia-noite e às 9h foram 96,6mm de chuva em toda a cidade – o segundo dia mais chuvoso foi 18 de abril, quando caíram 59mm de chuva.
Com o volume de água, foram registrados pontos de alagamento nas principais vias da cidade, como a Paralela, o Bonocô e o Dique do Tororó. Segundo a Transalvador, mais de dez sinaleiras deixaram de funcionar por problemas elétricos. Resultado natural: muito engarrafamento durante toda a manhã. “Eu levo 30 minutos entre a minha casa, no Cabula, até o Centro Administrativo. Hoje, fiz os mesmos 8 km em 2 horas e 10”, comparou a assessora parlamentar Ana Ribeiro. O motorista Alex Oliveira pegou o ônibus em Cajazeiras às 6h20 e chegou na Paralela às 10h10. “Em alguns locais, o trânsito estava parado” disse. Segundo a meteorologista do Inmet Cláudia Valéria Silva, desde o começo do mês até agora foram 203,3mm de chuva, o que é considerado dentro da média esperada para maio, que é de 349,5mm. “As chuvas são provocadas pelo acúmulo de nuvens no litoral. O tempo deve começar a melhorar na quarta, mas ainda estão previstas chuvas para esta semana”, disse.
Ontem, a Defesa Civil (Codesal) registrou 27 deslizamentos e 13 ameaças de desabamento, dois imóveis alagados, quatro alagamentos de área, um desabamento e um desabamento parcial. Desespero Para a família do pedreiro José Carlos Rosário, as consequências da chuva de ontem vão muito além das horas perdidas no trânsito. Ele estava na sala de sua casa quando foi surpreendido por um estrondo. Olhou para o lado e viu a força da água arrancar as paredes do banheiro, da cozinha e a que dividia os dois cômodos. Em segundos, a casa estava alagada. “A força da água arrastou tudo que tinha pela frente e lançou contra a outra parede, onde ficava a porta. Eu fiquei desesperado e tentei evitar que a porta fechasse, se não, não ia dar tempo da gente sair. Na hora, sofá, estante, tudo caiu em cima de mim. A água estava muito forte”, contou o pedreiro. O acidente aconteceu por volta das 7h20, na Rua Manoel Esteves, em Itapuã. Na casa, além de José e a esposa, moravam os três filhos do casal. No momento do incidente, um deles estava no colégio e a mulher, no trabalho. O braço vermelho e inchado de José e o corte na canela evidenciavam o esforço para conseguir salvar a si e aos dois filhos. Sensibilizados com a situação da família, os vizinhos organizaram uma lista com doações para ajudá-los. “Eles perderam tudo, estamos tentando diminuir a dor”, disse Carlos Alberto Machado. No Aeroporto Luis Eduardo Magalhães, foi preciso o uso de baldes para conter as goteiras em dois guichês de embarque da Azul Linhas Aéreas. Segundo a Infraero, o local foi interditado e os passageiros foram encaminhados para outros guichês. O órgão justificou que as goteiras são consequência de uma reforma do terminal para a Copa do Mundo. Pelos ares Para fugir do engarrafamento que enfrentava pela manhã, na BR-324, sentido Feira de Santana, o governador Jaques Wagner acionou o helicóptero que serve à Governadoria. A aeronave pousou em um campo próximo à rodovia, onde Wagner pôde embarcar e concluir a viagem pelo céu. A assessoria do governador disse que o uso do helicóptero para deslocamentos oficiais é rotineiro, e que Wagner só saiu de carro porque a chuva não dava condições de decolagem. Como o tempo melhorou, a aeronave pôde decolar. Em entrevista à TV Itapoan, sobre o caso, Wagner apenas disse: “Demorei quase uma hora para sair de Salvador”. Matéria original do Correio Segunda-feira foi o dia mais chuvoso do ano, aponta Inmet
Em Itapuã, água entrou por buraco aberto na parede e levou geladeira, fogão e tudo que tinha na cozinha |
Poças foram formadas no recém-inaugurado entorno da Fonte Nova |
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