Ainda era madrugada quando o autônomo Robson Barbosa, 36 anos, saiu de casa, no Alto das Pombas, rumo ao 5º Centro de Saúde, na Avenida Centenário. A missão era garantir para sua família a imunização da febre amarela, que, após matar quatro macacos em Salvador, deixou os soteropolitanos em alerta. Como medida preventiva, a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) e Secretaria de Saúde do Município (SMS) decidiram vacinar toda a população da cidade. Nesta quinta-feira (30), segundo dia da campanha, o povo fez fila para conseguir a vacina.
Horas antes do atendimento ser iniciado no 5º Centro, por volta de 7h40, cerca de 400 pessoas se aglomeravam em busca da vacina contra a febre amarela. Enquanto aguardavam ser atendidas, algumas delas chegaram a se desentender. Esposa do autônomo, a dona de casa Maria Eduarda Costa, 26, chegou a discutir com uma outra mulher que a acusou de ter passado em sua frente. "Ela queria o quê? Que eu trouxesse minha filha para cá de madrugada?", indagou Maria.
Quinto da fila, Robson contou que chegou antes da mulher, por volta de 4h, para guardar o lugar. Perto do início do atendimento, marcado para 8h, ele já estava acompanhado da família. "Meu marido precisou vir garantir, a gente imaginou que estaria lotado. Infelizmente, foi por uma boa causa, não podemos deixar de tomar a vacina, o medo é grande", salientou Maria, que segurava no colo a filha do casal, a pequena Maria Flor, de 10 meses. "Essa doença me apavora", completou ela.
No posto de saúde do Vale do Matatu, em Brotas, a situação não foi diferente. Gritaria, confusão e uma fila com cerca de 300 pessoas. A situação se agravou, porém, quando, por volta de 10h, o atendimento precisou ser interrompido em função de uma falta de água na localidade. "Essa doença mata. É um absurdo, isso é falta de planejamento e organização. Estamos aqui desde cedo, como é que pode uma coisa dessas?", indagou uma mulher, sem se identificar.
Ao CORREIO, a direção da unidade informou que a interrupção em casos de falta de água é uma determinação da SMS. Minutos depois, após o abastecimento ser reestabelecido por um caminhão-tanque, o público pôde ser atendido.
Conforme informou a direção do posto de saúde, a unidade recebeu 500 doses do imunológico e aguardava receber mais 500 ainda nesta quinta (30). "A expectativa é que, até o final do dia, mais de 800 pessoas estejam vacinadas", informou um representante do posto de saúde. A estudante de enfermagem Vanessa Araújo, 19, disse não via a hora de se ver livre do medo de contrair a doença. "Eu nunca tinha ouvido falar, até ficar sabendo do bichinho morto perto da minha casa. Fiquei apavorada", contou ela, que é moradora de Brotas.
A Igreja Católia da Vila Laura, um dos pontos de vacinação, também recebeu um grande número de pessoas. Moradora do bairro, a costureira Meire Nascimento, 31, acompanhou a filha Rihana, 6, à unidade de saúde pouco antes do amanhecer. "Ela precisou faltar aula hoje, mas eu trouxe logo porque morro de medo dessa doença. O macaco morreu bem próximo à nossa casa, se a gente não viesse, não ia dormir em paz. Vou ficar tranquila a partir de agora", disse aliviada.
Filas continuam pela tarde
À tarde, as filas ainda estavam grandes nos postos de saúde. Alguns deles, inclusive, só receberam a vacina por volta de meio dia. No posto do fim de linha da Cocisa, em Paripe, as pessoas domoravam até três horas para conseguir se vacinar.
"Cheguei 13h30, a fila só andou meio metro depois de duas horas de relógio. Achei uma cadeira e tô aqui descansando minhas pernas", lamenta a dona de casa Ana Suely da Silva, 49. Eram 15h30 e ainda tinha pelo menos 50 pessoas na sua frente. "Eu vi na TV, dizendo que precisava, aí vim me vacinar", conta.
Embora alguns se mostrassem apreensivos com a quantidade de gente ainda a ser vacinada, cerca de cem pessoas, a direção do posto garantiu que todos seriam imunizados. "Abrimos uma sala extra para tentar atender a demanda mais rapidamente. Mas quem estiver aqui até as 17h vai ser atendido", afirma a enfermeira Maíra Pereira, representando a coordenadora.
Com um sorriso no rosto, a diarista Sara do Nascimento, 39, já tinha passado pelo sufoco da fila e conseguiu se vacinar. "Eu cheguei às 13h e tava bem lento. Mas tá todo mundo se vacinando, dizendo que precisa, aí vim também", relata Sara, que só saiu do posto às 15h50.
Localizado em um dos bairros em que um macaco foi encontrado morto, o posto de Ilha Amarela, também teve movimento intenso durante todo o dia. Quem estava lá no fim da tarde, no entanto, não reclamou. "A fila tava grande, mas andou rápido", conta o motorista Éder Santana, 34, que levou esposa, cunha e dois filhos para se vacinar. "Um dos macacos apareceu aqui no bairro, então tem que se precaver", justifica.
O gerente comercial Márcio de Souza, 37, também ficou satisfeito com o posto. Além de tomar a vacina, também imunizou a pequena Maria Luiza, de um ano, que segurava no colo. "Fiquei só meia hora na fila. Eu tô de folga, então vim. Mas minha preocupação mesmo é com ela", disse, se referindo à filha. Márcio, que mora no Alto de Terezinha, reclamou do posto local.
"Estive lá de manhã, já tinha acabado (as vacinas). Depois fui lá umas 15h30, me avisaram que já tinha fechado por hoje, só amanhã", relata Márcio. "Tão mais preocupados com o horário de fechar, do que em vacinar as pessoas", reclama. A reportagem passou pelo posto às 16h e já estava fechado para vacinas. Apenas quem já estava dentro seria imunizado.
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Redação iBahia
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