Ela foi secretária da Segurança Pública do estado entre os anos de 1999 e 2003. Agora, a recém-nomeada presidente da Limpurb, a delegada Kátia Alves, diz que trocou de instrumento de trabalho. “Aposentei a arma de fogo: minha arma agora é a vassoura”, disse ontem, enquanto acompanhava a visita do prefeito ACM Neto ao Subúrbio Ferroviário. Kátia passa a liderar uma nova fase da Limpurb e propõe tornar Salvador “a cidade mais limpa do Brasil”, em suas próprias palavras. De acordo com a nova política de limpeza do órgão e da Secretaria da Ordem Pública, serão realizados mutirões “até que a cidade fique limpa”, informou, ontem, Kátia. Ela ressalta que, apesar de ainda não conhecer em detalhes o funcionamento interno da Limpurb, conhece bem a sujeira nas ruas. Kátia diz que será preciso fazer uma análise da coleta de lixo em cada bairro. Assim poderá cobrar das empresas terceirizadas que realizam a coleta na cidade. Em Nova Constituinte, por exemplo, a nova presidente da Limpurb observou que 81 ruas não têm coleta de lixo – a limpeza pública se restringe à rua principal. Além disso, a própria condição física das ruas impede o caminhão de lixo entrar nesses locais. Segundo Kátia, o desafio é encontrar veículos alternativos para fazer esse trabalho. Para melhorar o serviço, a intenção é que a coleta regular chegue em todas as ruas, na casa de cada família. Porém, Kátia ressalta que o trabalho para tornar a cidade mais limpa não deve ser feito apenas pelo município. A população também tem sua responsabilidade. “Não adianta ter mil pessoas limpando e dois milhões sujando”.
MutirõesDe acordo com a secretária da Ordem Pública, Rosemma Maluf, 250 novos funcionários da empresa Torre Engenharia – que presta serviço à Limpurb – estão sendo contratados para participar dos mutirões de limpeza. O primeiro deles aconteceu ontem mesmo, na localidade da Cidade de Plástico, no Subúrbio Ferroviário. Na área principal, há um campinho onde os moradores jogam futebol. A entrada da região é cortada pela passagem dos trens do Subúrbio. Tanto os trilhos do trem quanto o campinho, tomados por restos de resíduos e capim alto, foram alvos da limpeza. Durante a manhã, os trabalhos comandados por uma equipe da empresa Torre tiveram 40 agentes de limpeza, com 10 roçadeiras, quatro caçambas, uma pá carregadeira e dois caminhões para fazer o recolhimento dos resíduos, que incluiu entulhos e até móveis e eletrodomésticos. Por volta das 10h, cerca de 40 toneladas de entulhos já haviam sido retiradas – além do lixo doméstico e da poda do capim. O balanço final da quantidade de lixo deve sair hoje. Para a dona de casa Patrícia Nascimento Menezes, 39, a limpeza da Cidade do Plástico ajuda a comunidade porque evita que os moradores queimem o lixo na frente de suas casas ou deixem o material a esmo. Como não há uma caixa coletora de resíduos dentro da comunidade (a caixa mais próxima fica do lado de fora, perto da estação ferroviária de Periperi), muitos moradores acabam realizando queimadas. Os mais dispostos levam seus resíduos para a caixa utilizando carrinhos de mão. Não só a empresa Torre, que está contratando 250 agentes, mas todas as terceirizadas que fazem a coleta de lixo vão aumentar seus efetivos. “Elas já começaram a contratar para garantir que a coleta seja regularizada”, afirmou Maluf. Empresas A Torre responde pela coleta de 15% da cidade. As empresas Revita Engenharia Ambiental, Jotagê Engenharia e Viva Ambiental são responsáveis por 60%, 15% e 10% da coleta, respectivamente. Segundo o gerente da Revita, Ângelo Castro, um dos fatores para o recente acúmulo de entulho na cidade foi o corte de gastos. “Desde agosto houve uma redução de parte dos serviços para que a empresa se adequasse ao orçamento. O item mais sacrificado foi a coleta de resíduos de construção e demolição, ou seja, entulho”. Paulo Campos, gerente comercial da Torre, também confirmou que a redução de custos influenciou na irregularidade da coleta. “A prefeitura estava com um problema de orçamento e houve corte de gastos e pessoal”. Procuradas pelo CORREIO, a Jotagê Engenharia e a Viva Ambiental não emitiram posicionamento. Secretária diz que solução é fiscalizar e conscientizar Fiscalização de empresas que fazem o descarte de entulho, falta de conscientização da comunidade e dificuldade de acesso dos agentes que fazem a coleta em alguns locais de Salvador. Para a secretária da Ordem Pública, Rosemma Maluf, esses são os principais desafios encontrados em sua missão de manter a cidade limpa. Quanto ao entulho, Rosemma avalia que o problema é agravado por empresas de construção civil. “São grandes geradores que descartam em locais inapropriados, além dos pequenos, que fazem obras em suas casas”. Para neutralizar essa questão, a secretária planeja fazer uma parceria com a Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom) e Transalvador. “Vamos intensificar a fiscalização e cadastrar os caçambeiros que fazem coleta”. A dificuldade de acesso dos agentes em algumas regiões da cidade é um problema que deve ser combatido a longo prazo. Em áreas acidentadas, como escadarias, assim como em ruas estreitas, os caminhões deixam de fazer a coleta. “Ao longo do ano, vamos buscar alternativas para entrar nos lugares”. Ela diz que a população terá que ter paciência. “Nossa orientação é que as pessoas andem um pouco mais e procurem o local mais próximo para jogar o lixo”. Rosemma reforçou sobre a necessidade do apoio da comunidade. “Porque a gente pega um saco de lixo e sai jogando em qualquer lugar, a qualquer hora...”. Desafios - Fiscalização de empresas que descartam entulho Empresas de construção civil descartam entulho em locais inadequados. A Secretaria da Ordem Pública planeja parcerias com Sucom e Transalvador para fiscalizar o despejo - Conscientização da comunidade As pessoas devem descartar o lixo no horário e local adequados. A população também pode informar demandas através do número 156 - Dificuldade de acesso às ruas Os caminhões da coleta não têm acesso a todas as ruas da cidade. A utilização de veículos alternativos será analisada Entrevista/ Kátia Alves ‘Queremos chegar na porta de cada família para coletar o lixo’A presidente da Limpurb, Kátia Alves, assume o cargo propondo organização. Além de cobrar das empresas, quer ajuda da população e pensa até em “sanção moral” para quem sujar as ruas. Quais são as áreas prioritárias para os mutirões? Iniciaremos com os bairros violentos, que precisam de limpeza, educação, saúde. Mas temos que dar atenção a toda a cidade, independente de ser bairro nobre ou periferia. As necessidades são as mesmas por se tratar de saúde pública. A orla marítima precisa de coletores. Nós estamos em plena alta estação, precisamos limpar os pontos turísticos, o Centro Histórico, o Comércio, a orla. Existe uma lei no Rio de Janeiro que propõe multar os cidadãos que jogam lixo na rua. Há alguma ideia nesse sentido? Estamos pensando na implementação de uma sanção moral. As pessoas passam com seus veículos e jogam latas pelas janelas. Dentro de algum tempo a cidade vai estar toda monitorada, com câmeras. A gente pode pegar a placa do carro, tentar identificar o condutor, mandar uma correspondência pra ele. Então seria primeiramente uma espécie de sanção moral. O que fazer para melhorar o trabalho das terceirizadas?A Limpurb gasta em torno de R$ 50 milhões por ano só com terceirizadas. Precisamos reestruturar as empresas para prestar melhor serviço. Vamos nos reunir com elas para saber como estão as coletas e visitar os lugares para poder cobrar. O importante é que a gente consiga chegar na porta de cada família para coletar o lixo de forma organizada. E conscientizar a população da importância do seu papel na limpeza das ruas. Matéria original do Correio Xerife da Limpurb, delegada Kátia Alves inicia faxina pelo Subúrbio
Abandonando a arma de fogo, Kátia Alves saca a vassoura e promete mutirões na periferia e bairros nobres |
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