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SAÚDE

Adoção de dietas e tratamentos da moda preocupam especialistas

Pacientes pedem terapias ainda em fase de testes e escolhem regimes restritivos à revelia da opinião de médicos

Redação iBahia • 17/09/2017 às 23:32 • Atualizada em 01/09/2022 às 0:16 - há XX semanas

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Patricia Pontes travou uma luta contra a balança por mais de três décadas. A especialista financeira, hoje com 47 anos, experimentou um leque de dietas. Numa delas, só era permitido comer cereais, como aveia, castanha e nozes. Em outra, os alimentos autorizados mudavam de acordo com a fase da lua. Uma terceira consistia exclusivamente no consumo de frutas. Eram tantas restrições que quase nenhuma tentativa durava mais de algumas semanas. A reviravolta ocorreu em março, quando Patrícia precisou perder peso para fazer uma cirurgia e, pela primeira vez, procurou uma nutricionista para ajudá-la a montar um prato. Em três meses, livrou-se de 13 quilos.

Foto: Reprodução / Sshutterstock


— Antes eu ficava pouquíssimo tempo engajada, logo queria comer alguma coisa proibida. Tomei remédios para emagrecer mas, em pouco tempo, recuperava todo o peso — lembra. — Quando percebi que este era um problema de saúde, e não mais um capricho estético, corri atrás de uma nutricionista e comecei a fazer atividade física. Hoje, posso comer de tudo, desde que seja moderadamente. Tiro uma foto da balança todas as segundas-feiras e volto ao consultório a cada 20 dias. Se ganhar um quilo, investigo o que fiz de errado. Estou sempre me monitorando.

Hábitos e expectativas de vida


Os modismos em nutrição e na medicina foram discutidos na edição deste mês do “Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar”, coordenado pelo cardiologista Cláudio Domênico, com participação de Fernanda Mattos, doutoranda em Ciências Nutricionais pela UFRJ, e mediação da jornalista do GLOBO Josy Fischberg.

— Muitas pessoas falam sobre a dieta mediterrânea, a paleolítica, Atkins, South Beach... mas cada uma tem seu resultado — explica Domênico. — Os homens da ilha italiana de Sardenha e as mulheres de Okinawa, no Japão, estão entre os povos com maior expectativa de vida, e cada um tem seus hábitos alimentares.

O cardiologista percebe que a insatisfação dos pacientes é, em muitos casos, motivada pelas redes sociais. Uma pesquisa realizada este ano pela Sociedade Real para a Saúde Pública do Reino Unido mostra que sete em cada dez jovens entre 14 a 24 anos registraram um impacto negativo para sua saúde mental após acessarem fotos no Instagram. E um dos maiores motivos para a queda da autoestima está relacionada à imagem corporal. Segundo Domênico, muitos buscam indiscriminadamente as vitaminas:

— Em alguns casos, a vitamina serve apenas para o paciente fazer um xixi mais caro — destaca Domênico. — Não são necessárias. O uso de suplementos nutricionais também requer cuidado. São concentrados de proteínas que aumentam a massa muscular, mas, se não forem consumidos com moderação, liberam toxinas nos rins e no fígado.

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Foto: Reprodução


Outra solução da moda para moldar o corpo são os termogênicos, que aceleram o metabolismo e ajudam a queimar gordura. No entanto, a falta de regulação de seu uso pode causar taquicardia, arritmia e até alterações neurológicas.

Segundo a nutricionista Fernanda Mattos, que elaborou a dieta de Patricia, o cérebro tem um mecanismo de preservação contra a perda de peso quando ela ocorre sem um regime que abrigue os nutrientes necessários para o funcionamento do organismo. Desta forma, o órgão estimula efeitos compensatórios, que são fisiológicos e emocionais — o famoso “chutar o balde”.

— É um efeito sanfona: o corpo ganha novamente o peso que perdeu — descreve. — E, aos poucos, adquire resistência às dietas: a perda de peso será cada vez menor, por mais que a pessoa adote outra estratégia.

As dietas da moda têm algo em comum — são ricas em proteína e dão pouco valor ao carboidrato, que é uma fonte de energia primária para o organismo, se for consumido na dose certa. Em excesso, é armazenado como gordura.

Diante da pergunta de quais alimentos engordam, Fernanda revela que é adepta da palavra “depende” — ou seja, não é possível dar um diagnóstico universal.

— Existem polêmicas como o papel do ovo, se deve ser considerado vilão ou mocinho. Na verdade, o problema não é ele, e sim como é feito, e de que forma pode substituir outros alimentos em nossas refeições — conta. — O glúten provoca medo, e isso não devia acontecer. Trata-se de uma proteína presente em grãos de trigo, aveia, centeio e cevada. Se for retirada do prato, excluiremos muitos alimentos.

Párias e Salvadores

A medicina está recheada de produtos que já foram populares e, hoje, são lembrados como párias. No início do século passado, segundo Domênico, a cocaína era indicada para tratamento de dor de dente e problemas de garganta, a heroína estava presente em analgésicos e os xaropes calmantes continham álcool e maconha.

Da mesma forma, há o movimento inverso — fármacos que eram rejeitados e tornaram-se itens obrigatórios em um tratamento.

— Na década de 1960, surgiu uma droga beta-bloqueadora contra a insuficiência cardíaca — recorda Domênico. — Trinta anos depois, se a receitasse para um paciente, seria execrado. Apenas em 1999 foi divulgado um estudo mostrando seu grande benefício para quem tem asma ou coração cansado. Agora, na maioria dos casos, sua prescrição é considerada obrigatória por cardiologistas.

Os profissionais da área também enxergam com cautela outro modismo — o uso de células-tronco em tratamentos. É consenso que seu consumo será benéfico mas, até agora, os testes foram inconclusivos. Não se sabe, por exemplo, se foram administradas na quantidade e na frequência corretas.

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