Quando chega fevereiro, nosso coração também vira um Carnaval. Por isso, essa semana o se essa rua fosse minha trouxe pra você as histórias e os causos por trás de cada circuito da folia. Abram alas que a alegria vai passar.
Circuito Sérgio Bezerra - A magia dos antigos Carnavais está de volta

O Circuito Sérgio Bezerra foi oficializado em 2013 e hoje é considerado um patrimônio cultural e uma das maiores expressões do Carnaval da Bahia. O percurso é entre o Farol da Barra e o Morro do Cristo, e segundo o próprio Sérgio, “é um grande salão de festa a céu aberto e toda a família pode participar”. Quando bater aquela vontade de cantar “ó abre alas que eu quero passar”, corra pra Lavagem do Habeas Copos. Quem nunca se encantou por uma marchinha, que atire o primeiro gole.
Circuito Riachão - Protestos bem-humorados e a malandragem do sambista que a Bahia adora
Desde os 9 anos, o garoto Clementino já ensaiava umas batucadas no Garcia, seu bairro de origem. O apelido veio dos amigos, que o consideravam brigão demais, “um riacho que não se podia atravessar”. E é no mesmo Garcia onde o menino nasceu, que há mais de 80 anos desfila o Mudança do Garcia, sem cordas e com a banda que leva o mesmo nome. Quer saber como o bloco surgiu? Reza a lenda que uma prostituta decidiu sair do bairro em uma segunda de Carnaval, logo depois de ter sido expulsa pela elite do lugar. A partir daí, todos os anos os moradores se reúnem para relembrar a mudança da mulher.

Circuito Batatinha - Um Carnaval também se faz sem trio
Já entregamos o ouro logo de cara pra você. No Circuito Batatinha ninguém vai correr atrás do trio, mas vai poder dançar ao som de fanfarras e blocos afro na companhia dos filhos. Você deve estar se perguntando: por que escolheram o Pelourinho e qual a ligação dele com Batatinha? O Pelô foi palco dos primeiros gritos carnavalescos que se tem notícia, ainda no século XVIII. E Batatinha é nosso querido Osmar da Penha, sambista de primeira que compunha e tocava uma caixinha de fósforos como ninguém. O apelido foi dado por um amigo que o achava muito legal, já que batata significa gente boa na gíria popular. O Circuito Batatinha surge como uma homenagem aos antigos carnavais e à tradição do samba baiano.

Circuito Mestre Bimba - A luta de um homem e de uma comunidade simbolizada pelo Carnaval

É nesse contexto de inclusão que entra Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional, que mesmo conquistando todas as classes da sociedade, sempre manteve sua academia no bairro, já que seu grande objetivo era tirar a capoeira da marginalidade. Homenagear o homem que sempre estimulou os jovens a se manifestarem artisticamente através da capoeira é uma forma linda de dizer “vai ter Carnaval em Amaralina sim”. É claro que em se tratando do mestre, essa frase teria que vir depois de muita luta. E veio. Sem violência, como ele gostava, mas cheia da efervescência cultural e artística de seu povo, com muita festa, confete e serpentina.
Circuito Osmar - A tradição que passa de folião para folião
Chegamos em 2018 e você deve estar aí contando os dias pra sair na Avenida. O problema é que até 1950, o Carnaval da Bahia era restrito a bailes fechados em clubes. Ou seja, zero chance de sua avó ter vivido a emoção de dançar com os braços pra cima carregada pelo seu avô, como a gente faz com os boys hoje em dia. Mas as coisas começaram a mudar quando os amigos Dodô e Osmar adaptaram um velho Ford 1923 com caixas de som e saíram pelas ruas de Salvador exibindo suas músicas. Assim nasceu a Fobica, e já que estamos falando de família, ela pode ser considerada a mãe do trio elétrico. Os rapazes subiram a Ladeira da Montanha em direção à Praça Castro Alves e Rua Chile, arrastaram milhares de pessoas e deram início ao nosso Carnaval.

Circuito Dodô - A união perfeita de duas paixões do baiano: Carnaval e beira-mar

E quando se fala em paixão, o querido Dodô vem logo à cabeça. Quem mais do que ele foi tão louco pelo Carnaval? Tão, mas tão apaixonado, que quase o inventou tal qual ele é hoje. A Barra-Ondina respira essa paixão de Dodô. E quer uma dica? Aproveite pra encontrar muitos amores nessa beira-mar. Quem sabe um deles não sobe a serra?
Circuito Orlando Tapajós - Um resgate ao passado que mira no Carnaval do futuro: sem cordas
Orlando é um desbravador, daqueles das histórias antigas. Foi ele que desfilou pela primeira vez no Carnaval de 1962 com a Carroceria Elétrica. Ele viu um modelo em uma revista de aviação em pleno voo. Foi ao banheiro, arrancou a página e a escondeu no seu sapato. Anos depois, criou o Trio Tapajós e muitos outros, entre eles a Caetanave, que nasceu para comemorar o exílio de Caetano e Gil.

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