É preciso abandonar os combustíveis fósseis poluentes e utilizar fontes mais limpas para evitar o efeito estufa
Foto: wwwuppertal
São necessárias mais ações para cortar as emissões de gases de efeito estufa, a fim de limitar o aquecimento do planeta a 2ºC até 2100. A conclusão consta da terceira e última parte do quinto Relatório de Avaliação feita por cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgada neste domingo, 13 de abril, em Berlim.
Segundo os cientistas, é preciso abandonar os combustíveis fósseis poluentes e utilizar fontes mais limpas para evitar o efeito estufa, que poderá provocar um aumento da temperatura do planeta entre 3,7ºC e 4,8ºC antes de 2100, o que seria um nível catastrófico.
"Há uma clara mensagem da ciência: para evitar uma interferência perigosa com o sistema climático, temos que deixar de continuar operando igual", explicou Ottmae Edenhofer, copresidente do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) da ONU, que elaborou o documento.
O documento chamado de Sumário para os Formuladores de Políticas apresenta ideias de como limitar o impacto das alterações do clima a partir da análise de 900 modelos econômicos, formulados por governos e pesquisadores, além dos resultados das negociações sobre o clima.
Para a brasileira Suzana Kahn Ribeiro, vice-presidente do grupo de mitigação do IPCC e uma das autoras do novo capítulo, o texto quer chamar a atenção de governantes para a inércia climática. "Se não tiver uma atitude drástica, não tem a menor chance de limitar em 2ºC até o final do século", alertou ela.
Ações
De acordo com as previsões do relatório, até 2050 o setor de energia deve emitir o dobro ou talvez o triplo da quantidade de gases em comparação às 14 gigatoneladas de CO2 equivalente lançadas em 2010. Por isso, "descarbonizar" a geração de eletricidade é um componente chave para o funcionamento das estratégias de redução de emissões.
O texto afirma que é preciso investir em formas alternativas que usem o vento, o sol e a água para gerar energia. Há ainda uma discussão em torno da matriz nuclear, considerada pelos cientistas uma tecnologia de baixo carbono, mas com barreiras operacionais e de segurança, necessitando, desta forma, mais progressos em pesquisas.
Brasil
Apesar dos cientistas apontarem a inovação no setor de energia como forma de reduzir as emissões de carbono, Suzana comenta que o Brasil segue atualmente na contramão ao não aumentar a participação de fontes renováveis e ainda acionar termelétricas para aumentar a oferta de eletricidade do país. "Se a direção é descarbonizar, estamos indo ao contrário", diz.
Dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) divulgados na primeira semana de abril apontam que o uso da energia térmica no Brasil aumentou 11% entre fevereiro de 2013 e 2014. O baixo nível dos reservatórios utilizados pelo sistema hidrelétrico obrigou o país a acionar as termelétricas, que geram energia por meio da queima de combustíveis como óleo, gás, carvão e biomassa.
"Tirando a parte de desmatamento, floresta e agricultura, não temos um programa forte de eficiência energética, transporte de massa, com incentivos ao transporte individual", observou a especialista.
As principais sugestões do relatório da ONU para os governos são as seguintes:
- Energia: "descarbonizar" a geração de eletricidade, investindo em recursos como vento, sol e água para gerar energia;
- Transporte: investir em veículos de massa, como trens e ônibus e incentivar veículos movidos a combustíveis menos poluentes;
- Construção: implementar as inovações tecnológicas de redução das emissões;
- Uso da terra: reduzir o desmatamento, recuperar áreas degradadas e manter boas práticas na agricultura.
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