Vista aérea de São Paulo, maior cidade do Brasil. Estrutura é um dos desafios da sustentabilidade nos centros urbanos
Foto: Jeff Belmonte
O maior desafio do Brasil na área da sustentabilidade envolve a adequação das grandes cidades. A opinião é do secretário de políticas e programas de pesquisa e desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, que participou na quinta-feira, 24 de outubro, de encontro da Rede Global de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
A Rede Global realizou a segunda discussão sobre o Rio de Janeiro, que, junto com Nova York (EUA), Estocolmo (Suécia), Bangalore (Índia) e Acra (Gana), é objeto de estudo de especialistas de diversas áreas, que buscam soluções de sustentabilidade para cidades com diferentes características.
"A parte mais difícil para o Brasil se tornar uma potência ambiental é a questão da cidade. Corremos o risco de conseguir sustentabilidade na agricultura e em outros setores e ter uma grande dificuldade com a estrutura de cidades como o Rio ou São Paulo", ressaltou Nobre à Agência Brasil. Para ele, as cidades serão um desafio também no que diz respeito ao impacto das mudanças climáticas.
Corremos o risco de conseguir sustentabilidade na agricultura e em outros setores e ter uma grande dificuldade com a estrutura de cidades como o Rio ou São Paulo, afirmou Carlos Nobre
Foto: Renato Lopes
O encontro foi promovido na sede da Fundação Brasileira para Desenvolvimento Sustentável e tratou da capacidade das cidades de resistirem a desastres futuros que possam ser intensificados pelas mudanças no clima, de oportunidades econômicas e da biodiversidade, considerada uma vantagem do Rio.
Áreas de risco
O professor Paulo Gusmão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destacou a necessidade de investimentos estruturantes, que têm sido feitos na região metropolitana, como os polos industriais de Itaguaí e Itaboraí. Como 10,3% do território da capital, essas áreas têm menos de 10 metros de altitude e podem ser mais sujeitas a inundações, com chuvas mais fortes ou níveis mais altos dos mares. Bairros das zonas oeste e norte, às margens das baías de Guanabara e de Sepetiba, e as lagoas da Barra da Tijuca também poderiam ser afetados ao menos em um cenário crítico, alertou ele.
De acordo com Gusmão, as cidades da região metropolitana são díspares quando o assunto é a base de dados, e alguns municípios sofrem com a falta de servidores especializados que permaneçam nos postos para dar continuidade às políticas públicas: "A municipalidade precisa de equipes permanentes, e não de profissionais de passagem", afirmou.
Nível de biodiversidade
Membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas, Fábio Scarano disse que, quanto à biodiversidade, a região metropolitana está bem posicionada, por já ter 16% do território protegido em reservas ambientais, enquanto a meta global é atingir 17% até 2020. Apesar disso, o principal rio fornecedor de água para a capital, o Guandu, requer 300 toneladas de produtos químicos por dia para ser tratado, devido à poluição e a falta de arborização das margens, alertou.
O Guandu é responsável por 80% do abastecimento do Rio de Janeiro e recebe águas já contaminadas do Paraíba do Sul, problema cuja solução, segundo Sacarano, precisaria de uma articulação com São Paulo. O Rio também sofre com um déficit de 860 mil árvores, com arborização deficiente ou criticamente deficiente em 93% dos bairros, acrescentou.
Para a pesquisadora norte-americana Cynthia Rosenzweig, do Nasa Goddard Institute for Space Studies, o futuro reserva um papel de liderança às metrópoles. "As cidades devem liderar a busca por sustentabilidade. Elas se conectam em vários fluxos, mas o que pode ser feito para que assumam essa posição? É preciso criar um sistema que ajude as cidades como um todo, com mais financiamento à pesquisa e soluções implementáveis", apontou.
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