Mara Rubia expõe decoração em velas na Feira do Cerrado, em Goiânia
Foto: Fernando Leite/ASN
Por Agência Sebrae
Rendas, bonecas e panelas de barro, acessórios feitos com lã de ovelha e crina de cavalo são algumas das peças nacionais que vão ocupar um espaço nobre na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. A exposição, que acontece no período de 9 a 16 de setembro, vai contar com 15 artesãs de 12 estados brasileiros, que passaram por cursos de gestão oferecidos pelo Sebrae. Devido à sua rica produção artesanal, o Brasil foi escolhido pela ONU para a exposição nos Estados Unidos. A mostra será realizada durante a realização da Assembleia Geral, que reúne chefes de Estado.
Inovação, impacto social e criatividade foram alguns dos critérios utilizados no processo de seleção do grupo, que se caracteriza por forte qualificação, com acompanhamento, inclusive, do Sebrae. Além de consultorias para ajudar na estruturação do negócio, a instituição capacitou as artesãs em design e formação de preço, por exemplo. Além disso, o Sebrae também facilita o acesso a feiras e eventos especializados.
“O artesanato é uma das maiores expressões culturais do povo brasileiro. Possui grande importância para o desenvolvimento econômico e ainda possibilita a inclusão social pela geração de trabalho e renda do Brasil. As micro e pequenas empresas e os microempreendedores individuais são praticamente os responsáveis pela totalidade do mercado artesanal brasileiro, tanto da parte de quem produz, quanto da parte de quem vende”, afirma o presidente do Sebrae nacional, Luiz Barretto.
Bonecas de barro
Bonecas inspiradas em mulheres grávidas ou vestidas de noiva são moldadas pela destreza e imaginação de Maria José Gomes da Silva, conhecida como Zezinha. Nascida e criada no Vale do Jequitinhonha, essa mineira com o olhar aguçado pela experiência do dia a dia consegue distinguir a olho nu a pigmentação entre os diferentes tipos de barro antes da queima, antevendo assim o resultado final.
Ela usa misturas de barro marrom (para modelagem) e branco (para decoração), ou componentes como carvão e pedra trituradas, para conseguir diversos tipos de cores. Com essa técnica, Zezinha consegue definir o tom do olho e o vermelho da boca das bonecas. Todas as peças da artesã reproduzem com fidelidade vestidos ricos em detalhes, como renda e laços. “Dou a elas o que não pude ter”, reforça.
A meta da mineira agora é conseguir o selo de Indicação Geográfica (IG), conferido a produtos com valor intrínseco e identidade própria, que apresentam qualidade única em função de recursos naturais disponíveis na região, como solo, vegetação e clima.
Panelas de barro
O barro também é o material utilizado por Berenícia Correa Nascimento como forma de expressar seu talento, além de fonte de renda. Ela é presidente da Associação das Paneleiras de Goiabeira, com sede em Vitória. Não somente pela beleza, as panelas do Espírito Santo são reconhecidas pela qualidade, uma vez que já possuem o selo de Indicação Geográfica.
Foto: Bruno Melnic Incáo
A artesã explica que o barro encontrado na região tem mesmo uma composição única, que permite que seja moldado à mão e queimado em fogueira ao ar livre, sem apresentar qualquer tipo de rachadura. Sem essa matéria-prima, é preciso moldar as panelas em um forno e queimá-las em fornos especiais que atingem altas temperaturas.
“A natureza entrega a mistura pronta para a gente, e ela é perfeita. Nossas panelas duram muito. Tem gente que chega aqui com a panela da bisavó e pede uma reprodução”, diz Berenícia.
A associação tem 118 profissionais, mas Berenícia calcula que mais de oito mil pessoas estão envolvidas na atividade, entre artesãos, queimadores e modeladores. Para cuidar do patrimônio, ela conta que não é permitido usar equipamentos mecânicos como escavadeiras. A retirada do barro é feita com enxada em pequenas porções.
Sofisticação com sementes e madeiras
A artesã carioca Mônica Carvalho aposta na sustentabilidade e beleza de materiais como fibras, sementes e madeira para criar objetos sofisticados, a exemplo de móveis, objetos de decoração, luminárias, espelhos e biojoias. A originalidade é reforçada com a mistura de sementes da Amazônia, como a jarina, também chamada de marfim vegetal, ou de madeiras como tucumã, com outros materiais - prata, ferro ou tecido. “Presto atenção até em galho de árvore caído. Acho que tudo pode virar arte”, completa Mônica.
Formada em Letras, ela já foi professora de inglês, tradutora e intérprete e há 13 anos decidiu se dedicar integralmente ao artesanato. Mas, antes de lapidar seu talento, Mônica estudou teoria da arte no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; no Metropolitan, em Nova York; e no Louvre, em Paris.
Acessórios feitos de lã de carneiro
Para driblar a crise da ovinocultura e evitar o êxodo rural, a gaúcha Elza Pozzobon Noal arregaçou as mangas e juntou um grupo em torno do artesanato. O trabalho começou na década de 70 e não foi fácil, mas hoje a dona de casa é reconhecida como líder rural. A lã, antes usada para fazer mantas de cavalo, ponchos e cobertores para a família, transformou-se na principal matéria-prima para confeccionar cachecóis, colares e casacos.
Para participar de feiras regionais, o grupo de Uruguaiana e região recebeu capacitação do Sebrae e formatou uma coleção orientada pelo designer Renato Imbroise. Esse trabalho, que incluía até tramas sofisticadas de brincos e colares feitos com crina de cavalo, rendeu um convite para a Fashion Business, maior evento de negócios do Rio de Janeiro. Em solo carioca, as artesãs foram convidadas para expor na Rússia.
A produção ainda é pequena e a exportação, sazonal. No entanto, hoje, aos 70 anos, Elza se orgulha de ter transformado a cooperativa Lã Pura em uma fonte de sustento para os artesãos e suas famílias, entre 22 associados e 50 beneficiados indiretamente.
Bordados em redes de pesca
Marechal Deodoro, antiga capital de Alagoas e batizada em homenagem ao primeiro presidente do Brasil, também é a terra do bordado filé. Apaixonada por essa antiga tradição, Wendy Sherry Oliveira Barros decidiu se dedicar à valorização da atividade. Formada em Turismo, com pós-graduação na Elaboração de Projetos, ela criou há nove anos a Cooperativa de Artesãos da Barra Nova.
Essa técnica consiste em bordados geométricos feitos em uma rede de pesca presa a um tear. Flores com cores intensas são temas recorrentes no bordado filé, inclusive alguns dos pontos levam os nomes de jasmim e flor bom-gosto. Com apoio do Sebrae, a luta agora é pela conquista de Indicação Geográfica do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Esse selo regulamenta a produção e confere a Alagoas o reconhecimento de estado responsável pela produção do bordado filé.
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