A partir de Paris, ficou claro que o que era um movimento voluntário ou de boas práticas de companhias mais avançadas em sustentabilidade se tornou um imperativo
Foto: Force Ouvrière/Flickr/(cc)
Por Jorge Soto*
Após 20 edições da Conferência das Partes (COP), que acontecem desde 1992, quando a Convenção do Clima foi aprovada, chegamos finalmente a um acordo legalmente vinculante no que diz respeito ao aquecimento global, com um entendimento claro de que o mundo será totalmente diferente ainda neste século.
O “Acordo de Paris”, aprovado no fim do ano passado, foi mais ambicioso do que o esperado ao estabelecer o compromisso de impedir que a temperatura média do planeta se eleve mais do que 2ºC em relação à era pré-industrial, buscando o 1,5ºC para reduzir os riscos dos países insulares. Entretanto, para que isso aconteça, será necessário que cheguemos a emissões líquidas zero o quanto antes.
Ao respeitar o princípio “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” e ao acolher todas as Contribuições Pretendidas Nacionalmente Determinadas (INDC), o pacto também se distingue por seu carácter inclusivo. As contribuições de 185 países se tornaram compromissos (NDC – Contribuições Nacionalmente Determinadas). Apenas dez nações ainda não tinham se manifestado até dezembro passado, mas todos os grandes emissores já o tinham feito, entre eles os Estados Unidos, a China e a Europa. O Brasil também encaminhou sua INDC se comprometendo a reduzir suas emissões em 37% até 2025, em relação a 2005, e em 43% até 2030.
Foi também um acordo inteligente, pois levou em conta as diferenças e peculiaridades dos países e buscou instigar os meios para o desenvolvimento de soluções, considerando o desafio de transformar padrões de produção e consumo. Com base no conjunto dos NDCs, cálculos preliminares projetam um aumento da temperatura em torno de 3ºC. Diante dessa projeção, ficou definido que a ambição de cada nação deverá ser revisada a cada cinco anos, sem retrocesso.
Fato é que os impactos das mudanças climáticas já são percebidos por muitos e a inércia das emissões históricas é real. Portanto, o “Acordo de Paris” foi também equilibrado ao prever a proporcionalidade entre medidas de mitigação e de adaptação.
Para as empresas, a partir de Paris, ficou claro que o que era um movimento voluntário ou de boas práticas de companhias mais avançadas em sustentabilidade se tornou um imperativo. As empresas terão que definir uma estratégia para reduzir ou compensar suas emissões no curto, médio e longo prazo, tendo em mente um mundo com emissão líquida zero. Apesar de ainda serem poucas, algumas já anunciaram compromissos de se tornar “carbono neutras” ou até mesmo “carbono positivas” até 2030 ou 2050.
Para se adaptar a esse mundo completamente diferente, será necessário investir em inovação de produtos, de processos e em novos modelos de negócios. Oportunidades comerciais surgirão para aqueles que se movimentarem primeiro. Exemplos de soluções, tais como o plástico verde da Braskem, que captura carbono da atmosfera, ou ainda carros elétricos ou movidos a etanol, que utilizam fontes renováveis de energia, mostram que a inovação para o baixo carbono não só é possível, como já é uma realidade, mas a escala terá que aumentar.
Para isso está claro que o mercado terá que incentivar. Instrumentos econômicos, como a precificação do carbono, muito debatidos na COP21. Movimentos empresariais como o Pacto Global, o CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, o Instituto Ethos e o “We Mean Business”, o engajamento da academia (aqui no Brasil merece destaque o GVCes – Centro de Estudos em Sustentabilidade), bem como do Banco Mundial pressionaram cada vez mais uníssonos. Os negociadores acabaram ouvindo esse chamado e o acordo incorporou um novo mecanismo de mercado em âmbito global, que alguns já chamam de MDS (Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável), um paralelo ao instrumento anterior chamado MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).
Ficou claro também que as empresas terão que se engajar no movimento para adaptação às mudanças climáticas. Isso se desejarem longevidade para seus negócios. Na Braskem já foram feitas as primeiras incursões no assunto. Fazendo uso de estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para 2040, por exemplo, foi possível identificar os riscos e as oportunidades climáticas que poderão afetar os negócios da companhia. Com base nesse levantamento, será possível definir ações para mitigar as ameaças ou potencializar as oportunidades.
Por fim, deixei Paris muito mais confiante de que uma economia de baixo carbono se aproxima. O caminho a percorrer é longo, mas a caminhada já começou para alguns, e de maneira compartilhada. O Brasil possui uma série de vantagens comparativas para essa economia de baixo carbono, entre elas uma matriz energética mais limpa e alta produtividade em biomassa. Não podemos desperdiçar essa chance! Para tanto, políticas públicas que incentivem o engajamento empresarial e de toda a sociedade são cada vez mais importantes.
*Jorge Soto é doutor em Planejamento Ambiental pela Coppe/UFRJ e diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem.
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