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[Artigo] Desperdício do alimento mundial é de um terço

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17/04/2015 às 14:00 • Atualizada em 26/08/2022 às 19:32 - há XX semanas
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Rastro de desperdício de alimentos em escala global é da ordem de 1,3 bilhão de toneladas
Foto: Estúdio Urbano

Por Marcus Eduardo de Oliveira*

Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) comprovam que o nível do desperdício de alimento mundial é de um terço.

O rastro de desperdício de alimentos em escala global é da ordem de 1,3 bilhão de toneladas (excluindo peixes e frutos do mar), ocasionando, além de significativas perdas econômicas (750 bilhões de dólares por ano), também forte impacto ambiental, pois essa enorme perda, excetuando China e EUA, se fosse um país, seria a terceira maior emissora de gases causadores de efeito estufa (são 3,3 bilhões de toneladas de gases nocivos).

Cabe apontar que os gases de efeito estufa (GEE) modificam o balanço atmosférico entre carbono e oxigênio, dos quais depende o equilíbrio ecológico e a reprodução da própria vida.

Junto com a produção de alimentos desperdiçados, perde-se também água, energia e produtos químicos usados na produção alimentícia. Somente o volume de água “perdido” nesse desperdício equivale ao fluxo anual do rio Volga, na Rússia, aponta o relatório da FAO.
Esse desperdício de alimentos consome cerca de 250 quilômetros cúbicos de água e ocupa cerca de 1,4 bilhão de hectares, grande parte de habitat natural transformado para tornar-se arável.

A conta monetária ao ano desse desperdício brasileiro gira ao redor de R$ 80 bilhões em alimentos, energia, água e demais recursos que simplesmente viram lixo

O relatório intitulou essa perda de “pegada do desperdício alimentar”, em alusão à pegada ecológica, ou seja, é a medida que traduz em hectares globais (ha) a quantidade de terra e água que seria necessária para sustentar o consumo de uma população. Num mundo em que quase 1 bilhão de pessoas sofre de profunda e crônica carência alimentar, o desperdício de alimentos chega a impressionante cifra de 1/3 de toda a produção mundial.

A redução de desperdício de alimentos não só evitaria a pressão sobre recursos naturais escassos, mas também diminuiria a necessidade de aumentar a produção de alimentos em 60%, a fim de atender a demanda da população em 2050, aponta o relatório da FAO.

A situação brasileira
Em matéria de desperdício, lamentavelmente o Brasil tem alcançado as primeiras posições no ranking dos países que não sabem fazer bom uso dos recursos naturais e, em especial, da produção agrícola. De toda a água produzida no país, por exemplo, 46% se perdem pelos ralos; o que equivale a quase 6 bilhões de m3 por ano. Em relação à energia elétrica desperdiçamos 43 terawatt-hora (TWh), dos 430 (TWh) consumidos.

Essa perda (exatamente de 10%) é superior ao que é consumido pela população do estado do Rio de Janeiro, de acordo com estudos elaborados pela Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco).

Já no que concerne aos alimentos, estimativas apontam um desperdício a cada ano de 26,3 milhões de toneladas de comida jogados fora: volume suficiente para distribuir 131,5kg para cada brasileiro ou 3,76kg para cada habitante do planeta. Toda essa comida alimentaria facilmente 13 milhões de brasileiros que ainda passam fome, nas contas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Nossa perda agrícola é de 44% de tudo o que é plantado: 20% durante a colheita, 8% entre o transporte e armazenamento, 15% na indústria de processamento e 1% no varejo. Somando-se as perdas decorrentes dos hábitos alimentares e culinários, tem-se mais 20% de alimentos que são estragados (incluindo o elevado consumo de carnes branca e vermelha que é de 94 quilos em média per capita/ano), o que faz subir então para 64% o nível de desperdício de alimentos.

A conta monetária ao ano desse desperdício brasileiro gira ao redor de R$ 80 bilhões em alimentos, energia, água e demais recursos que simplesmente viram lixo.

(*) Professor de economia. Especialista em Política Internacional e Mestre em Integração da América Latina (USP).
[email protected]

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