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[Artigo] Fora dos limites

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01/04/2015 às 10:20 • Atualizada em 02/09/2022 às 3:07 - há XX semanas
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Serra da Gandarela - área de Mata Atlântica
Foto: frederico Pereira

Por Marcus Eduardo de Oliveira*

Estimular o crescimento econômico fora dos limites só aumenta a pressão sobre os serviços prestados pela natureza. Crescimento é sinônimo de expansão (aumento da quantidade de bens produzidos), e o mundo ecológico não suporta mais um tipo de expansão exageradamente agressivo à escala de valores da natureza, em especial da biodiversidade.

Aqui mesmo nesse espaço, por reiteradas vezes trouxemos os dados que apontam para a perda substancial das diversas formas de vida: a União Internacional para a Conservação da Natureza estima que, no mundo, por volta de 11% das espécies de aves, 25% dos mamíferos, 25% dos anfíbios, 20% dos répteis, 34% dos peixes e 12% das plantas estão ameaçadas de desaparecer para sempre nos próximos cem anos.

No âmbito brasileiro, um total de 627 espécies de animais e 472 de plantas correm o risco de não mais constar do mapa de biodiversidade. Dessas espécies, cerca de 160 são peixes, 70 são mamíferos, 20 são répteis, 130 são invertebrados terrestres, 160 são aves. Dessa grave perda de biodiversidade, a maior parte está na Mata Atlântica, da qual restam apenas 27%; da Caatinga, restaram 63%; dos Pampas, 41%; do Cerrado, 60%; da Amazônia, 85%; e do Pantanal, 87%.

Esse assustador desaparecimento de biodiversidade está relacionado à ação econômica que continua vendendo o sonho do crescimento como modelo “ideal” de prosperidade e bem-estar.

O que precisa ser feito, e com muita brevidade, é aquilo que a filósofa francesa Catherine Larrère diz com propriedade “bon usage de la nature”, ou seja, “o bom uso da natureza”

Enquanto o paradigma maior da ciência econômica continuar girando em torno da busca pelo crescimento econômico, deixando de lado o desenvolvimento social e humano, o limite biofísico será constantemente ultrapassado.

Mudar esse princípio é o principal desafio dos próximos tempos. Para tanto, faz-se necessário estabelecer uma economia que opere em sintonia com os princípios da natureza, reconhecendo, de antemão, a dependência do sistema econômico em relação à ecologia e à termodinâmica.

Não se pode perder de vista que a economia nada mais é que um apêndice da biosfera que consome energia. Por isso a economia encontra-se subordinada à ecologia que, por sua vez, é subordinada à biologia e ao que já apontamos: a termodinâmica (calor, energia, potência), sendo essa subordinada à física.

Assim, qualquer tentativa de crescimento econômico passa indubitavelmente por esses meandros. Apenas pelo fato da atividade econômica consumir energia já se vincula a uma dependência explícita às leis da física.

Faz-se necessário reiterar alguns pontos: energia, por exemplo, é um conceito básico da física que obedece a duas leis fundamentais da termodinâmica. A primeira é a lei da conservação, cujo pressuposto básico diz que a energia não pode ser criada nem destruída, apenas pode ser transformada.

A segunda é a lei da entropia que diz que a energia sempre se dispersa, passando de um estado de maior concentração para um de menor concentração.

Esse segundo princípio termodinâmico é, por si, balizador da expansão da atividade econômica, uma vez que a economia não pode contrariar a lei da entropia, ou seja, em outras palavras, não se pode usar a mesma energia, queimar o mesmo carvão por várias vezes.
Por isso é pertinente à afirmativa de que a economia está vinculada à ecologia e à termodinâmica. Sendo um sistema aberto ao sistema ecológico, a economia passa a ser regida pelas leis da termodinâmica.

O problema maior é que, além de não reconhecer essa “dependência”, o ensinamento neoclássico – que forma a base, em geral, do raciocínio dos economistas – trata com menosprezo os limites da natureza, pondo o conjunto das bases naturais em delicada situação.
Toda tentativa de estimular à atividade econômica para crescer fora dos limites da natureza somente agrava a questão ambiental.

O que precisa ser feito, e com muita brevidade, é aquilo que a filósofa francesa Catherine Larrère diz com propriedade “bon usage de la nature”, ou seja, “o bom uso da natureza”, ressaltando a ideia central de que não se pode utilizar a natureza sem antes estabelecer os critérios do seu uso, mediante o cuidado ético.

(*) Professor de economia do Unifieo e da FAC-Fito (São Paulo). Mestre em Integração da América Latina (USP).
[email protected]

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