O clima foi de festa quando confirmada a sexta posição do Brasil no ranking das maiores economias do mundo, em março deste ano. O país ultrapassou a riqueza do Reino Unido esbanjando o montante de 4.143 trilhões de reais do Produto Interno Bruto (PIB). Noticiários e economistas internacionais ressaltaram o crescimento da economia brasileira, em meio à crise nos países da Europa. Ponto positivo para o Brasil.
Mas temos mesmo uma vida de país de “primeiro mundo”? De tempos em tempos, essa pergunta volta à tona. Analistas questionam se o PIB, medidor mais prestigiado entre os líderes globais, é mesmo o melhor mecanismo para avaliar o progresso de uma nação.
De que forma vamos garantir o sorriso no rosto das diversas gerações?
Foto: UN/Photo
O índice criado na década de 1930 pelo russo naturalizado norte- americano Simon Kuznets lhe rendeu inclusive um Prêmio Nobel de Economia e foca na soma em valor monetário de todos os bens e serviços produzidos por um país. Deixa de fora, por exemplo, a riqueza dos bens naturais, o acesso ao conhecimento, o bem-estar social, psicológico e a boa governança.
Para ampliar essa avaliação, em 1990, o economista paquistanês Mahbud ul Hap lançou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ao classificar os países a partir de dados de expectativa de vida e saúde, educação e o PIB por habitante. Esse foi o início das avaliações centradas na qualidade de vida das pessoas. A consequência foi um forte contraste quando comparado aos números do PIB. O Brasil é a sexta economia do mundo segundo o PIB, mas figura na 84a posição entre os 187 países avaliados em 2011 pelo IDH.
O cenário atual, com crise climática, econômica e forte exploração dos recursos naturais, amplia os desafios dos estatísticos para saber quem está no caminho certo. Tanto que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, alertou: “A comunidade internacional deveria medir o desenvolvimento para além do Produto Interno Bruto e desenvolver um novo índice de desenvolvimento sustentável ou um conjunto de indicadores”.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (acima), pede por um índice que vá além do Produto Interno Bruto. Foto: UN/Photo
Índice de Riqueza Inclusiva
Uma resposta a essa necessidade veio durante a Rio+20, quando o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançou o Índice de Riqueza Inclusiva (IRI). O novo indicador avalia o desenvolvimento de uma nação com base em ativos do capital manufaturado, humano e natural.
Desenvolvido por especialistas da Universidade das Nações Unidas, a ferramenta reúne informações referentes à educação e expectativa de vida, os recursos florestais, além da produção industrial. Na prática, quanto mais alto é o IRI, mais sustentável é a nação.
Segundo Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma, o IRI faz parte de uma gama de potenciais substitutos à avaliação da geração de riqueza, cuja intenção é “concretizar o desenvolvimento sustentável e erradicar a pobreza”. Segundo a ONU, o novo indicador buscará incentivar a sustentabilidade dos governos e complementar o cálculo do PIB, ou mesmo substituir os atuais medidores da economia.
Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma, aposta no IRI como o substituto do PIB. |
Na primeira listagem, divulgada em junho, o Brasil foi considerado o país com o quinto maior crescimento sustentável anual per capita do mundo, atrás apenas de China, Alemanha, França e Chile, e à frente de potências econômicas como Estados Unidos, Canadá e Noruega.
Apesar da criação de um novo índice, ainda mais completo, o debate em torno dos fatores que devem ser levados em conta na hora de medir o desenvolvimento de uma sociedade parece não ter fim.
Para a administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Helen Clark, o progresso precisa ser definido e medido de uma forma que represente uma “perspectiva mais ampla do desenvolvimento humano e seu contexto”. Mas, afinal, qual seria essa perspectiva?
Tudo isso leva à felicidade?
“Crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa”, já disse Ladislau Dowbor, economista e professor da PUC/SP em 2009. Naquele mesmo ano, enquanto lançava o livro Compêndio de Sustentabilidade de Nações, em que reúne 25 indicadores alternativos ao PIB elaborados no Brasil e no mundo, o economista defendia que já não era possível se basear apenas no crescimento econômico permanente, pois ele não se traduz em qualidade de vida.
Foi essa condição que levou o pequeno reino do Butão, isolado entre as montanhas do Himalaia, a adotar, em 1972, o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB). Com uma população de aproximadamente 700 mil habitantes, o país foi classificado como um dos mais pobres do mundo pela ONU, mas também como um dos dez mais felizes por uma pesquisa da University of Leicester, no Reino Unido.
A história começou quando o rei Jigme Singye Wangchuck, incomodado com as críticas de que seu país crescia de forma insatisfatória, firmou um compromisso de construir uma economia adaptada à cultura do país e baseada nos valores espirituais budistas - criando, assim, o FIB.
O modelo de avaliação do Butão foi aderido por outros países no mundo
Desde então, o progresso do Butão é calculado com base em aspectos que levem à felicidade. Hoje, o país não tem problemas com fome, o analfabetismo é zero, índices de violência são insignificantes, nenhum mendigo vive nas ruas e não há registro de corrupção administrativa.
O país tem até um Ministério da Felicidade, que trabalha para garantir ao cidadão bem-estar psicológico, saúde, bom uso do tempo, vitalidade comunitária, educação, cultura, cuidado com o meio ambiente e boa governança. A intenção é manter o padrão de vida sempre na lista de prioridades.
Felicidade em números
População caminha pelo país mais feliz do mundo, a Dinamarca, segundo o primeiro Relatório Mundial sobre Felicidade
O modelo do Butão despertou a atenção das Nações Unidas, que apresentaram, em abril de 2012, o primeiro Relatório Mundial sobre Felicidade, produzido pela Universidade da Columbia.
O documento analisou dados de 156 países, recolhidos entre 2005 e 2011. O resultado listou a Dinamarca, Finlândia, Noruega, Holanda e Canadá como os povos mais felizes os planeta. Do outro lado da lista, Togo, Benim, República Centro-Africana e Serra Leoa.
Para avaliar a felicidade, o relatório considerou critérios que incluíram riqueza, liberdade política, existência de redes sociais fortes e ausência de corrupção. Em termos individuais, foram medidas a saúde física e mental, segurança no trabalho e estabilidade do ambiente familiar.
O progresso de uma nação avaliado apenas pelo crescimento econômico pode estar com os dias contados
O economista norte-americano Jeffrey Sachs, um dos autores do estudo, defende essas variáveis como fundamentais para se ter uma noção do real bem-estar de determinada população. “A felicidade, embora seja de fato uma experiência subjetiva, pode ser objetivamente mensurada, avaliada, correlacionada com funções cerebrais observáveis, e relacionada às características do indivíduo e da sociedade”, defende.
Para Sachs, é preciso identificar as conexões da felicidade e usar as políticas públicas para produzir uma elevação da satisfação com a vida em toda a sociedade. De acordo com o relatório, elevar a renda pode elevar a felicidade, especialmente nas sociedades pobres, mas fomentar a cooperação e o sentido de comunidade pode fazer mais ainda.
Felicidade bruta dos brasileiros
O conceito do FIB chegou também ao Brasil. Desde 2010, a Fundação Getúlio Vargas trabalha com pesquisas para criar um índice adaptado à realidade brasileira. Segundo o professor Fábio Gallo, um dos responsáveis pela pesquisa, o índice no Brasil vai ser um pouco diferente e medirá pontos como educação, saúde, renda, violência e uso do dinheiro.
Para traçar esse índice, os pesquisadores promoverão uma série de audiências públicas a partir do segundo semestre de 2012 para definir os critérios a serem medidos - e somente depois passarão para a fase de mensuração de cada fator do índice.
“Muitos medem apenas objetivos. Vamos começar um caminho até mais doloroso, que é desenvolver, a partir de indicadores, objetivos e subjetivos, qual o comportamento padrão do bem-estar brasileiro. Antes de medir os números, queremos descobrir as perguntas”, afirmou.
A expectativa é que o índice auxilie na formulação de políticas públicas e privadas não apenas em nível nacional, mas também local. “Queremos saber o que faz as pessoas felizes. Em uma cidade, o que as pessoas gostariam de ter mais? Equipamentos esportivos, culturais, de lazer, ambientes verdes?”, exemplifica.
Para Gallo, as pessoas já não querem ser medidas apenas por fatores monetários, e o novo cenário mundial pede também uma nova concepção de desenvolvimento. “Queremos entender quais são os fatores determinantes para o bem-estar dos brasileiros. Não basta ser a sexta economia no PIB, é preciso saber se isso nos faz um país mais feliz”, concluiu.
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