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SUSTENTABILIDADE

Como a energia solar será implantada nos estádios da Copa do Mundo?

Em crescente demanda em todo o mundo, a energia solar estará presente em, ao menos, um terço dos estádios que abrigarão os jogos do Mundial de 2014, no Brasil. Reportagem do EcoD apurou os detalhes de como as usinas fotovoltaicas serão instaladas nesses equipamentos esportivos e quais são seus benefícios. Maracanã (RJ), Mineirão (MG), Arena Pernambuco e Mané Garrincha (DF) já adiantam seus projetos. Recentemente, o estádio de Pituaçu, em Salvador, tornou-se o primeiro da América Latina a adotar essa fonte energética renovável.

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25/04/2012 às 13:05 • Atualizada em 05/09/2022 às 20:44 - há XX semanas
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Estádio de Pituaçu, em Salvador, é o primeiro da AL dotado de energia solar/Foto: Manu Dias/Secom-BA

A adoção de práticas consideradas sustentáveis é uma das condições da Fifa (Federação Internacional de Futebol) para que um determinado país venha a sediar uma Copa do Mundo. Como o Mundial de 2014 é no Brasil, as 12 cidades-sede do país precisam entrar nesse jogo, e uma das alternativas nesse sentido é adotar a energia solar nos estádios que abrigarão as partidas.

O projeto que mais se destaca atualmente atende pelo nome de Estádios Solares, iniciativa idealizada pelo Instituto Ideal, sediado em Florianópolis (SC), com apoio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Cooperação Alemã para o Desenvolvimento (GIZ no Brasil e KfW).

“Neste ano, em que o Brasil sedia a conferência Rio+20 com a grande tônica da sustentabilidade, esta tecnologia limpa e renovável de geração abre novas possibilidades para as edificações, especialmente nos estádios de futebol, a grande paixão dos brasileiros”, comemorou Mauro Passos, presidente do Instituto Ideal.

Atualmente, dois estádios-sede já confirmaram adesão ao projeto Estádios Solares: Mineirão e Maracanã. Enquanto as obras dessas duas construções seguem em andamento (a arena de Minas deve estar pronta em dezembro e a do Rio até o primeiro semestre de 2013), ele já é realidade no estádio Roberto Santos (Metropolitano de Pituaçu), em Salvador (BA), primeiro da América Latina a aderir à energia solar como fonte energética. O Pituaçu será utilizado para treinos de seleções durante a Copa.

Pituaçu Solar

A inauguração do sistema solar no estádio de Pituaçu foi feita no dia 10 de abril. Com a utilização dessa energia alternativa, o governo do Estado da Bahia estima economizar cerca de R$120 mil/ano. A energia solar gerada e interligada à rede de distribuição será equivalente a 630 MW/h ao ano, capaz de abastecer 525 residências. O projeto custou mais de R$ 5,5 milhões, dos quais R$ 3,8 milhões aplicados pela Coelba (concessionária local), por meio de financiamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e R$ 1,75 milhão pelo governo estadual.

“Quando ocorreu a tragédia da Fonte Nova [em 2007, parte da arquibancada desabou e sete pessoas morreram] nós sabíamos que não haveria mais jogos lá por um bom tempo, e que as partidas seriam levadas para o estádio de Pituaçu. Como precisávamos de um projeto modelo para os jogos da Copa, conseguimos, com a ajuda da Coelba e do governo estadual implantá-lo”, explicou Passos.

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Mauro Passos, presidente do Instituto Ideal, destacou a importância da energia solar/Foto: Divulgação

Segundo ele, que é engenheiro especializado em planejamento energético, o projeto Estádios Solares nasceu junto com o próprio Instituto Ideal, em 2007, mas só passou a ganhar forma depois da definição das 12 cidades-sede. “Com todos os estudos já realizados, encaminhamos o projeto para o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o apresentamos na Comissão da Copa no Congresso”, relembrou. Visitas à Alemanha e à Áustria também foram feitas para conhecimento da realidade dos estádios solares europeus.

No caso do estádio de Pituaçu, uma das novidades é que o excedente de energia gerado através da geração solar (270 MW/h) será utilizado no prédio da Secretaria Estadual de Trabalho Emprego e Renda (Setre), situado no Centro Administrativo da Bahia, próximo ao equipamento esportivo - o consumo médio anual do estádio é de 360 MW/h. Isso é possível porque os sistemas fotovoltaicos estarão conectados à rede elétrica de distribuição.

“Além de ser o primeiro estádio da América Latina a usar energia solar, Pituaçu também é a primeira unidade consumidora a participar do sistema de compensação, que inclui disponibilizar na rede de abastecimento toda a eletricidade excedente”, observou Daniel Sarmento, engenheiro eletricista que coordenou o projeto da Coelba, que pertence ao Grupo Neoenergia.

De acordo com ele, a Aneel concedeu uma autorização especial para que a usina fotovoltaica do estádio de Pituaçu fosse inserida no sistema de compensação, pois ela já estava instalada em meados de abril, quando a agência aprovou a resolução que regulamenta o tema para empreendimentos de energia limpa de pequeno porte.

Mineirão Solar

A Cemig (empresa de energia), o Governo de Minas e a concessionária Minas Arena assinaram em março o convênio para instalação do projeto de energia solar no estádio do Mineirão. A usina contará com uma potência instalada de 1,5 MW/h de potência, com produção estimada de 2.200 MW/ano de energia, o que equivale ao consumo médio de 2.000 residências.

“O Mineirão é o primeiro estádio sede da Copa do Mundo 2014 a implementar esse tipo de projeto no país”, destacou Alexandre Heringer Lisboa, gestor de projetos de energias renováveis da Cemig. Ao aproveitar o espaço da cobertura do estádio para instalar os módulos fotovoltaicos de silício, a empresa de energia poderá gerar, entregar e comercializar a energia elétrica pela rede de distribuição da companhia e, parte dessa energia, poderá ser utilizada pelo consumo do estádio.

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Projeto de reforma do Mineirão, em Belo Horizonte - cobertura de concreto terá placas solares feitas de silício/Foto: Divulgação

Serão 7.000 placas de silício ocupando toda a cobertura de concreto: 10 mil metros quadrados. Estima-se que o Mineirão produzirá cerca de 80% de toda a energia elétrica que vai consumir. A expectativa é que entre 300 e 600 toneladas de dióxido de carbono (CO2) sejam reduzidas por ano, segundo estudo de viabilidade técnica e econômica, financiado pelo Banco de Fomento Alemão KfW.

Maracanã Solar

Palco da grande final da Copa do Mundo, o Maracanã “não poderia ficar de fora da utilização da energia solar”, opinou Eduardo Lana, gerente de planejamento da Light. As obras feitas no estádio incluem a instalação de placas fotovoltaicas em toda a superfície que cobre as arquibancadas.

Além da Light, que coordena a produção e distribuição de energia no Rio de Janeiro, o projeto também será financiado pela EDF (Eletricité de France). Juntas, elas instalarão placas sobre uma superfície de 2,5 mil metros quadrados, que serão capazes de gerar 670 mil kW/h por ano.

A produção seria suficiente para abastecer 25% da energia necessária para o funcionamento do Maracanã. No entanto, como o investimento é fruto de uma parceria entre as duas empresas e o governo do Estado, elas terão direito a comercializar a energia produzida nos cinco primeiros anos, a fim de compensar os R$ 6 milhões gastos com a implantação da tecnologia.

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Palco da final da Copa, Maracanã deve ajudar a deixar a energia solar ainda mais em evidência/Foto: Divulgação

Passados os cinco anos, a eletricidade oriunda do Maracanã será propriedade do governo, mas mesmo assim pode não ser usada diretamente no estádio. “Os projetos não acabam no Maracanã. A Light ainda pretende gastar R$ 15 milhões para implantar células fotovoltaicas em outros centros esportivos do Rio de Janeiro, como o Parque Aquático Júlio de Lamare, o Maracanãzinho e o Estádio de Atletismo Célio de Barros”, pontuou Lana.

E os outros estádios?

Mas se a energia solar é renovável, por que os demais estádios da Copa do Mundo ainda não decidiram adotá-la? Segundo Mauro Passos, do Instituto Ideal, todas as cidades-sede do Brasil têm potencial para instalar energia solar nos estádios, mas nem todas o farão, por diversas razões.

“Tem estádio que é público, outro que é do clube ou do município, e necessariamente tem de haver uma relação de proximidade com a empresa de energia do local. Trata-se de uma pequena usina dentro da cidade, o que requer cuidados com a questão elétrica do sistema. Até porque, depois da Copa, haverá uma usina para administrar, distribuir e comercializar aquela energia”, justificou Passos.

A energia solar deverá ter um custo competitivo e passará a integrar a matriz energética brasileira em, no máximo, cinco anos, segundo projeção feita em abril pela secretaria nacional de Planejamento e Desenvolvimento Energético.

De acordo com o engenheiro, tem sido mais fácil implantar o projeto por meio de governos dos Estados, porque muitas vezes eles são donos das empresas de energia ou então a concessão das mesmas é deles. “O caso do Mineirão foi o mais fácil de todos, por exemplo, porque a Cemig é do Estado e o Mineirão também. A Cemig tem o interesse de que o estádio seja ‘solarizado’, inclusive fazendo da usina um laboratório de pesquisa.”

Pernambuco, Brasília e Bahia

Além do estádio de Pituaçu, Mineirão e Maracanã, também já há a informação de que a Arena Pernambuco e o Mané Garrinha (DF) terão usinas solares. No equipamento esportivo pernambucano construído pela Odebrecht e cuja concessionária de energia é o Grupo Neoenergia (que também atua na Bahia), o projeto prevê investimento de R$ 13 milhões e deve entrar em funcionamento até junho de 2013. A capacidade de geração é de 1 MW.

No caso do Mané Garrincha, a cobertura do estádio poderá produzir 2,5 MW com os painéis solares. Segundo o arquiteto Vicente de Castro Mello, coautor do projeto da arena, a energia gerada pelos painéis fotovoltaicos será suficiente para atender a 50% da demanda do estádio durante os jogos e horários de pico. No restante do tempo, vai superar o consumo local e enviar a energia excedente para a rede.

Como funciona o sistema de compensação
Os estádios consomem mais energia solar a noite, quando é realizada boa parte dos jogos. Assim, durante o dia, a eletricidade gerada fica disponível na rede e pode ser utilizada por outros prédios.

Previsto para ser concluído em dezembro de 2012, o Mané Garrincha pretende conquistar a certificação Leed Platinum, selo máximo da construção sustentável concedido pelo instituto norte-americano U.S. Green Building Council (GBC). “A energia solar vai contribuir bastante para o processo de certificação”, ressaltou Mello. O estádio de Brasília está previsto para ser concluído em dezembro de 2012.

Ao ser perguntado sobre a possibilidade de a Arena Fonte Nova, em Salvador, também aderir à energia solar, Mauro Passos afirmou que acredita na viabilidade do projeto. “Eu acho que no avançar da obra da Arena Fonte Nova isso vai passar a ser discutido, porque seria esquisito Pituaçu ter e a Fonte Nova não ter”, comparou.

O consórcio da Arena Fonte Nova, formado pelas construtoras Odebrecht e OAS, informou ao EcoD no dia 25 de abril que estuda atualmente a viabilidade de instalação de energia solar no empreendimento, cujo andamento da obra já se aproxima de 60% (deverá estar concluída em dezembro de 2012). O Grupo Neoenergia, já responsável pela usina fotovoltaica do estádio de Pituaçu, também administraria a parte operacional das placas solares da sede de jogos de Salvador, caso haja um acordo nesse sentido.

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