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"Coral-sol pode ser oportunidade de economia criativa", projeta Zé Pescador

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01/04/2014 às 16:50 • Atualizada em 30/08/2022 às 5:44 - há XX semanas
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Zé Pescador retira coral-sol na região da Baía de Todos-os-Santos
Foto: Arquivo pessoal

Se por um lado o coral-sol (Tubastrea tagusensis e Tubastrea coccinea) representa um grande risco à biodiversidade marinha e, consequentemente, aos pescadores que dela dependem, por outro também pode significar uma oportunidade de renda para as pessoas que vivem da pesca, principalmente na região da Baía de Todos-os-Santos.

A ideia é defendida por Zé Pescador, fundador da organização não governamental Pró-mar, uma das duas instituições do país que contam atualmente com a licença do Ibama para remover essa espécie invasora. Em entrevista exclusiva ao EcoD, o ambientalista explicou mais detalhes sobre o coral-sol, o trabalho da ONG e como esse animal cnidário (do mesmo grupo das águas-vivas e anêmonas) pode deixar a condição de vilão ao trazer benefícios para as comunidades pesqueiras.

EcoD: O que é o coral-sol?

Zé Pescador: É um animal cnidário, que se reproduz de forma assexuada, provoca a extinção dos corais nativos e pode reduzir a oferta do pescado em longo prazo. Onde a espécie se instala, a vida marinha praticamente desaparece. O bicho é muito resistente, trata-se de uma praga. Estamos muito impressionados com a expansão nos mangues, inclusive.

Vivo, ele pode atender a indústria da aquariofilia. Já morto, ele pode servir como matéria-prima para o artesanato, até porque é muito bonito. Poderia ser uma fonte de renda para os pescadores.

Como se dá o trabalho da Pró-mar para removê-lo?

A Pró-mar começou a monitorar os recifes de coral da llha de Itaparica (na Baía de Todos-os-Santos) em 2006 e atualmente tem ampliado os estudos para outros locais, além das ilhas de Tinharé e Boipeba, no baixo sul da Bahia. Na semana passada, removemos parte do coral-sol que ameaça os corais nativos da Baía de Todos-os-Santos. A ação foi realizada no recife natural dos Cascos, sedimentado a 20 metros de profundidade na costa leste da Ilha de Itaparica e a 12 km de Salvador via mar. Contamos com uma equipe de oito profissionais capacitados para esse fim.

Quais são as maiores dificuldades para executar esse trabalho?

Só recentemente obtivemos a licença do Ibama. Estamos entre as duas instituições do Brasil que têm essa autorização. Tivemos que contar com o apoio de uma pessoa com conhecimento para escrever o projeto, até porque é necessário atender a uma série de exigências técnicas. Hoje, não estamos com o trabalho a todo pique porque faltam recursos.

Há estudos que comprovam que o coral-sol foi trazido por plataformas de petróleo advindas do Golfo do México, portanto, estamos em negociação com empresas de petróleo e gás. A Pró-mar vive atualmente de doações. Cada integrante doa muito de si para que ela aconteça. Eu, por exemplo, faço palestras. Todos se doam muito pela causa.

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Apesar de belo, coral-sol representa grande risco à biodiversidade marinha
Foto: Pró-mar/Divulgação

E como tem sido essas negociações?

Precisamos deixar alguns pontos esclarecidos. O primeiro é que, com a qualidade atual da água da Baía de Todos-os-Santos, não é possível viver de pesca, apenas sobreviver. Ora, o coral-sol chega aqui grudado nas plataformas. A Petrobras acha que a culpa não é dela, o Estaleiro São Roque acha que não é dele - não dá para ser mais assim. Ficamos sabendo que o estaleiro quer vir agora com uma plataforma cheia de coral-sol do Rio de Janeiro. Entramos com uma ação pública, mas eles vieram com uma liminar. Poxa, então meus amigos e eu nos matamos todos esses anos para limpar o fundo mar para quê? É só trazer a plataforma e deixá-la ali?

Aos poucos, estamos conseguindo conversar com essas empresas, negociar em busca de soluções, porque também não adianta nada ficar apenas reclamando. Temos que ter diálogo para resolver o problema. A propósito, o Ministério Público, por meio da doutora Cristina Seixas, que é da Comissão de Meio Ambiente, nos recebeu muito bem e tem nos ajudado.

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Fundador da Pró-mar, Zé Pescador recebe prêmio "Amigo da Baía de Todos-os-Santos", do Rotary Club

Quais regiões têm sido mais afetadas pela ação do coral-sol?

O sul da Ilha de Itaparica é o lugar mais impregnado. Também destaco São Roque do Paraguaçu, na região da Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape. Lembrando que espécie-invasora não se extingue, se controla.

Como tem sido o trabalho junto aos pescadores da região?

Quando os mergulhadores avistarem este coral, não devem coletar nem quebrar as colônias, pois ao manipulá-lo incorretamente, pode-se estimular a desova deste organismo, contribuindo com a amplificação do problema. O correto é comunicar o mais rápido possível a Pro-mar ou algum especialista da área. Os pescadores também podem contribuir com a remoção, mas precisam ser treinados e qualificados. Eles devem ter acesso à tecnologia que permita a eles fazer a retirada do organismo invasor sem criar maiores problemas ao meio ambiente.

Meu próximo passo é batalhar uma licença de comércio, porque, uma vez removido corretamente, o coral-sol (apesar de tudo) pode ser uma importante fonte de economia criativa. Vivo, ele pode atender a indústria da aquariofilia. Já morto, ele pode servir como matéria-prima para o artesanato, até porque é muito bonito. Poderia ser uma fonte de renda para os pescadores.

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