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Créditos de carbono: MPF vai investigar contrato entre empresa e índios

Segundo o órgão, falta clareza no acordo que permite à companhia irlandesa explorar por 30 anos uma área de 200 mil quilômetros quadrados na floresta amazônica. Os índios da etnia mundurucu receberiam um pagamento mensal para ceder à Celestial Green Ventures os direitos de comercialização dos créditos de carbono, que compensam emissões de gases de efeito estufa pelas grandes empresas poluidoras ao redor do planeta.

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14/08/2012 às 12:00 • Atualizada em 14/09/2022 às 7:41 - há XX semanas
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Selva e rio em Rondônia. Região rica em biodiversidade.
Foto:Andre Sa

O contrato de US$ 90 milhões firmado entre a empresa irlandesa Celestial Green Ventures e a comunidade indígena munducuru, referente ao uso de créditos de carbono, foi alvo de inquérito aberto pelo Ministério Público Federal (MPF), informou o Estadão na terça-feira, 14 de agosto.

Segundo o órgão, falta clareza no acordo que permite à companhia irlandesa explorar por 30 anos uma área de 200 mil quilômetros quadrados na floresta amazônica. Em março, o Estadão revelou que os índios da etnia mundurucu receberiam um pagamento mensal para ceder à Celestial Green Ventures os direitos de comercialização dos créditos de carbono, que compensam emissões de gases de efeito estufa pelas grandes empresas poluidoras ao redor do planeta. Além disso, o contrato prevê a exploração da biodiversidade, com acesso irrestrito ao território indígena no município de Jacareacanga (PA).

Segundo a apuração do MPF, o valor pago pelos irlandeses seria de R$ 3 milhões por ano. Depois de passar pela Advocacia-Geral da União (AGU), o procedimento administrativo foi transformado em inquérito e será investigado pelo procurador Felipe Bogado, da Procuradoria da República em Santarém, no Pará.

US$ 3 mi por ano é o valor que será pago pela Celestial Green Ventures aos índios mundurucus.

A Fundação Nacional do Índio (Funai), que considera ilegais os contratos assinados entre comunidades indígenas e empresas que negociam crédito de carbono, registra no país mais de 30 contratos nas mesmas bases.

Segundo a entidade, não existe regulamentação no país sobre o mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd) e os contratos que exploram esta compensação financeira não têm validade jurícica. Pela lei, os índios não são donos das terras, cuja propriedade cabe à União, mas têm amplos direitos sobre a posse e o usufruto de suas riquezas.

Apenas a Celestial Green teria fechado outros 16 projetos no território brasileiro, somando cerca de 200 mil quilômetros quadrados- ou quase o tamanho do estado de São Paulo. A terra dos mundurucus representa pouco mais de 10% do total contratado pela empresa, que também negociou os territórios Tenharim Marmelos, no Amazonas, e Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão e Rio Negro Ocaia, em Rondônia.

Sem revelar valores, outra empresa internacional, a Viridor Carbon Services, anunciou recentemente ter realizado o maior contrato do gênero com a etnia cinta-larga, que ocupa quatro terras indígenas nos Estados de Rondônia e Mato Grosso.

Por dentro do Redd

O conceito de Redd existe há quase 10 anos e propõe que sejam incluídas na contabilidade as emissões de gases de efeito estufa que são evitadas pela redução do Desmatamento e a degradação florestal.

Assim, países em desenvolvimento que reduzem suas emissões nacionais combatendo o desmatamento em florestas tropicais receberiam compensação financeira internacional. O valor seria algo em torno de US$ 1 mil por hectare contratado.

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