Loja ecológica da Zara em São Paulo. Empresa tenta reverter imagem ruim depois do caso polêmico de agosto de 2011
Fotos: Divulgação
Em tempos nos quais a imagem institucional das empresas pode ir do céu ao inferno em poucos segundos, graças ao desenvolvimento das redes sociais na internet e de consumidores cada vez mais conscientes, o compromisso formal com a erradicação do trabalho forçado pode agregar pontos importantes.
Não é à toa que o número de grandes empresas brasileiras que assumem esse compromisso cresceu de 83% em 2010 para 87% (das 104 companhias analisadas) em 2013, segundo dados do Guia Exame de Sustentabilidade, que será publicado no dia 7 de novembro. Outros 79% auditam seus fornecedores para evitar casos assim. É, em parte, uma reação a um acompanhamento mais rigoroso pelo governo. Cerca de 2.750 funcionários foram resgatados nessas condições em 2012 — cinco vezes o contingente flagrado há 13 anos.
O prejuízo para as companhias flagradas inclui, além das multas, perder acesso a financiamentos bancários. A penalidade pode ficar ainda mais rigorosa, pois no dia 17 de outubro foi aprovado um projeto de lei por uma comissão mista do Senado e da Câmara para a expropriação de imóveis dos empregadores diretos de profissionais mantidos em condições análogas à escravidão — uma decisão que ainda terá de passar pelas duas casas. Sem contar os danos causados à reputação das empresas envolvidas.
“A tendência é que as empresas imprimam cada vez mais uma cultura de combate ao trabalho escravo também por exigência de um consumidor mais consciente”, afirmou à Exame Luiz Machado, coordenador do projeto de combate ao trabalho forçado no Brasil da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Medidas das empresas
No Brasil, um dos casos de maior repercussão foi registrado em agosto de 2011, quando fiscais descobriram bolivianos em condições precárias de trabalho em uma oficina que produzia peças para a marca de roupas espanhola Zara, em São Paulo.
Eles não tinham carteira de trabalho, a jornada superava 14 horas diárias, não recebiam salário, dormiam e faziam refeições no local e só saíam da oficina quando o dono deixava.
Duratex verifica aspecto social de seus 113 principais fornecedores
O caso ganhou notoriedade mundial. No dia seguinte à descoberta, as ações do Inditex Group, dono da Zara, caíram 4,2% na bolsa de Madri. Desde janeiro de 2012, a empresa realizou mais de 500 auditorias em oficinas terceirizadas e destinou 3,4 milhões de reais para regularizar a situação imigratória de 13.700 estrangeiros no Brasil.
Setor de terceirização
Os casos mais graves proliferam em setores em que a terceirização é regra, como o têxtil. “Não é fácil produzir roupas no Brasil, onde a carga tributária alcança 40% do custo, sem terceirizar a produção”, afirmou José Galló, presidente da Lojas Renner, que se manteve longe do problema até agora. Recentemente, a empresa decidiu avançar no controle de seus fornecedores.
Desde 2010, a Renner já auditava o comportamento até das subcontratadas de seus terceirizados. Em 2012, estreitou o acompanhamento, com novos indicadores. Dos 636 prestadores de serviço da empresa, 238 passaram pela verificação. “É preciso vigiar toda a cadeia e, se necessário, aliar-se aos concorrentes”, ressaltou Kevin Bales, professor de escravidão contemporânea da Universidade de Hull, no Reino Unido, um dos maiores especialistas mundiais no tema.
Mesmo quem nunca esteve relacionado ao problema optou pela prevenção. A produtora de alumínio Alcoa já suspendeu compras de um fornecedor ao saber que outra empresa do mesmo grupo havia sido incluída na lista suja do trabalho escravo pelo Ministério do Trabalho.
Na fabricante de material de construção Duratex, o aspecto social ganhou mais peso na seleção de seus 113 principais fornecedores. A distribuidora de energia Elektro, controlada pela espanhola Iberdrola, gasta mais de 2 milhões de reais anuais para analisar os 1.000 fornecedores.
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